Papo de Domingo: A saúde vista pelos olhos da espiritualidade

Maurício Zomignani lançou ontem no centro espírita Semente de Luz, em São Vicente, seu quarto livro dentro do segmento espiritualista

21 OUT 2018 • POR • 07h45
Maurício explica como os preconceitos e sentimentos de culpa, raiva e tristeza interferem na saúde espiritual - Rodrigo Montaldi/DL

O assistente social e palestrante Maurício Zomignani lançou ontem no centro espírita Semente de Luz, em São Vicente, seu quarto livro dentro do segmento espiritualista. Desta vez, “Símplice: a saúde segundo Jesus”, fala sobre como a visão do que é ter saúde se amplifica quando aprofundada pelos conceitos espirituais. É a segunda obra de Maurício produzida pela editora santista Ateliê de Palavras.

Para escrevê-lo, o autor se baseou no “Evangelho Segundo Lucas”. “Naquele tempo, Lucas era considerado médico pela sociedade, então ele tem uma maneira de contar a história com um ponto de vista mais voltado para a questão da saúde. Estudei versículo por versículo para interpretar que visão cada um deles têm a respeito desse assunto. O livro é uma avaliação da saúde do ponto de vista espiritual”, diz.

Além dos detalhes de seu novo trabalho, Maurício explica como os preconceitos e sentimentos de culpa, raiva e tristeza interferem na saúde espiritual, opina sobre a polarização política que estremeceu as bases da Doutrina Espírita, e analisa o cenário da eleição presidencial de 2018.

DL – O que é saúde?

Maurício – A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem, desde meados de 1989, um conceito de saúde que ninguém executa: ele diz que Saúde é o completo bem estar biopsicossocial e espiritual, ou seja, ter saúde não é apenas não ter doenças, como dizem os médicos. Se o órgão máximo de saúde do mundo tem uma proposta que não é executada, nós estamos no meio de um problema, já que seguimos sem encontrar serviços que atendam a este conceito. Desse quadripé - bio psico social e espiritual -, a região menos avançada quando se fala em cuidar da saúde espiritual é o Ocidente. Por isso devemos promovê-la melhor aqui e é nessa lacuna que o livro tenta ser uma pequena contribuição.

DL – E como você fala sobre isso no livro?

Maurício – Explicando que o corpo só adoece quando o espírito está doente. É como se o corpo fosse um material fotográfico que revela o que tem no filme. Ou seja, a doença física é a revelação de uma desarmonia espiritual. Por isso o livro mostra a importância de olhar a saúde integrando a parte física, mental e social, baseado no evangelho de Jesus pela versão de Lucas.

DL - Por que Lucas?

Maurício - O legado de Jesus está em quatro evangelhos: Matheus, Marcos, Joao, e Lucas. Escolhi Lucas porque ele era considerado médico naquele tempo, então tem uma maneira de contar a mesma história dos outros três com um ponto de vista mais voltado para a saúde. Estudei versículo por versículo para interpretar que visão cada um deles têm a respeito da saúde mental, espiritual, social, e como isso se reflete na saúde física.

DL – Mas todas as doenças vêm do espírito?

Maurício – Sim, a própria ciência já provou que existe uma série de doenças reconhecidas como psicossomáticas. Quando olhamos pela questão reencarnacionista entendemos que atitudes desarmônicas deformam o corpo espiritual. O corpo espiritual é a forma do bolo, é a matriz que depois vai moldar o corpo físico e aí ele transmite essa desarmonia que estava no corpo espiritual para o corpo físico.

DL – Até uma gripe passageira?

Maurício – Se a pessoa está harmonizada, confiante, tranquila, o sistema imunológico dela é muito forte, ao contrário de uma pessoa deprimida, negativista, desesperançada. Então uma gripe é também uma desarmonia que surge em um momento de dúvida, de crise, de angústia e isso baixa o sistema imunológico e aí sem perceber, capta. Algumas atitudes imprudentes também geram a doença. Por exemplo, mesmo com a ameaça de mudar o tempo a pessoa sai de casa sem agasalho. O que está por trás disso? A arrogância, o orgulho, que no fundo são matrizes espirituais.

DL – Existem sentimentos mais propícios a adoecer o corpo?

