Daniel Filho critica governo Bolsonaro e falta de apoio ao cinema: 'Brasil não é de idiotas'

"Ah pegou R$ 4 milhões para fazer um filme. Não, eu não peguei R$ 4 milhões e comprei um apartamento. Esse dinheiro rodou, está rodando, tem gente trabalhando, pagando imposto, isso está sendo tributado", disse.

16 JUN 2019 • POR • 21h22
O diretor, ator e produtor Daniel Filho. - Reprodução/Divulgação/Globo

O diretor, ator e produtor Daniel Filho, 81, não tem dado entrevistas nos últimos anos, mas resolveu abrir uma exceção à Folha de S.Paulo por causa do "momento atual brasileiro". O tema da reportagem era os 40 anos de "Malu Mulher", mas em pouco mais de uma hora de conversa, ele fez questão de abordar outros assuntos como o cinema brasileiro, a paralisação da Ancine e os novos rumos da televisão brasileira.

Opositor ao presidente Jair Bolsonaro, Filho não poupou críticas às políticas do atual governo. "Todos nós [artistas e produtores culturais] estamos parados, sofrendo diante dessa imbecilidade reinante."

Responsável por sucessos da televisão e do cinema, como as séries "Confissões de Adolescente" (1994-1995) e "A Grande Família", e o filme "Se Eu Fosse Você" (2006), o diretor destacou a importância da classe artística não perder a esperança e continuar batalhando para "acender uma vela quando há uma escuridão". "Essa é uma obrigação nossa." Ele também destacou a importância da imprensa no atual cenário político.

"O Brasil não é de idiotas. Se fosse de idiotas não tínhamos feito tudo que fizemos. O cinema brasileiro não é idiota, a televisão brasileira não é idiota", afirma ele, em clara referência ao discurso de Bolsonaro que chamou de "idiotas úteis" os estudantes que se manifestaram em todo o país contra os cortes da educação.

Filho afirma que está com dois filmes prontos para lançar: uma nova versão do longa "Boca de Ouro" (1963), baseado na peça de Nelson Rodrigues (1912-1980) sobre um poderoso chefe do jogo do bicho; e o policial "Silêncio da Chuva". Mas a situação da Ancine (Agência Nacional do Cinema), que anunciou em abril a suspensão de novos recursos para bancar projetos, o preocupa. "Tenho esses filmes, mas estou esperando que porra vai acontecer com a Ancine parada desse jeito", reclamou.

Para ele, a paralisação da agência de fomento provoca impacto em toda a indústria cinematográfica e nos trabalhadores envolvidos no setor. "Ah pegou R$ 4 milhões para fazer um filme. Não, eu não peguei R$ 4 milhões e comprei um apartamento. Esse dinheiro rodou, está rodando, tem gente trabalhando, pagando imposto, isso está sendo tributado [...] Se levantar o número de imposto que a gente paga, a gente devolve mais dinheiro do que supostamente nos é dado."