Marmiteiros fazem sucesso na Alemoa

Pequenos empreendedores aproveitam o intenso fluxo de caminhões para oferecerem refeições aos caminhoneiros.

16 MAR 2019 • POR • 10h33
Lucélia conseguiu comprar a sonhada casa própria, após um ano vendendo marmita aos caminhoneiros - Nair Bueno/DL

De segunda a sábado, Lucélia Segoia acorda às 4h para cozinhar. O menu varia todos os dias. Por exemplo: na quinta tem pernil e cupim; na sexta é a vez da almôndega, frango assado ou parmegiana. Ao fim do preparo, as refeições são divididas caprichosamente em tradicionais marmitas de alumínio e organizadas em um isopor para serem levadas até o bairro Alemoa.

É no acostamento de uma das principais vias de escoamento de cargas do Porto de Santos que Lucélia estaciona, abre o porta-malas e levanta a placa de isopor que anuncia o farto menu por apenas R$10, com suco!

Em apenas três horas, das 10 às 13h, ela bate a meta ao vender 100 marmitas. É assim há um ano e meio, desde que foi demitida de uma escola onde trabalhava como cozinheira.

"Peguei o dinheiro da rescisão e investi. Comprei fogão, freezer, tudo industrial, para poder cozinhar grandes quantidades. Comprei minha casa em pouco tempo com esse trabalho", diz Lucélia.

O genro, que antes era funcionário em uma empresa no porto, decidiu pedir as contas para trabalhar com a sogra. "Compensa mais", explica.

A dupla não é a única a ver oportunidades de trabalho informal no bairro industrial. Em um longo trecho do acostamento é possível ver os 'marmiteiros da Alemoa' anunciando suas fartas refeições a preços populares.

Cipriano do Espírito Santo, 63 anos, é dono de um pequeno restaurante na Rua Frei Gaspar, em São Vicente. Segundo conta, nos últimos anos a concorrência aumentou e o comércio perdeu clientes.

Até que um amigo caminhoneiro lhe falou sobre a venda de marmitas no bairro e ele decidiu tentar. "Hoje, minha esposa fica no restaurante e eu venho pra cá. Vendo cerca de 40 refeições, mas quando tem safra da soja a demanda aumenta bastante, dá pra tirar um dinheirinho", brinca.

Mudança de carreira

Cíntia de Lima vende marmitas pelo cais há um ano. Começou oferecendo aos trabalhadores do OGMO (Órgão Gestor de Mão de Obra) e há um mês passou a vender também aos caminhoneiros.

Mas, para ela, a decisão de virar cozinheira não foi fácil. Cíntia era dona de uma financeira que operava com bancos. Com o tempo, não conseguiu manter a empresa e precisou fechar. O desânimo tomou conta e por três meses viu a vida passar sem saber o que fazer. Até que a filha deu a ideia das marmitas.

"Não queria porque nunca gostei de cozinhar. Mas, Deus tocou meu coração, e hoje tenho o maior prazer no que faço. Capricho no menu! Faço salada com azeitona, vinagrete. Por enquanto, estou na média de 20 marmitas diárias, mas sei que vou crescer", diz uma das 52 milhões de pessoas que engrossam o número de empreendedores do país.