Maurício – Guardar mágoa, culpa, medo, preconceitos, são sentimentos que adoecem e apequenam. Por exemplo, quem acha que paulistas são melhores que nordestinos, que pela sua condição social, religiosa ou cor, você é melhor do que o outro, a intolerância, sentimentos que, infelizmente, estão em alta de novo.

DL – Desde que a corrida presidencial começou páginas voltadas ao espiritismo nas redes sociais mostram que houve um racha político na religião, envolvendo até expulsões de quem se posiciona contra ou a favor de determinado candidato. Como avalia isso?

Maurício – O espiritismo é uma religião típica da classe média e a classe média tradicional se sentiu invadida por alguns movimentos da história recente, principalmente pela ascendência e ocupação da classe pobre em espaços onde antes eram exclusivos da classe média...

DL - Mas se a pessoa segue o preceito espírita ela deveria ficar feliz com isso, certo?

Maurício – Deveria, mas... A classe média, no geral, se melindrou em repartir a faculdade, o shopping, o avião com quem é mais pobre, e o espiritismo não ficou imune a isso, por quê? Porque o processo religioso é complexo. Eles te colocam um modelo que é inalcançável, que é Jesus. Então, na dificuldade em ser como Ele, eu apenas aparento só que aos olhos de Jesus isso é hipocrisia. Como cobrar dos outros, atitudes que você mesmo não pratica?

DL – E como lidar com as nossas hipocrisias?

Maurício – Assumindo nossa incompletude, a nossa estupidez e ignorância, o que é muito difícil de fazer, mas Jesus falou que o primeiro passo para avançarmos espiritualmente é a humildade. A gente se complicou muito e é aí que entra o nome do livro: a saída é a simplicidade.

DL – Está faltando empatia?

Maurício – A doutrina de Kardec mostra que a Lei de Causa e Efeito está submetida à Lei do Amor, então não podemos usar como desculpa que não se pode fazer nada pelo sofrimento alheio. Cada pobre, cada excluído, cada pessoa violentada à sua frente é um convite à sua solidariedade, porque segundo Jesus a Lei Máxima é a Lei do Amor. A empatia é um convite para que a pessoa saia de seu ego e se coloque no lugar do outro, é uma grande ponte. Mas, infelizmente, pelo egoísmo acabamos usando o argumento que quem sofre é por vontade de Deus e não se pode fazer nada.

DL – Como analisa essa eleição para Presidente do Brasil?

Maurício – Acho que Haddad e Bolsonaro fazem parte de um processo que o Brasil precisa passar. É como se fosse uma vacina, uma dose de doenças para que possamos ficar mais fortes no futuro. E por que digo isso? Imagina o seguinte: para que você cure as suas doenças é preciso que elas sejam diagnosticadas, certo? É possível fazer um tratamento sem diagnóstico? Não. Então acredito que Haddad e Bolsonaro são contrastes que estão sendo injetados no corpo do Brasil para que os problemas apareçam, sejam diagnosticados e curados. Todos nós precisamos amadurecer e assumir o leme. Esta eleição será didática.

DL – E qual a sua opinião sobre os dois candidatos?

Maurício – Os dois não são as melhores opções, e seja lá quem entrar, nós precisaremos vigiar muito. Está claro que o país não precisa de um esquema de corrupção sistêmico, mas também não precisa de alguém que desrespeita as pessoas e que ameaça a democracia. O Bolsonaro, com seus ódios, estimula outros ódios e intolerâncias a aflorarem porque o senso ético dos seus seguidores ainda não está maduro.

DL – Que recado você daria para quem está preocupado com os próximos quatro anos?

Maurício - O recado que a reencarnação dá para todos nós: brancos, vocês já foram negros; homens, vocês já foram mulheres; ricos, vocês já foram pobres. Então que moral temos para impor ou discriminar quem é diferente? Ao negar a diversidade, negamos uma grande chance de expansão.

DL – O Brasil continua sendo coração do mundo, pátria do evangelho? (Referência ao livro psicografado pelo médium Chico Xavier, assinado pelo espírito Humberto de Campos, sobre a missão coletiva de um país).

Maurício - Sem dúvida, só que um coração com muita gordura, com veia entupida, um coração que precisa passar por uma cirurgia grave.