Está chegando ao fim a lua de mel entre os munícipes e novos prefeitos

25 JUL 2017 • POR • 10h20

No mês de fevereiro, concedi uma entrevista onde afirmava que a paciência com os novos prefeitos tinha prazo de validade reduzido. Pois bem, as pesquisas realizadas ao fim desse primeiro semestre, quando lidas atentamente, já demonstram evidências cristalinas dessa tendência.

Podemos elucidar esse fenômeno, principalmente através de duas variantes bem definidas: 1º) a maioria dos novos chefes dos executivos municipais elegeram-se através de discursos contundentes em relação ao abandono vivido pelos moradores e à situação de descalabro na gestão dos recursos públicos e prestação dos serviços; 2º) no mesmo processo eleitoral prometiam o resgate das administrações municipais através da implementação de gestões profissionais e eficientes.

Pois bem, no primeiro caso os presentes alcaides encontram-se limitados para proferir o discurso da “herança maldita”, uma vez que a disseminação da sensação de que a coisa pública estava em ruínas, foi a principal bandeira e posterior motivação para suas vitórias.

No segundo episódio, a entrega do prometido ficou comprometida, notadamente em virtude das incapacidades dos governantes em preencherem os cargos de primeiro e segundo escalões com profissionais qualificados e conhecedores do funcionamento da máquina estatal. Em outras palavras, não se faz churrasco bom com carne ruim.

Ao mesmo tempo, os novos prefeitos agarram-se às redes sociais como a tábua de salvação para popularidade duradoura, promovendo espetáculos até então desconhecidos do grande público, como a ostentar as indumentárias de garis e/ou agentes de trânsito, limpar e pintar grades de parques, ensaiar coreografias com demais secretários em praça pública, além de inundar o WhatsApp com posts e vídeos de infindáveis reuniões para uma quantidade sem fim de temas, como também, divulgar de maneira superlativa obras e ações.

O grande problema de tal comportamento vem circunscrito na esfera que define os limites entre o estado real das coisas e os arquétipos imaginários. Ou seja, para que a comunicação promovida através de instrumentos como Instagram, Facebook, YouTube, Twitter, entre outros, possua efetividade, o mundo observado através dos sentidos precisa estar em consonância com a telinha dos smartphones e iphones.

Caso contrário, a credibilidade dos governantes esvaecerá como grãos de areia pelas lacunas dos dedos. Em síntese, a grande maioria dos municípios, ao longo dos últimos quinze anos, cresceu demograficamente, mas ressentiram-se da ausência de obras estruturantes e intervenções permanentes na garantia da cidadania.

Os atuais Prefeitos foram eleitos como representação do fim das perfumarias e o início de uma nova era consubstanciada em políticas planejadas e inteligentes, com trabalho no presente e olho no futuro.

Nilton Tristão é cientista político, diretor do Instituto Opinião Pesquisa e da GovNet S/A