Sarau Itinerante espalha poesia marginal e paixão pelas palavras

Há cinco anos um grupo de poetas da periferia de Santos decidiu se unir e semear o amor pelas palavras, estimulando os jovens a seguirem pelo caminho da poesia

6 AGO 2018 • POR • 11h45
Objetivo do grupo agora é conseguir subsidiar a confecção de um livro com poesias dos participantes do Sarau e convidados - Divulgação

Com quantas verdades veladas se faz um poema? Há cinco anos um grupo de poetas da periferia de Santos decidiu se unir e semear o amor pelas palavras, estimulando os jovens a seguirem pelo caminho da poesia.

O resultado desse encontro foi o Sarau Itinerante, que em mais de uma centena de ações já mobilizou dezenas de crianças e adultos em diversos espaços descentralizados da Baixada Santista e de São Paulo.

“Tudo começou com uma ideia do Arquimedes Machado, poeta do Monte Serrat, que queria comemorar o aniversário de uma forma diferente, com uma poesia de cada pessoa. Foi assim que realizamos nossa primeira edição, em agosto de 2010. No final concluímos que não dava para ficar só no morro e foi assim que o Sarau decidiu ser itinerante”, conta Ronaldo Pereira, que ao lado de Arquimedes e Naldo Alves fundou o coletivo.

Ao longo dos últimos cinco anos, o Sarau Itinerante levou poesia para diversas comunidades da Baixada Santista: dos morros até o Mangue Seco; do Pinhal do Miranda, em Cubatão até a Prainha, em Guarujá.

“No primeiro encontro tinha umas 20 crianças no chão, com os olhos brilhando enquanto a gente declamava. Uma delas está com a gente hoje. Nosso objetivo é mostrar para essas crianças que quando a gente toma poder, a gente faz acontecer. As vezes elas estão buscando seus heróis longe e eles estão do nosso lado: é aquele cara, aquela mina da comunidade que está fazendo acontecer”, conta.

Um dos trabalhos desenvolvidos pelo Sarau Itinerante é incentivar a leitura, a partir do contato do poeta com o público. “Ler é muito bom e conhecer o escritor incentiva a leitura e também a escrita. No início éramos três poetas com versos aprisionados e hoje somos nove pessoas libertando versos e soltando as letras pelas favelas da vida. Nos descobrimos como estopim de uma bomba chamada literatura marginal nas nossas comunidades”, completa Ronaldo.

Nos saraus, a poesia é o fio condutor para outras manifestações culturais, tais como a capoeira e o reisado.

“É diferente quando uma criança pega um livro que ele não sabe quem escreveu e quando ele está na frente do autor. Quando isso acontece elas entendem que o livro é feito por uma pessoa real. Hoje levamos nossa poesia para fora da favela, mas é um processo orgânico: a poesia marginal só faz sentindo quando brota da periferia. Como alguém que sempre teve a barriga cheia pode falar da fome?”, questiona.

O objetivo do grupo agora é conseguir subsidiar a confecção de um livro com poesias dos participantes do Sarau e convidados que passaram pelo coletivo ao longo dos últimos anos.

O financiamento pode ser acessado no site: https://bit.ly/2N5z9zx. Você pode colaborar com valores que variam entre R$20 e R$500 e para cada faixa de participação existe uma recompensa específica, que vai de adesivos até livros, canecas e camisas do coletivo.