Busca por autodefesa tem crescido entre as mulheres

Krav Maga, arte marcial que ensina maneiras de usar a força do oponente contra ele mesmo, atrai público feminino

8 MAR 2019 • POR • 09h00
No início das aulas, duas mulheres treinavam com Carolina. Hoje, o número de alunas passa de dez - Nair Bueno/DL

Há cerca de nove anos, Carolina de Almeida foi surpreendida por um homem em uma rua da cidade de Praia Grande. Ele a agarrou por trás e a suspendeu do chão. Para se livrar, Carolina se debateu o quanto podia e conseguiu golpear com a própria cabeça o queixo do homem. Ele bambeou, a soltou no chão e ela correu. Correu o quanto podia para escapar de um estupro e salvar a própria vida.

O terrível momento passou, mas os traumas não. O medo e as lembranças tornaram o costumeiro ato de sair na rua, impensável.

"Não conseguia mais andar sozinha nem para ir ao trabalho. Fiz muitas sessões de terapia, mas nada ajudava. Então comecei a pesquisar na internet maneiras de me defender e achei o Krav Maga".

Krav o que?

"Esta é a pergunta que quase todo mundo faz quando ouve pela primeira vez o nome da arte marcial israelense que ensina defesa pessoal", diz Carolina, hoje a primeira mulher a se tornar instrutora da modalidade no Brasil.

Ela garante que a prática é a mais efetiva para mulheres que querem aprender como se defender. Nas aulas são ensinadas técnicas de torção, quebramento, defesa contra estrangulamento, pegada no cabelo, e até mesmo como um dedo no olho ou na garganta é capaz de impedir o agressor.

"O Krav Maga promove qualidade de vida através da segurança que a mulher sente ao saber que consegue se livrar de qualquer coisa que coloque a vida dela em risco".  Com dedicação, em seis meses é possível ter noção de como agir em uma situação perigosa.

No Brasil, a busca pela modalidade ainda é maior por parte dos homens, mas a presença feminina nos tatames tem crescido, afirma Carolina.

Medo de ataques é o principal motivo

A Reportagem acompanhou uma aula de Krav Maga e conversou com as mulheres que treinam com Carolina. Quase todas optaram pela modalidade após sofrer alguma tentativa de violência urbana.

Roberta Nachif, adepta há um ano, decidiu aprender a técnica depois que um homem a agarrou, em pleno dia, no bairro Pompeia, em Santos. Ela escapou, mas o episódio a levou ao tatame.

A engenheira Mayla Diotti, 31 anos, entrava de madrugada em uma empresa no Porto de Santos. "Era a responsável por abrir o escritório. Comecei a ficar com medo e um amigo me indicou a aula".

Já Alessandra Rodrigues começou a treinar depois que a filha, Fernanda Rodrigues, de 16 anos, brigou na escola. "Ela quis aprender para não passar mais pela mesma situação e eu vinha acompanhar. Gostei tanto que comecei a fazer também. Adoro, a gente muda até a nossa postura na rua, fica mais atenta".