'Arranca a cabeça e deixa pendurada', gritam PMs diante de governador do PA

Tratava-se de uma comemoração pelos 13 anos do Batalhão de Polícia Tática (BPOT), mais conhecido como Rotam, em Belém.

3 AGO 2019 • POR • 15h16

Em cerimônia com a presença do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB-PA), a unidade de elite da PM gritou, em coro: "Arranca a cabeça e deixa pendurada/É a Rotam patrulhando a noite inteira/pena de morte à moda brasileira".

O evento, na última quarta-feira (31), ocorreu dois dias depois que um massacre no presídio de Altamira (830 km a sudoeste) ter deixado 58 mortos, dos quais 16 decapitados, em meio a uma disputa entre facções rivais. Outros quatro morreram durante a transferência para Belém, dentro de um caminhão.

Tratava-se de uma comemoração pelos 13 anos do Batalhão de Polícia Tática (BPOT), mais conhecido como Rotam, em Belém.

Com 290 policiais, eles são acionados em casos de rebeliões, assaltos com refém, grandes assaltos e combate ao narcotráfico.

Procurado pela reportagem da Folha, Helder Barbalho informou, via assessoria de imprensa, que "não vai se manifestar sobre este fato".

O Pará atravessa uma crise de segurança pública, principalmente em Belém, onde milícias ligadas a policiais militares disputam território com facções criminosas. Em maio, uma chacina com 11 mortos foi planejada por quatro PMs, segundo investigação da Polícia Civil.

"A Constituição expressamente proíbe a pena de morte. Ver funcionários públicos não apenas negligenciando sua obrigação de proteger vidas humanas, mas de fato celebrando tamanha atrocidade é repugnante e uma demonstração ultrajante de total desrespeito pela vida humana. O governador do Pará e as autoridades em geral precisam denunciar fortemente essa atitude", afirma Maria Laura Canineu, diretora do escritório da Human Rights Watch no Brasil.

"É completamente inadequado. Mostra uma polícia pouco profissional, que não tem preocupação técnica e promove a barbárie", afirma o professor da FGV-SP Rafael Alcadipani, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"O Estado trata a segurança pública, um problema grave, como se fosse uma mera questão de matar e morrer", diz Alcadipani. "Um governo aceitar que isso aconteça diante dele mostra que não tem comando. E, se tiver, é de uma polícia que promove a barbárie."