'Hoje qualquer pessoa pode publicar e ser lida', diz escritor Eduardo Spohr

Autor é um dos jovens escritores brasileiros de fantasia/ficção mais importantes da atualidade.

25 AGO 2019 • POR • 10h03
Eduardo Spohr é autor dos best-sellers 'A Batalha do Apocalipse' e 'Filhos do Éden', e um dos escritores mais lidos dos últimos tempos. - DIVULGAÇÃO

Autor dos best-sellers 'A Batalha do Apocalipse' e 'Filhos do Éden', Eduardo Spohr, de 43 anos, é um dos jovens escritores brasileiros de ficção/fantasia mais lidos dos últimos tempos. Em entrevista à revista Época, Paulo Coelho elogiou Spohr dizendo que ele "é uma das estrelas desta geração de romancistas".

Em entrevista ao Diário, o escritor carioca falou sobre a ascensão das plataformas digitais de leitura, como influenciar os brasileiros a lerem mais, entre outros assuntos.

Vale lembrar que Spohr é um dos convidados do evento Tarrafa Literária, que acontecerá em Santos no final de setembro. Ele estará no Teatro Guarani no domingo, 29/09, a partir das 17h, conversando com fãs e com o público em geral. Confira a entrevista:

Diário do Litoral - Pesquisa recente do Instituto Pró-Livro mostrou que o brasileiro lê apenas 2,43 livros completos por ano. Em países desenvolvidos, como a França, este número vai à sete. Na sua opinião, por que os brasileiros têm dificuldade em inserir a leitura nos seus hábitos diários?

Eduardo Spohr - O Brasil é um país que ainda tem problemas de escolarização, mas dentro da parcela das pessoas que leem, os índices de leitura têm aumentado, em especial a procura por obras de ficção e fantasia. Considero essa uma boa notícia. As perspectivas são ótimas.

Diário - Em entrevista ao programa 'Conversa com Bial', o escritor Raphael Montes disse que considera alguns dos livros obrigatórios no ensino fundamental e médio no Brasil chatos e desagradáveis, o que acaba afastando muitas crianças e jovens da leitura. Você também concorda com isso?

Spohr - Creio que é preciso ficar atento ao que os jovens estão procurando. Os clássicos são importantes, mas apresentar, como opção, livros com temáticas mais ligadas à faixa etária da criança e/ou adolescente pode ser uma boa forma de incentivar a leitura.

Diário - Vivemos a era da informação e das plataformas digitais. Na sua visão, os mecanismos online para leitura em celulares ou tablets vão 'destruir' as livrarias físicas no Brasil?

Spohr - Não creio. São dois meios bastante diferentes. Um complementa o outro.

Diário - Como é o contato com seus leitores hoje? A internet ajudou muito nesse processo?

Spohr - O curioso é que a internet, ao invés de afastar as pessoas dos livros, acabou por aproximá-las do hábito da leitura. Blogs literários, redes sociais especializadas e mesmo as comunidades sobre livros nas redes sociais estão reunindo pessoas e divulgando obras. E eu espero que o interesse pela literatura cresça cada vez mais.

Diário - Você disse em uma entrevista ao portal 'Vai Lendo' que hoje em dia a autopublicação está mais acessível. Em que sentido e por quais motivos?

Spohr - Por conta das ferramentas online. Hoje, qualquer pessoa pode publicar seus escritos na web e ser lida. E, se surgir o interesse por cópias físicas, há as plataformas de financiamento coletivo. As alternativas são inúmeras.

Diário - Você começou com pouco dinheiro, mas alcançou uma venda significativa de forma independente. Como foi esse processo até você fechar contrato com uma editora?

Spohr - Terminei de escrever 'A Batalha do Apocalipse' em março de 2005 e decidi enviar o original para as editoras. Para causar uma boa impressão, rodei 30 exemplares em formato de livro mesmo, com capa e miolo, em uma gráfica que imprimia pequenas tiragens: a Fábrica de Livros do Senai, no Rio. Na época, a Fábrica estava com um concurso: era preciso deixar três exemplares para avaliação e o vencedor ganharia 100 livros produzidos por eles. Eu tinha pouco dinheiro e não poderia dispensar três livros dos 30 que tinha pagado, mas mesmo assim resolvi arriscar e acabei premiado. Esses primeiros 100 livros, adquiridos a custo zero, foram comercializados em 2007 pela NerdStore. As cópias venderam todas muito rapidamente, e usamos o dinheiro para produzir mais 500 livros, que também foram vendidos em menos de 2 meses.

A jornada não acabou por aí. Após vender, em setembro de 2007, 600 cópias pela internet, eu achava que tinha um grande case, e tentei vender a ideia para as editoras, mas nenhuma se interessou, nem as pequenas. Foi só em 2009, quando fizemos uma segunda tiragem de 'A Batalha do Apocalipse' pela NerdStore - agora produzindo 4.000 cópias - que a repercussão nas redes sociais chamou a atenção da editora Verus. Em 2010, enfim, o livro foi lançado pelo Grupo Editorial Record e distribuído nas livrarias de todo o Brasil.

Diário - É possível viver de direitos autorais no Brasil?

Spohr - Depende de seu índice de vendas. Mas mesmo os autores que não têm uma vendagem tão alta podem viver, sim, de literatura, ministrando cursos, realizando venda direta para os governos, escrevendo traduções e dando palestras. Escrever é uma profissão que, como todas as outras, requer tempo, investimento e muita dedicação.