Cocaína e fármacos no mar de Santos não oferecem riscos à população

Substâncias se concentram a cerca de 4,5 quilômetros da costa, na área de navegação, onde as amostras foram retiradas

29 NOV 2017 • POR • 10h00
Reunião realizada com os pesquisadores responsáveis foi realizada na manhã de ontem - Rodrigo Montaldi/DL

A presença de produtos farmacêuticos e drogas ilícitas despejadas através da rede de esgoto no mar de Santos não oferece risco de contaminação à população, nem interfere na qualidade do pescado. Pelo menos essa foi a conclusão da Secretaria de Meio Ambiente de Santos (Semam), representantes da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e da Companhia de Saneamento Básico (Sabesp), após a reunião realizada na manhã de ontem com os pesquisadores responsáveis pelo estudo que revelou a situação.  

De acordo com o coordenador da pesquisa, Camilo Seabra Pereira, o estudo entrará em sua segunda etapa, onde será verificado se há contaminação dos organismos marinhos e em que nível isso ocorre, mas não há prazo para a divulgação desses resultados. “A gente vai continuar trabalhando nesse tema porque ele é absolutamente relevante”, afirma Camilo.

Ele explica que a população pode ficar tranquila, tanto em relação à qualidade do pescado quanto à água da zona de banho, já que as substâncias se concentram a cerca de 4,5 quilômetros da costa, na área de navegação, onde as amostras foram retiradas.

“Como esse estudo foi realizado pela primeira vez no Brasil, acabou ganhando amplitude através da imprensa, mas é algo comum em outros lugares. Agora, vamos aprofundar a pesquisa para evitar que essas substâncias se transformem em novos poluentes”, diz Seabra.

Questionados se alguma medida imediata seria tomada para conter essas substâncias antes da chegada ao mar, os três órgãos presentes na reunião disseram que não, já que aguardam o resultado da continuação do estudo, ainda sem prazo de publicação.

Tratamento de esgoto

Quanto à polêmica relacionada à falta de tratamento de esgoto realizado pela Sabesp, o professor diz que a pesquisa não confirma essa informação. “O estudo não foi feito na estação e nem no esgoto; o estudo foi feito na água do mar, então a gente não consegue chegar a essa conclusão. A pesquisa só responde à área direta de influência do emissário, que está a 4,5km da praia”, detalha.

A Sabesp reafirmou que, no caso do Brasil, fármacos e entorpecentes não são removidos no tratamento de esgoto, portanto a Companhia segue os parâmetros legais de tratamento estabelecidos pelas resoluções 357/05 e 430/11 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

“A Sabesp cumpre plenamente essas normas. A cidade de Santos possui padrão europeu de saneamento e está entre as quatro melhores do país no setor, segundo o Instituto Trata Brasil. É importante lembrar que a qualidade das águas do mar sofre impacto de inúmeros fatores, como o descarte irregular de esgotos e o lixo jogado nas ruas e levado pela chuva até a praia”, disse em nota.

O secretário de meio ambiente de Santos, Marcos Libório, afirmou que a prefeitura acompanha de perto o pré-condicionamento do esgoto e de acordo com os protocolos atuais, a Sabesp atende ao que é exigido.

Já a gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb, Claudia Lamparelli, disse que o órgão tem interesse em aperfeiçoar o monitoramento realizado há 15 anos na área citada no estudo.

“Não é prioridade analisar os níveis de cocaína encontrados na água, mas como as universidades tem informações mais pontuais e específicas sobre isso, é importante essa troca entre os dados sistemáticos da Cetesb e os dados pontuais das pesquisas para aperfeiçoamento dos sistemas, caso sejanecessário”, explica Claudia.

Descarte incorreto de medicamentos agrava o cenário

Para evitar que a situação do mar de Santos piore, Marcos chama a atenção para a forma como as pessoas descartam os medicamentos sem uso ou com prazo de validade vencido.

“Remédios não podem ser jogados no vaso sanitário ou na pia. É necessário procurar os pontos de recebimento, como farmácias e hospitais. Isso é previsto em lei e caso o munícipe tenha problemas, pode entrar em contato com a ouvidoria”, afirma o secretário.