Eleições 2018: 'Conheço todas as maracutaias', afirma Ana Paula Lourenço

Ao Diário, alerta que tem condições de descobrir as falhas do Governo. Confira os melhores trechos da ­entrevista

26 SET 2018 • POR • 08h00
Ana Paula Lourenço é candidata a deputada estadual pelo NOVO - Paolo Perillo/DL

Advogada, formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Ana Paula Lourenço é candidata a deputada estadual pelo NOVO tem larga experiência em contratos públicos. Ao Diário, alerta que tem condições de descobrir as falhas do Governo. Confira os melhores trechos da ­entrevista:

Diário – Além de fiscalizar e propor leis, o que você vai defender na Alesp?

Ana Paula Lourenço – Trabalhar sobre os contratos de licitações, área em que atuo há mais de 30 anos no Brasil e exterior. Conheço todas as ‘maracutaias’ e a criatividade dos empresários e da administração pública para burlar as regras. Eu quero pegar isso. Quero fiscalizar os editais desde o início, desde o projeto básico de grandes obras. Problemas não detectados no início acabam gerando muitos prejuízos, desperdício de dinheiro público, mesmo não existindo corrupção. Essa é minha meta número um.

Diário – Mas você acredita que isso será fácil?

Ana Paula – Não. Sei que exercerei o mesmo papel do Tribunal de Contas, mas antecipadamente, pois os documentos são públicos a qualquer cidadão. Sei que vou me deparar com bloqueios por parte da Administração Pública, mas sei como identificar erros e direcionamentos.

Diário – Direcionamentos tipo o que?

Ana Paula – Exigências que não deveriam existir para favorecer um determinado fornecedor, empreiteira. Vou também acompanhar a execução dos contratos e cronogramas de obras, principalmente para evitar aditivos, que são as formas geralmente usadas para incrementar ganhos. As empresas colocam preço bem baixo na concorrência já sabendo que depois virão os aditivos para compensar as perdas iniciais. Também quero fiscalizar os pagamentos. Sempre pensando no erário.

Diário – Como mulher, como você avalia que a posição do João Amoêdo e de outros candidato que o Estado não deve interferir nas empresas com relação ao salário diferenciado entre homens e mulheres?

Ana Paula – A gente não consegue ter 100% de sintonia com o partido. Tem algumas matérias acessórias que nos damos o direito de discordar. A nossa candidata a vice governadora Andreia Menezes afirma que não pensamos 100% igual aos nossos maridos, mas essencialmente pensamos igual, temos os mesmos valores. Sou contra a corrupção, contra privilégios, enfim. Todo cuidado com a mulher é importante. Sou a favor do protagonismo da mulher nos altos escalões empresariais. Tenho curso de Formação de Conselhos de Administração e percebo o quanto a mulher vem sendo maltratada. O valor do salário deveria ser por competência. Fico triste quando ouço que não se contrata mulher porque engravida. Nosso papel é muito grande.

Diário – O Rogério Chequer (candidato do Novo ao Governo do Estado) me disse ser a favor da cobrança de mensalidade nas universidades estaduais de quem pode pagar?

Ana Paula – Sou. Deveria haver uma peneira, uma triagem, para beneficiar quem precisa. Educação básica e fundamental deveria ser de boa qualidade para todos, porque é fundamental para todo o país que se propõe a dar certo. Curso superior é extremamente importante, mas o Governo deveria ver quem pode pagar e quem não pode. Portanto, sou a favor de cobrar de quem pode pagar. Temos que dar oportunidade para quem realmente precisa.

Diário – Então, como você avalia o sistema de cotas?

Ana Paula – Concordo, mas não pode ser um remédio eterno. Tem que ser um paliativo até que haja um equilíbrio de oportunidades. Acredito mais na conscientização. Quando você mistura a diversidade intelectual você gera uma ética melhor.

Diário – A Baixada, nos últimos oito anos, deixou de receber cerca de R$ 63 bilhões de recursos estaduais. Como você avalia?

Ana Paula – Temos que analisar todas as contas e ver para onde está indo o dinheiro que deveria vir para cá. Desde 2014, temos a promessa da vinda de um Ambulatório Médico de Especialidades (AME) para o Guarujá e, no entanto, temos somente meio hospital público na Cidade. Falta cobrança e fiscalização. Eu, por exemplo, acho emendas parlamentares uma tremenda perversidade, pois somente a cidade que conseguiu eleger um deputado ou deputada é que a recebe. As demais, ficam ‘a ver navios’. Essas verbas são usadas para compor currais eleitorais. É preciso um olhar macro.

Diário – Você acredita na travessia seca entre Santos e Guarujá? Ela é viável?

Ana Paula – Essa discussão já perdura 86 anos. Eu passei três anos atravessando. Foi um caos e continua sendo. Perde-se compromissos e dinheiro. A travessia seca é técnica e economicamente viável. Há soluções no Mundo inteiro, por que a gente não consegue solucionar esse problema? Existe, com certeza, interesse político na manutenção das balsas, operando sem qualidade e a preços altos. Sou a favor da privatização da travessia.

Diário – Na área da Saúde, o Estado não cumpre suas obrigações nem em casos judicializados. Dá para mudar isso?

Ana Paula – Existe desvios de dinheiro e gastos indevidos. Gasta-se bilhões com fundos eleitorais e partidários. Quantas mamografias poderiam ser feitas com esse dinheiro? Toda parceria que o Governo faz tem que ser fiscalizada.

Diário – Segurança pública é um dos calcanhares de São Paulo. Qual sua opinião?

Ana Paula – Temos inúmeros policiais altamente preparados em funções administrativas. É hora de terceirizar a administração e colocar o efetivo nas ruas. É preciso mais inteligência e intercâmbio entre as policias civil e militar. Também é preciso valorizar os policiais e humaniza-los.