Cooperdique ensina costura e cidadania
A cooperativa de costura que, além de roupas, produz dignidade, autoestima e promove o conhecimento necessário para que os moradores tornem-se cidadãos
14 MAI 2018 • POR • 11h28Em cima de uma farmácia e em frente à Praça José Oliveira Lopes, no Rádio Clube, em Santos, fica uma cooperativa de costura que, além de roupas, produz dignidade, autoestima e promove o conhecimento necessário para que os moradores tornem-se cidadãos.
“Descobrir a cidadania é libertador, principalmente para quem mora em palafita e barraco de madeira, como acontece na Vila Gilda”, diz Lucinéia Marques da Silva Souza, a Néia, idealizadora da Cooperdique (Cooperativa de Costura do Dique da Vila Gilda).
Mãe de seis filhos, um deles portador da síndrome de Down, Néia carrega em sua essência a curiosidade e a sede pelo saber. “Eu nasci na Vila Gilda e desde pequena notava que a dificuldade fazia parte de quem morava ali, mas ela estava presente, principalmente, na vida das mulheres”, diz.
Néia aprendeu a costurar lendo um livro que ensinava a prática e foi assim que conseguiu emprego em uma confecção. De frente para uma máquina de costura industrial, ouviu muitos nãos direcionados a mulheres que pediam uma oportunidade, mas não sabiam operar o equipamento.
“Eu via as vagas serem negadas para mulheres, muitas mães solteiras, responsáveis por manter a casa e ficava pensando em uma forma de ajudar”, explica. Foi aí que nasceu a ideia de montar uma cooperativa no bairro que ensinasse o ofício ao pessoal da comunidade.
Depois de uma longa caminhada e a ajuda de uma amiga para transformar o que era somente sonho em um projeto oficial nos moldes que a Prefeitura exige, nasceu em 2009, a Cooperdique. As 42 máquinas “de ponta”, foram doadas pelo Brasil Terminal Portuários, através do Programa de Compensação Ambiental.
Atualmente, a cooperativa trabalha com quatros mulheres que produzem roupas, capas de chuva com restos de guarda-chuvas (o que ajuda o meio ambiente), porta-marmita, além de costurar os coletes de trabalho de projetos como o Albatroz. Quando a demanda aumenta, mais mulheres da comunidade são chamadas. Aquelas que têm filhos e ficam em casa para cuidar deles, trabalham em horário adequado.
Em parceria com o Settaport, o local oferece aulas de costura para quem quer aprender o ofício que não exige escolaridade, mas pode ser a primeira chance de ingressar no mercado de trabalho e voltar a estudar. Cerca de 70 alunos, entre homens e mulheres, fazem o curso.
Mensalmente as cooperadas também se reúnem, geralmente na Associação de Moradores do Jardim Castelo, e realizam a “Roda de Conversa”, onde discutem temas como a saúde da mulher e empoderamento feminino.