O açúcar está ‘escondido’ nos alimentos, diz especialista

Nutricionista Vanessa Borelli fala sobre o acordo assinado pelo Brasil para reduzir o nível de açúcar em produtos industrializados.

10 FEV 2019 • POR • 14h18
A nutricionista Vanessa Borelli. - Rodrigo Montaldi/DL

O Brasil assinou em novembro um acordo com os representantes das indústrias de alimentos para reduzir toneladas de açúcar de bolos, misturas para bolos, produtos lácteos, achocolatados, bebidas açucaradas e biscoitos recheados até 2022. Ao estabelecer a meta, o Brasil se destaca como um dos primeiros países do mundo a buscar a diminuição do açúcar nos alimentos industrializados. O acordo segue o mesmo parâmetro do feito para a redução do sódio, que foi capaz de retirar mais de 17 mil toneladas de sódio dos alimentos processados em quatro anos.

A ideia é reduzir o consumo em 144 mil toneladas, o que representa 62,4% do açúcar presente nos produtos atualmente. Para conversar sobre os impactos da medida na saúde, o Diário conversou com a nutricionista Vanessa Borelli. Confira a entrevista.

Diário do Litoral – Na prática, quais mudanças deverão ocorrer?
Vanessa Borelli – É preciso existir a mudança, como já o ocorreu com a redução do sódio. E que não tenha substituição do açúcar por diversos adoçantes ou gorduras. O açúcar não tem nutrientes e é conhecido como caloria vazia: ele é digerido rapidamente no organismo e dessa forma provoca um aumento nos níveis de glicemia, aumentando o acúmulo de gordura nas células. Além da diminuição, é fundamental que o rótulo do alimento seja completo, pois é nele que estão as informações referentes ao produto que o indivíduo está adquirindo, e ele precisa ter essas informações para poder escolher qual alimento é melhor ou não. O órgão responsável pela regulação da Rotulagem no Brasil é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Diário – Quais informações presentes nos rótulos devem ser analisadas com atenção pelo consumidor?
Vanessa – Lá contém informações como conservação, preparo, composição (ingredientes que contém), validade e também informações como o valor calórico, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, colesterol, fibra alimentar, cálcio, ferro e sódio. Devemos prestar bastante atenção na lista de composição, pois os ingredientes que aparecem em primeiro na lista são aqueles que estão em maior quantidade no alimento. Também precisamos nos atentar na quantidade da porção (na tabela as calorias mostradas se referem a uma determinada porção do produto, não a embalagem toda);  calorias (que não e a primordial, mas é preciso prestar atenção para ter consciência do alimento ou para aquelas pessoas que fazem dieta com restrição ou contagem de calorias); fibras (pois elas são ótimas para redução dos níveis de colesterol e açúcar do corpo, auxiliam na flora intestinal e o ideal é que contenha 3 gramas a cada 100 gramas do alimento); gordura saturada (que é a responsável por aumentar o colesterol “ruim” no nosso organismo, o LDL, sendo que o limite diário recomendado é de 20 gramas por dia) e no sódio (o qual está presente em quase todos os alimentos industrializados e seu excesso acarreta retenção de líquido no corpo causando inchaço e pressão alta. O consumo diário de sódio pela Organização Mundial da Saúde não deve ultrapassar 2 g).

Diário – A medida representa um avanço? 
Vanessa – Sim, um avanço muito válido. Pois os alimentos industrializados ainda estão presentes na casa das pessoas. Boa parte do açúcar consumido está escondida em alimentos processados como temperos, refeições prontas, sucos industrializados e refrigerantes. Acredito que não seja o suficiente, mas já representa uma boa melhora.

Diário – Quais são os alimentos com maior quantidade açúcar?
Vanessa – O açúcar não está presente só nos alimentos doces. É possível encontrar açúcar no macarrão, molhos para saladas, molho de tomate, catchup, cerveja, refrigerante, barrinhas cereais, biscoitos integrais, pães, cereais matinais, arroz e bebidas lácteas por exemplo. Ingredientes como maltodextrina, frutose, dextrose, xarope de glicose, xarope de milho são utilizados em diversos produtos e gera o mesmo efeito que o açúcar refinado ou branco. 

Diário – O excesso de açúcar pode causar quais problemas e doenças?
Vanessa – O excesso de açúcar é uma das principais causas de diabetes e o consumo em longo prazo pode levar a um quadro de obesidade, aumento da gordura visceral, problemas hepáticos, câncer e doenças ­cardiovasculares. 

Diário – Qual o consumo ideal de açúcar regulamentado pela OMS?
Vanessa – A OMS recomenda uma baixa ingestão de açúcares ao longo da vida, tanto em adultos como em crianças. O ideal seria uma ingestão menor de 5% da ingestão calórica total ao dia.

Diário  – É preciso falar sobre educação nutricional desde cedo para mudar esse cenário?
Vanessa – É muito importante a abordagem da educação nutricional desde a fase pré-escolar. O conhecimento e a conscientização deveriam começar cedo, dessa forma seria muito mais fácil termos pessoas com melhores hábitos alimentares.