Contra racismo, alunos pedem a mudança do nome da Avenida Leomil

Segundo a professora Ademara Aparecida Jesus Santos, tudo começou com o desenvolvimento do Projeto Se Essa Rua Fosse Minha”

10 NOV 2017 • POR • 10h00
As crianças fizeram um pedido inédito para o presidente da Câmara, vereador Edilson Dias (PT): que o nome da Avenida Leomil, um feitor de escravos que morou na cidade, seja mudado para Avenida 20 de novembro - Divulgação

Consciência não tem idade e nem tudo na história, apesar de ter sido fato, deve ser perpetuado com homenagens. Esses são apenas alguns questionamentos que deverão estar na cabeça das pessoas após atitude uma turma de alunos do 5º ano da Escola Municipal Professora Myriam Terezinha Wichrowski Millbourn, no Jardim Boa esperança, em Guarujá.

Ontem, as crianças fizeram um pedido inédito para o presidente da Câmara, vereador Edilson Dias (PT): que o nome da Avenida Leomil, um feitor de escravos que morou na cidade, seja mudado para Avenida 20 de novembro, data que é comemorado o Dia da Consciência ­Negra.

Segundo a professora Ademara Aparecida Jesus Santos, tudo começou com o desenvolvimento do Projeto Se Essa Rua Fosse Minha”, no qual os alunos pesquisaram a história das personalidades que dão nomes às ruas de Guarujá. Foi então que a turma descobriu que Valêncio Teixeira Leomil, apesar de ter conseguido a concessão de ligação férrea na cidade, enriqueceu com apropriação de terras e comércio de escravos, além de ter assassinado um marinheiro inglês. “Os registros históricos contam que ele foi absolvido no julgamento, mas a comunidade não aceitou o fato, forçando-o o governo a pedir o seu exílio”, conta Ademara.

Os alunos não estão para brincadeira. Além do pedido de mudança do nome da avenida, eles realizaram um ato recolhendo mais de 300 assinaturas num abaixo assinado e contaram a história de Leomil. A reivindicação é baseada numa alteração da lei federal 6.454/77, que diz: “É proibido, em todo o território nacional, atribuir nome de pessoa viva ou que tenha se notabilizado pela defesa ou exploração de mão de obra escrava, em qualquer modalidade, a bem público, de qualquer natureza, pertencente à União ou às pessoas jurídicas da administração indireta”.

O presidente da Câmara assinou o documento e se comprometeu a discutir com os vereadores. “Considero justo o pedido, mas temos que observar a lei orgânica e ver se pode mudar o nome de logradouros. O mais importante é ouvir esses alunos, reconhecer o trabalho desenvolvido pela equipe educacional, e trazer este tema para a nossa discussão. É bonito ver crianças lutando por cidadania e justiça. Racismo é crime e devemos combate-lo sempre.”, afirmou Edilson Dias. Também participaram do ato o vereador Rafael Vitiello (PSDB), a orientadora pedagógica Glaucia Maria Santos Souza e a orientadora educacional Silvana Pagetti.

Quem foi Leomil?

Valêncio Teixeira Leomil era possuidor de extensa área localizada entre a praia do Perequê e o Canal de Bertioga, sobre a qual se apropriou. Em 1890, solicita a Câmara de Santos direitos de uso sobre largas áreas da ilha e concessão por uma ligação férrea a ser construída entre o estuário de Santos e sua propriedade. Dois anos depois, em 1892, Valêncio Leomil vende seus direitos aos empresários paulistanos Elias Chaves e Elias Pacheco, que fundam a Companhia Balneária da Ilha de Santo Amaro.

“Se essa rua, se essa rua fosse minha/ eu mandava, eu mandava o nome trocar/ para o dia 20 de novembro/ pois Leomil não fez bem para o nosso Guarujá/ Essa rua, essa rua tem uma história/ que se chama, que se chama escravidão/Dentro dela, dentro dela tem um homem, que traficava pessoas e era uma multidão...” (poesia reescrita pelos alunos da escola Myriam Terezinha)