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Violência sexual atinge nível histórico no Brasil com mais de 87 mil vítimas

Nova edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que foram contabilizados mais do que o dobro dos casos registrados em 2011

Ana Clara Durazzo

Publicado em 24/07/2025 às 15:15

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O levantamento revela ainda um aumento preocupante em sete dos 11 indicadores de violência sexual analisados / SSP/ Divulgação

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O Brasil atingiu, em 2024, o maior número de casos de estupro e estupro de vulnerável desde o início da série histórica monitorada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), iniciada em 2011.

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De acordo com a 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada nesta quinta-feira (24), foram contabilizadas 87.545 vítimas desses crimes ao longo do ano, mais do que o dobro dos casos registrados em 2011.

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O levantamento revela ainda um aumento preocupante em sete dos 11 indicadores de violência sexual analisados. O destaque negativo ficou com os crimes de pornografia, que apresentaram crescimento de 13,1% em comparação a 2023.

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Também tiveram alta os registros de estupro (em geral e entre mulheres), estupro de vulnerável, assédio sexual, importunação sexual e divulgação de imagens íntimas.

Crianças, meninas e mulheres seguem como principais vítimas

Mulheres e meninas continuam sendo as maiores vítimas da violência sexual no país. A taxa de estupros cometidos contra o sexo feminino é 1,8 vez maior que a média nacional.

No caso do estupro de vulnerável, a desigualdade é ainda mais alarmante: cinco em cada seis vítimas são meninas. Crianças e adolescentes concentram a maioria dos registros, apenas a faixa entre 10 e 13 anos representa 42,1% dos casos de estupro de vulnerável.

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O relatório também aponta que meninos e homens representam 7,5% das vítimas de estupro no geral, e 13,8% nos casos de vulnerável.

No entanto, especialistas alertam para uma possível subnotificação nesse grupo, impulsionada por barreiras culturais, estigmas e receios em denunciar situações de abuso.

O lar é o principal cenário de violência

A maioria dos crimes sexuais ocorre dentro de casa. Em 2024, 65,7% dos estupros ocorreram no ambiente doméstico, número que sobe para 67,9% nos casos de vítimas vulneráveis. A via pública aparece como o segundo cenário mais frequente, com 13,2% dos casos.

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Em relação aos agressores, 59,5% dos estupros de vulnerável foram cometidos por familiares diretos. Já entre adolescentes e mulheres adultas, companheiros (26,7%) e parentes (26,6%) lideram as estatísticas como autores dos abusos.

Tentativas de estupro são subnotificadas

O número de tentativas de estupro registradas em 2024 foi de 5.176 casos, o equivalente a 2,9 por 100 mil habitantes, 17 vezes menos que os estupros consumados.

Apesar de indicar uma queda de 3,9% em relação a 2023, o dado exige cautela. Segundo o FBSP, muitas vítimas não reconhecem imediatamente a agressão como tentativa de estupro, especialmente quando não há contato físico, e frequentemente enfrentam dificuldades ao procurar apoio no sistema de justiça.

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Roraima lidera em taxas; Sudeste concentra mais casos absolutos

As disparidades regionais são marcantes. Roraima lidera com a maior taxa de estupros totais no país (137 por 100 mil habitantes), seguido por Acre (112,5) e Rondônia (99,5).

Na outra ponta, Ceará (22,0), Minas Gerais (26,5) e Paraíba (27,4) apresentam os menores índices proporcionais, embora Minas Gerais tenha registrado 5.642 casos, o quarto maior número absoluto do país.

Nos casos de estupro de vulnerável contra meninas, Roraima também encabeça o ranking (191,8 por 100 mil mulheres), enquanto Mato Grosso tem a menor taxa (6,4).

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São Paulo, Paraná e Pará concentram, juntos, 35% dos registros nacionais. A Paraíba, por sua vez, apresentou um crescimento superior a 100% nesse tipo de crime.

No quesito tentativa de estupro, Roraima (9,2), Amapá (8,5) e Maranhão (7,2) lideram as taxas mais altas. O Maranhão também se destacou negativamente em números absolutos, com 504 casos registrados, o que representa quase 10% do total nacional.

Outros crimes sexuais também avançam

Além dos estupros, o anuário apontou aumento em diversas outras formas de violência sexual em 2024:

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Importunação sexual: 37.972 casos (+4,7%)

Assédio sexual: 8.353 casos (+6,7%)

Divulgação de cenas íntimas: 7.175 casos (+13,1%)

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Exploração sexual: 528 casos

Subnotificação e desafios no enfrentamento

O FBSP alerta que os números apresentados ainda podem estar subestimados, sobretudo nos casos que envolvem crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Muitos episódios não chegam ao conhecimento das autoridades por medo, vergonha ou falta de acesso a canais de denúncia confiáveis.

Especialistas defendem que o enfrentamento à violência sexual no Brasil exige ações coordenadas entre governos, justiça, escolas e sociedade civil, com políticas públicas que fortaleçam o acolhimento às vítimas, ampliem a conscientização sobre os direitos e desestimulem a impunidade que ainda predomina nesses crimes.

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