Produtividade da economia ficou estagnada em 2018

Em 2017, houve alta de 1%, após três anos consecutivos de perdas

11 MAR 2019 • POR • 14h25
Levantamento foi divulgado em reportagem da edição desta segunda-feira, 11, do jornal O Estado de S. Paulo - Agência Brasil

Em meio a um cenário de recuperação ainda lenta da atividade e de aumento no número de pessoas trabalhando na informalidade, a produtividade da economia brasileira ficou estagnada em 2018, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) obtido com exclusividade pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Conforme reportagem divulgada na edição desta segunda-feira, 11, do jornal O Estado de S. Paulo, a produtividade da economia por hora trabalhada não se alterou no ano passado, interrompendo o início de recuperação ensaiado no ano anterior, após o fim da recessão. Em 2017, houve alta de 1%, após três anos consecutivos de perdas. 

"Em 2017 a recuperação da produtividade começa a perder fôlego e de fato piora em 2018", apontou Fernando Veloso, pesquisador do Ibre. "O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2017 e 2018 foi igual, de 1,1%. A produtividade, não. Na verdade, em termos de produtividade, não foi só estagnar, piorou, foi mais forte ainda", completou o autor do estudo.

A precarização do emprego, com o fechamento de vagas com carteira assinada e o avanço no número de pessoas na informalidade, pode ajudar a explicar a interrupção da trajetória de melhora na produtividade. Veloso lembra que o setor formal tem, em média, quatro vezes mais produtividade do que o informal.

"O setor formal utiliza tecnologias mais avançadas, emprega trabalhadores de nível educacional mais elevado e tem mais acesso a crédito. As empresas que são mais produtivas estão no setor formal", acrescentou Veloso.

Hoje, o patamar de produtividade da economia brasileira por hora trabalhada está no nível de 2012 e 2,7% abaixo do pico alcançado no primeiro trimestre de 2014. Se considerada a produtividade da economia por trabalhador ocupado, a situação é mais crítica: 5% aquém do pico também alcançado no primeiro trimestre de 2014, porque a crise no mercado de trabalho fez encolher também o número de horas trabalhadas.

"O trabalho informal não é produtivo e tem efeitos colaterais sob vários aspectos. Por exemplo, um jovem que sai da faculdade e não consegue emprego na sua área de conhecimento vai vender roupa, trabalhar no comércio. Ele vai ter dificuldade de voltar para a sua área depois", disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Recorde

Azeredo aponta que o Brasil tem até 40 milhões de trabalhadores atuando na informalidade, nível recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O estudo da FGV sobre produtividade foi feito a partir de informações do mercado de do cruzamento trabalho, apuradas pela Pnad Contínua, com os resultados da economia levantados pelas Contas Nacionais Trimestrais, também divulgados pelo IBGE.

O levantamento mostra que o mau desempenho da produtividade no ano passado foi puxado pelo setor de serviços, que teve queda de 0,6% na produtividade por hora trabalhada, o quinto ano seguido de retração. Na agropecuária, a produtividade cresceu 1,1% em 2018, enquanto na indústria subiu 1,3%.

O setor de serviços é intensivo em mão de obra, responsável por cerca de 70% das horas trabalhadas no País, além de ser marcado também por vínculos de emprego informais, lembrou o pesquisador do Ibre/FGV.

No caso da agropecuária, o desempenho da safra agrícola, muito ligado a questões climáticas, explica o comportamento mais errático ao longo dos anos. Já a indústria - segmento que utiliza mais tecnologia e mecanização, com trabalhadores mais qualificados e presença mais forte da carteira de trabalho assinada - enxugou empregos e horas trabalhadas nos últimos anos Isso fez com que mantivesse resultados melhores entre os grandes setores da economia, embora também tenha perdido fôlego

Fernando Veloso defende a necessidade de aprovação da reforma da Previdência como medida mais urgente para garantir um desempenho melhor da produtividade em 2019, mas enumera outras mudanças necessárias, como nas áreas tributária e trabalhista.

"A gente precisa de reformas que tornem o ambiente mais favorável para a geração de empregos nas empresas mais produtivas. Em cada setor existem empresas que são muito mais produtivas que outras, mas elas não estão gerando empregos necessários para fazer crescer a produtividade", disse Veloso.

Para José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a produtividade poderia ser alavancada no curto prazo com investimentos em tecnologia. "No médio prazo, a opção seria investimento em infraestrutura, como rodovias, ferrovias. Uma maior abertura da economia também poderia ter um impacto grande, com as empresas tendo que se modernizar para serem mais competitivas."