Ação de arte e integração: as cores da Cota

Projeto de arte ajuda a fomentar a cultura e o desenvolvimento local nos espaços públicos projetados nos bairros que passam por obras de urbanização

18 JUN 2017 • POR • 10h30
O projeto se inspira em Mônica Nador, artista plástica reconhecida internacionalmente, que faz de sua obra uma forma de ativismo social nos bairros da comunidade - Divulgação

Primeiro as cores. Somam-se a elas histórias de vidas transformadas e paredes, muros e praças tomadas por formas e mosaicos: há sete anos, o Ateliê Arte nas Cotas fomenta a cultura e o desenvolvimento local por meio das técnicas de mosaico, desenho, pintura, estêncil e intervenções de arte urbana nos espaços públicos projetados nos bairros em obras de urbanização. Além disso, o projeto trabalha o resgate da autoestima e a geração de renda das mulheres que atuam no espaço.

Pessoas como Fátima Maria, de 61 anos. Após viver parte de vida em Hospitais Psiquiátricos do Brasil, a hoje empreendedora encontrou nos bairros-cota um local para chamar de lar e no trabalho desenvolvido pela equipe da Companhia de Desenvolvimento Urbano (CDHU) uma oportunidade de aperfeiçoar os dons e ­talentos.

“Esse trabalho não priorizou apenas as remoções, mas as pessoas que estão aqui. Nós sabemos que um dia a equipe da CDHU vai embora, nós tocaremos o projeto e passaremos de alunas para professoras. Aqui eu aprendi a pintar, trabalhar com dignidade e até mesmo a escrever, pois precisava assinar as obras”, conta Fátima, acrescentando que a cobrança por parte das instrutoras é dura. “Elas exigem que nós sejamos a nossa melhor versão de nós mesmas. Isso é importante para mim”, conta emocionada.

O Ateliê Arte nas Cotas atua com diversas fontes de geração de renda: oficinas de arte, venda de produtos (camisas, panos de prato, toalhas, travesseiros e cadernos) e encomendas, por exemplo.

O projeto se inspira em Mônica Nador, artista plástica reconhecida internacionalmente, que faz de sua obra uma forma de ativismo social. Mais de cinquenta casas da Cota 200 foram pintadas pelos integrantes do grupo.  

O próximo passo, agora, é refazer algumas das artes (danificadas pela ação do tempo), além de expandir a iniciativa para os demais bairros.

A artista e arte-educadora Fernanda Saguas Tresas, que trabalhou com Mônica Nador, explica que o objetivo do projeto é gerar vivências e debates sobre a arte. “Nosso processo de criação passa por várias etapas: primeiro os alunos fazem uma leitura da imagem a ser criada, usando canetinhas e colagens. Depois, acontece a pintura de fundo com uma nova leitura da imagem e por fim padronizamos tamanhos e cores”, conta Fernanda.

Sediado em uma casa da Rua do Alojamento no bairro Fabril, em Cubatão, o Ateliê serve de espaço de ensino e de trabalho, de sala de exposição e, também, de ponto de venda das obras e objetos ­confeccionados.

Para Regina Mendes, o projeto foi uma porta de acesso. “Moro na Fabril e participo desde quando a ação cultural acontecia na rua. É um orgulho fazer parte desse grupo”, afirma.