Em sigilo, Alckmin prestou depoimento por escrito ao STJ

O pedido de investigação do ex-governador foi aceito pela ministra Nancy Andrighi em novembro e permanece sob sigilo

12 ABR 2018 • POR • 21h21
Geraldo Alckmin prestou depoimento por escrito ao STJ - Divulgação/Fotos Públicas

Antes de encaminhar o caso do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) à Justiça Eleitoral, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) abriu inquérito e colheu depoimento do tucano por escrito.

O pedido de investigação foi aceito pela ministra Nancy Andrighi em novembro e permanece sob sigilo. Nem mesmo as partes tiveram acesso completo aos autos.

Também foram chamados a se explicar Adhemar Cesar Ribeiro, cunhado de Alckmin, e o secretário estadual Marcos Monteiro, ambos acusados de operacionalizar R$ 10,7 milhões em caixa dois nas campanhas do ex-governador de SP em 2010 e 2014.

Delatores da Odebrecht que relataram o suposto esquema, Carlos Armando Paschoal e Benedicto Junior entre eles, prestaram depoimentos poucos dias atrás.

Ao levar o inquérito para a esfera eleitoral, Alckmin saiu do escopo da Lava Jato, o que foi comemorado por aliados, mesmo que houvesse expectativa de arquivamento.

"Ficou constatado que não há envolvimento do Alckmin na Lava Jato", disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP). "A questão da Justiça Eleitoral será decidida com tranquilidade. Ele deu ao STJ as declarações necessárias."

A velocidade com que, de repente, o caso andou chamou a atenção de pessoas envolvidas na investigação. Apesar da relativa lentidão com que tramitou nos tribunais superiores, bastou Alckmin deixar o governo para que três decisões importantes fossem tomadas.

Ao renunciar, na sexta-feira (6), o tucano perdeu o foro especial. Dois dias depois, o braço paulista da Lava Jato pediu acesso às investigações. O vice-procurador-geral, Luciano Mariz Maia, disse que a decisão caberia à Justiça. E o STJ, na quarta (11), decidiu encaminhar o inquérito à Justiça Eleitoral.

Lava Jato

Maia afirmou à Folha de S.Paulo nesta quinta (12) que só tinha elementos para apurar caixa dois, e não corrupção passiva. "Nós não retiramos o ex-governador da Lava Jato. Ele não estava incluído nela."

"O que é que gerou uma celeuma indevida, por assim dizer? Uma comunicação pública de colegas da Lava Jato de São Paulo dizendo que tinham solicitado com urgência para mandar para eles o feito judicial [o inquérito do STJ]", disse Maia.

"Se agora alguém da Lava Jato de São Paulo apresentar provas que possam identificar outros fatos além do [artigo] 350 [do Código Eleitoral, o caixa dois], ele pode fazer isso, ele tem atribuição para fazer isso [já que Alckmin perdeu o foro]. Quem quer que tenha prova pode fazer a investigação que quiser. Eu não tinha prova", justificou.

Questionado sobre o depoimento do delator Benedicto Júnior, que disse que os repasses a Alckmin miravam favores em obras do Metrô e de saneamento, por exemplo, Maia afirmou que o ex-executivo não apontou em que a Odebrecht foi beneficiada.

"Em 2010 e 2014 foram as eleições. Havia objetivamente nas delações [a informação de] contribuição para as campanhas", disse o vice-procurador-geral."Nas delações, em 2016, [Júnior] não disse em que se beneficiou."