Eleitorado evangélico ganha força nas urnas da América Latina

Até a semana passada na Venezuela, que vai às urnas em 20 de maio, o candidato líder nas pesquisas, Henri Falcón, tentava atrair para sua aliança o pastor evangélico Javier Bertucci, com 15% das intenções de voto.

19 MAI 2018 • POR • 20h06
Existem mais de 6.000 igrejas evangélicas na Colômbia, que reúnem mais de 10 milhões de fiéis - Fotos Públicas/Ilustração

Às vésperas de três das principais eleições latino-americanas deste ano, em Venezuela, Colômbia e México, candidatos e partidos evangélicos vêm ocupando importante espaço.

Até a semana passada na Venezuela, que vai às urnas em 20 de maio, o candidato líder nas pesquisas, Henri Falcón, tentava atrair para sua aliança o pastor evangélico Javier Bertucci, com 15% das intenções de voto.

A coalizão não foi possível, e Bertucci seguiu com sua propaganda baseada em obras de assistência social. Ele dirige há mais de vinte anos a Igreja Maranata no país, que organiza programas de ajuda social e de formação religiosa em comunidades humildes.

O pastor, porém, carrega uma imagem de dupla leitura. É conhecido e querido por seus fiéis pelas obras de caridade mas também é questionado por ser um empresário do ramo petrolífero com negócios no exterior e por uma causa na Justiça em que é acusado de contrabando de toneladas de diesel.

Na Colômbia, que vota no próximo dia 27, a corrida dos candidatos pelos evangélicos tem sido feroz. Quem chegou na frente, desde 2016, foi o líder do Centro Democrático e uma das forças políticas mais importantes do país, Álvaro Uribe.

O ex-presidente peregrinou por igrejas evangélicas à época, insistindo que o acordo de paz com a então guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) continha artigos que tratavam de diversidade sexual que ameaçam a "família colombiana".

De fato, estes mesmos artigos tiveram de ser reescritos para que o acordo fosse aprovado no Congresso.

Esse capital político dos uribistas junto aos evangélicos, principalmente na costa colombiana, região mais habitada do país, está sendo transferido de Uribe para seu candidato nesta eleição, o direitista Iván Duque, que lidera as pesquisas.

Existem mais de 6.000 igrejas evangélicas na Colômbia, que reúnem mais de 10 milhões de fiéis, principalmente na região costeira, cujo voto tradicionalmente pendia para o lado dos liberais, e agora favorece os conservadores.

Duque também recebeu o apoio do grupo de pastores ultraconservadores Justa Libres, que reúne mais de 60% das igrejas evangélicas do país e que tem uma bancada importante no Congresso.

Já no México, que vota em 1º de julho, ocorre algo mais insólito. O apoio evangélico, por meio do partido Encuentro Social (PES), liderado por Hugo Érico Flores, está ao lado do esquerdista Andrés Manuel López Obrador.

Talvez por interesse de ambos os lados. López Obrador tenta pela terceira vez ser presidente e precisa de apoios e o PES deseja aumentar sua bancada no Congresso.

O país tem uma população evangélica grande, de cerca de 10 milhões de pessoas.

Os eleitores tradicionais de AMLO, como é conhecido, se incomodam com as bandeiras dos evangélicos (antiaborto e contra matrimônio gay), mas por ora não expressaram rejeição, até porque AMLO não sinalizou com concessões em seu programa.

AMLO lidera isoladamente as pesquisas, com mais de 18 pontos percentuais de diferença com relação ao segundo colocado, Ricardo Anaya, da coligação de centro-direita México À Frente.