Falta de moedas atrapalha a vida de comerciantes em Santos

O problema tem obrigado o setor a inventar soluções criativas para atrair àqueles que, seja pelo cofrinho, seja por hobby, guardam as moedas em casa

11 FEV 2018 • POR • 14h44
As grandes salvadoras do comércio da região do Gonzaga são as bancas de jornal e os vendedores de cartão do estacionamento rotativo. - Rodrigo Montaldi/DL

Faltam moedas! Essa foi a resposta unânime dos comerciantes santistas quando questionados pela Reportagem se há dificuldade na hora de dar o troco ao consumidor. O problema tem obrigado o setor a inventar soluções criativas para atrair àqueles que, seja pelo cofrinho, seja por hobby, guardam as moedas em casa. 

Em um estacionamento da Rua Floriano Peixoto, no Gonzaga, cliente que troca determinado valor por notas ganha uma estadia. A alternativa foi adotada pelo proprietário para facilitar o acesso às concorridas moedas. “Eu não sinto tanto porque corro atrás. Não dá mais para contar com os bancos”, diz. 

Enio Paladini, proprietário de um Café, diz que precisa pelejar pelas moedas pelo menos três vezes na semana e que o problema se agravou nos últimos três anos. “O banco já não troca mais, a não ser que o valor chegue a mil reais. A sorte é que outros comerciantes trocam e os clientes da casa também”, explica.

Quando o consumidor é amigo e não tem trocado, põe na conta e paga na próxima visita. A mesma fórmula é adotada quando quem está sem moedas é o próprio caixa. “Aviso o freguês que tem crédito para o próximo cafezinho. Se a gente não fizer assim, perde a venda”, acredita Enio. 

As grandes salvadoras do comércio da região do Gonzaga são as bancas de jornal e os vendedores de cartão do estacionamento rotativo. “Quem compra em banca, geralmente, já traz trocado, até porque a maioria dos valores é quebrado”, explica Diamantino Bernardino. É ele quem fornece as moedas para algumas lojas do entorno. 

Em uma perfumaria, quem troca R$50 em moedas leva o brinde do dia, que vai de cadeira de praia a caixa organizadora e shampoos. 

Gerente de um minimercado, Amanda afirma que o problema se agravou nos últimos dois anos. “Antes, nosso caixa abria com duzentos reais em moeda de um. Hoje, não passa de cinquenta reais. No fim do ano melhora porque o pessoal abre o cofrinho, mas em fevereiro elas somem de novo”. A solução para ela é priorizar a venda em notas e cartão. 

Heliene Clarez, responsável pelo caixa de uma loja de presentes e variedades, diz que quebrar os preços das mercadorias é uma forma de induzir ao troco. As vendas com cartão, segundo ela, cresceram muito, inclusive de valores pequenos. “As pessoas hoje em dia não ligam mais de passar dois reais no cartão. Pra gente é bom porque não precisa mexer no dinheiro do caixa, por outro lado, temos que pagar as taxas desse tipo de transação”. 

Questionados sobre prejuízos no fim do mês devido ao problema com o troco exato, todos os pequenos comerciantes entrevistados disseram que não chegam a ter um valor relevante que caracterize um desfalque, porque ao mesmo tempo em que há o arredondamento de valores para alguns clientes, outros não exigem o troco. 

Supermercados têm prejuízo de mais de R$1 milhão por ano

Já nas grandes redes, a falta de troco tem causado enormes prejuízos. Para tentar solucionar o imbróglio, a Associação Paulista de Supermercados (APAS), participou de um encontro no fim do ano passado com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban); Federação Nacional dos Bancos (Fenaban); dos Bancos do Brasil, Itaú, Bradesco e Caixa Econômica Federal; e da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) que discutiu o cenário. A escassez de troco tem causado uma perda de mais de R$ 1 milhão anuais a redes de médio porte de supermercados.