Site entrega últimos desejos registrados em vida à família

O empresário Mário Cassio Maurício teve a ideia de criar o serviço após a perda inesperada do pai

2 NOV 2018 • POR • 08h20
Dia de Finados é uma data de recolhimento e saudade, de prestar homenagens a quem já partiu - Rodrigo Montaldi/Arquivo DL

Dia de Finados é uma data de recolhimento e saudade, de prestar homenagens a quem já partiu. Mas, e se o ente querido deixasse, em vida, mensagens reconfortantes gravadas para os que o amam para aliviar a saudade e a tristeza após sua partida? Ou mesmo para simplesmente deixar registrado o seu último desejo?

Com esse objetivo, um empresário paulista criou o site ‘Meu Último Desejo’ (meuultimodesejo.com.br).
O empresário Mário Cassio Maurício teve a ideia de criar o serviço após a perda inesperada do pai.

“Quando o meu pai faleceu, me senti completamente perdido para solucionar as questões do enterro e as burocracias que a morte traz. Além disso, quando eu ouvi a voz do meu pai na sua antiga secretária eletrônica há quatro anos após sua morte me trouxe uma alegria inesperada, por isso pensei em criar um serviço para transformar um pouco esse momento da perda na vida das pessoas”, diz o empresário.

“Certamente vamos embora sem dizer tudo o que temos para contar para as pessoas que amamos e o ato de gravar essas mensagens carinhosas e até mesmo esses dados burocráticos, reforça a nossa reflexão em relação ao que o outro representa em nossa vida, fazendo com que exista uma valorização maior nas relações e os momentos sejam vividos de uma forma mais intensa em vida”, analisa Mário.

O site ‘Meu Último Desejo foi criado em agosto deste ano, “com o propósito de registrar orientações gerais para a família e amigos e salvar documentos importantes em vídeo, áudio, fotos e textos, para as pessoas que amamos, mas ela se tornou muito mais do que isso. Se transformou numa ferramenta que permite com que as pessoas façam uma reflexão, ainda em vida, sobre seus últimos desejos. Afinal, o momento da morte é sempre delicado demais e as pessoas que ficam, passam por um período delicado de luto e muitas burocracias”, afirma.

O site possui uma tecnologia inteligente, onde os dados ficam armazenados de uma forma segura e criptografados (conjunto de regras que visa codificar a informação, onde apenas o emissor e o receptor recebem em um formato com visibilidade de leitura). Por isso suas informações pessoais, orientação em relação às preferências de como será o enterro, distribuição da herança, suas mensagens para seus filhos, amigos e parentes estarão seguras e somente repassadas após a sua passagem. Cada assinante possui dois tutores, para que após a morte eles autorizem o início do envio das mensagens para as pessoas que foram definidas pelo contratante.

O serviço é oferecido por meio de assinatura, onde a pessoa paga o valor de R$ 2,99 por mês, com direito a 500mb de espaço para fotos, vídeos, arquivos de texto, mensagens de voz e o disparo de cada mensagem no momento determinado pelo contratante, para os contatos por ele cadastrados. Outra opção é o Plano Familiar, custa o valor mensal de R$ 5,98, agregando até três dependentes por plano, que dispõe dos mesmos benefícios que o individual para cada pessoa. Não existe um limite de pessoas no total, mas cada mensagem pode ser enviada a até 15 pessoas.

De acordo com o empresário, a plataforma possui mais de 500 cadastros, sendo a maioria do estado de São Paulo.

Segundo dados das Organizações das Nações Unidas (ONU), 53 milhões de pessoas morrem por ano, impactando significativamente em média 10 pessoas próximas, resultando em um total de 530 milhões de pessoas envolvidas emocionalmente todos os anos com a morte de uma pessoa querida.

‘Cada um reage diferente à perda de um ente querido’, diz Regina Canada

A psicóloga Regina Canada afirma que não existe uma fórmula exata para lidar com a dor da perda. Cada um reage diferente à morte. Regina diz que o site ‘Meu Último Desejo’ é uma iniciativa interessante, mas que nem todos vão reagir positivamente ao receber mensagens deixadas em vida que serão entregues após a morte do ente querido.

“É preciso respeitar o período de luto que varia de pessoa para pessoa. É preciso viver o luto que pode levar seis meses ou até anos após a perda de um ente querido. Trato paciente que enfrenta quatro anos de luto. No caso, é uma mãe que perdeu a filha, que tinha 30 anos de idade e sofria de diabetes”, afirma Regina.

“Uns aceitam melhor a morte, aprendem a administrar a saudade, outras pessoas não se conformam e sofrem por anos. Por isso, enquanto que para algumas pessoas receber mensagens póstumas possa ser reconfortante, para outras pode ser muito doloroso”, explica a terapeuta.