Só 4 em 10 na rede pública miram graduação

Entre os alunos de escolas públicas, 38% se consideram ambiciosos. Nas particulares, o percentual sobe para 55%.

19 AGO 2018 • POR • 02h11

Apenas 4 em cada 10 alunos brasileiros de 15 ou 16 anos que frequentam escolas públicas esperam concluir um dia o ensino superior convencional -com, no mínimo, quatro anos de duração- ou uma pós-graduação. Entre os estudantes da rede privada, a relação salta para quase 7 em 10.

Esse retrato emerge dos questionários que os adolescentes do país preencheram ao realizar o último Pisa, teste internacional de aprendizagem, em 2015, segundo levantamento inédito do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional).

Diferenças de oportunidades ao longo da infância e da adolescência levam os jovens brasileiros a desenvolverem níveis distintos de aspiração. Isso ajuda a criar um hiato de expectativas em relação à formação educacional.

Entre os alunos de escolas públicas, 38% se consideram ambiciosos. Nas particulares, o percentual sobe para 55%.

As informações de 17.523 alunos colhidas pelo Iede na base de dados da OCDE (organização responsável pelo Pisa) mostram a cadeia de fatores que explicam esse quadro.

O nível socioeconômico da família de uma criança costuma ter grande influência sobre seu futuro. Pesquisas mostram que a escolaridade dos pais é um dos determinantes da aprendizagem dos filhos.

Entre os brasileiros de escolas particulares que fizeram o último Pisa, 42,7% tinham mães com ensino superior completo. 

No universo dos estudantes das instituições públicas, essa fatia era de 11,5%.

"Tudo começa na primeira infância. O cérebro é desenvolvido a partir da interação com o meio", diz o economista Naercio Menezes Filho, professor do Insper e da USP. "As crianças nascidas em famílias mais pobres recebem menos estímulos. Quando chegam à escola, já estão defasadas", completa o especialista.

O ideal é que os pais menos favorecidos recebam orientação e apoio para estimular corretamente seus filhos desde a gestação. Mas iniciativas nessa direção ainda engatinham no Brasil. Além disso, as vagas em creches são insuficientes.