Vídeo indica seguranças omissos em SP diante de agressões a ator negro

Seguranças assistiram passivos às cenas de violência e não tentam impedir as agressões ao jovem

20 NOV 2017 • POR • 15h01
Ator publicou as marcas da violência em sua página no Facebook - Reprodução/Facebook

Imagens captadas por câmeras de segurança mostram o momento em que o ator Diogo Cintra, 24, foge de um homem que corre com um pedaço de madeira na mão e, em seguida, é levado para fora do terminal Dom Pedro, no centro de São Paulo, na madrugada de quarta (15).

De acordo com as imagens do circuito interno obtidas pela reportagem, os seguranças olham passivos às cenas de violência e não tentam impedir as agressões ao jovem.

A sequência começa justamente com o ator fugindo de um homem que corre atrás dele com um pedaço de madeira. Em seguida, o ator aparece sendo levado pelo braço do terminal para a rua.

O grupo é perseguido por dois cachorros e um rapaz que está em uma bicicleta. Alguns dos agressores usavam capuzes que escondem seus rostos, mas ao menos dois deles, aqueles que o seguravam pelos braços, podem ser identificados pelas imagens.

Passageiros que esperavam pelos ônibus nas plataformas também observam toda a movimentação sem esboçar reação. Algumas mulheres chegam a se afastar do ator, quando ele tenta correr e fugir dos ataques.

Em outra parte do vídeo, ele aparece cambaleante após as agressões, com um pé descalço, entrando em um ônibus.

Racismo

As imagens condizem com o depoimento publicado pelo ator no dia seguinte em sua página em uma rede social. Junto a fotos de seu rosto e corpo machucados, o ator publicou relato em que acusa os seguranças de racismo por terem se recusado a ajudá-lo após ele dizer que estava sendo assaltado e perseguido por três homens no centro de SP.

À reportagem, o ator disse que voltava para casa no Capão Redondo (zona sul de São Paulo) após passar a noite em uma festa com os colegas de elenco da peça em que atua há alguns meses. Ele estava a pé próximo ao terminal quando foi abordado por três homens que tentaram assaltá-lo. Como estava perto das catracas, resolveu correr em busca de ajuda. Uma segurança disse apenas para ele correr. Em seguida, apareceram os agressores o acusando de ter tentado assaltá-los.

Ele contou que, apesar de insistir em dizer que não tinha roubado ninguém, os seguranças acreditaram na versão dos agressores e permitiram que ele fosse arrastado para fora do terminal para ser agredido. O rapaz acredita que a reação foi causada pelo fato dele ser negro. Na calçada, Diogo lembra que levou golpes na cabeça e pauladas pelo corpo. Ele também foi mordido por três cachorros.

Afastamento

Diante da repercussão do caso, a Secretaria Municipal de Transportes da gestão João Doria (PSDB) anunciou neste sábado (18) à tarde, quatro dias após a ocorrência, o afastamento dos funcionários envolvidos no caso. Antes disso, a pasta afirmou apenas que estava colaborando com as investigações.

O SPUrbanuss, sindicato patronal do sistema de ônibus de São Paulo e responsável pela gestão do terminal, disse que somente irá se pronunciar após ouvir a versão da empresa responsável por contratar e gerir a equipe de atendimento do terminal. Na noite deste domingo (19), o ator voltou às redes sociais para agradecer o apoio que recebeu. "Eu só gostaria de ter pelo menos um terço dessas pessoas [que me apoiaram] no terminal aquele dia", escreveu.

Questionada sobre a busca dos agressores, a Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou apenas que a Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso e que a vítima será ouvida nos próximos dias. As imagens das câmeras do terminal, segundo a pasta, estão sendo analisadas para a identificação dos autores das agressões.