Fora do clichê, cinema nacional desponta

Apesar das dificuldades que as produtoras cinematográficas brasileiras vêm enfrentando com verba no cenário atual e na divulgação da cultura, a produção de filmes nacionais cresce cada vez mais.

14 JUL 2019 • POR • 07h07
Turma da Mônica - Laços foi uma das estreias mais aguardadas. - DIVULGAÇÃO

*Por Natalia Cuqui

Apesar das dificuldades que as produtoras cinematográficas brasileiras vêm enfrentando com verba no cenário atual e na divulgação da cultura, a produção de filmes nacionais cresce cada vez mais e os roteiros estão versando sobre diversos assuntos, cada vez mais informativos e críticos.

A principal estreia nacional da semana infelizmente ainda não chegou nos cinemas da Baixada Santista, mas tem dado o que falar. O personagem principal de "Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar" é o próprio diretor do documentário, Marcelo Gomes, que faz sua estreia no mundo do cinema falando das transformações do mundo do trabalho e da sua infância na cidade de Toritama, em Pernambuco. O filme inclusive teve participação no Festival de Cinema de Berlim.

Considerada um centro ativo do capitalismo local, mais de 20 milhões de jeans são produzidas anualmente em fábricas caseiras da cidade e exportadas para todo o país. Orgulhosos de serem os próprios chefes, os proprietários destas fábricas trabalham sem parar em todas as épocas do ano, menos no carnaval: quando ele chega, os comerciantes vendem tudo que acumularam e descansam em praias paradisíacas da região.

Rodrigo Lombardi foi o protagonista do filme que estreou na semana passada, junto com Turma da Mônica - Laços, mas também não chegou nas nossas telas. Em "O Olho e a Faca", ele interpreta um trabalhador de base de petróleo que passa longos meses afastado da esposa e dos filhos. Nos momentos de distância, inicia um relacionamento com outra mulher. Um dia, Roberto recebe uma promoção no emprego que o torna ainda menos presente. O longa participou da 42ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e é dirigido por Paulo Sacramento.

Junto com ele, também estreou "Divino Amor", com Dira Paes interpretando uma escrivã profundamente religiosa e devota à ideia da fidelidade conjugal, tentando fazer casais desistirem de se divorciar. Ela está à espera de um filho como reconhecimento, mas ele não chega e ela acaba enfrentando seus próprios problemas conjugais. O filme se passa em um Brasil de 2027, onde a maioria da população é evangélica mas o Estado afirma ser secular.

Gabriel Mascaro, diretor do filme, também é o responsável pelo filme "Boi Neon", que mostra um vaqueiro de curral que viaja pelo Nordeste trabalhando em vaquejadas. Seu maior sonho é largar tudo e começar uma nova carreira na moda como estilista no Polo de Confecções do Agreste.

O longa foi muito elogiado inclusive fora do país e teve sua estreia mundial no famoso Festival de Veneza. No Festival de Cinema do Rio, ele saiu com quatro prêmios. No Festival de Marrakech, recebeu o prêmio de melhor diretor entregue pelas mãos do diretor Francis Ford Coppola, um dos júris do festival.

Com o longa, o diretor foi até o Festival de Berlim, onde Dira Paes afirmou "não quero ser xingada, quero que as pessoas discutam". O filme, que tem censura para 18 anos, também não estreou na Baixada Santista e seguiu para diversos outros festivais.

Já na semana que vem, os diretores Rafael Machado e Gabriel Correa e Castro se reúnem para falar de um acidente que chocou o Brasil: o desabamento de parte do Edifício Palace, no Rio de Janeiro. Em 1998, o conhecido prédio Palace II sofreu um desabamento em pleno Carnaval, deixando 8 mortos e quase 200 famílias desabrigadas. Considerado um dos maiores desastres na história da engenharia civil brasileira, até hoje alguns dos culpados não foram punidos pelo descaso.

Quase 20 anos depois, o documentário "Palace II - 3 Quartos Com Vista pro Mar" conta essa história por outra perspectiva, o olhar dos ex moradores do prédio da Barra da Tijuca. Na época, foi cogitado que as estruturas do prédio foram construídas com materiais de má qualidade, como garrafas pet e até mesmo areia da praia. O engenheiro responsável, Sérgio Naya, inclusive conseguiu ser eleito deputado federal, e ainda chegou a culpar os moradores pelo desastre alegando que o excesso de carga no edifício teria sido o real causador da tragédia.