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Descoberta foi publicada na revista Food Research International e lança alerta sobre riscos associados ao consumo de ostras
Para chegarem a esse resultado, foram analisadas 108 amostras / Edson Barbieri
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Pesquisadores da USP, Instituto de Pesca e outras instituições identificaram bactérias multirresistentes e altas concentrações de arsênio em frutos do mar prontos para consumo vendidos no Brasil.
A descoberta foi recém-publicada na revista Food Research International e lança um importante alerta sobre os riscos associados ao consumo de ostras comercializadas no país.
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O estudo identificou uma combinação alarmante: níveis elevados de arsênio e a presença de bactérias multirresistentes a antibióticos em ostras prontas para consumo adquiridas em mercados nos estados de São Paulo e Santa Catarina.
Para chegarem a esse resultado, foram analisadas 108 amostras das espécies Crassostrea gigas e Crassostrea brasiliana, coletadas entre setembro de 2022 e março de 2023, em cinco mercados brasileiros.
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Os resultados revelaram que ostras de três desses mercados continham concentrações de arsênio acima do limite permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que é de 1,0 mg/kg.
Em alguns casos, as concentrações ultrapassaram 1,9 mg/kg. Além disso, também foram detectadas quantidades consideráveis de chumbo, cádmio, cromo e prata, embora o mercúrio estivesse abaixo dos limites de detecção.
Paralelamente, o estudo identificou cepas de Enterobacterales, um grupo de bactérias que inclui patógenos importantes resistentes a múltiplas classes de antibióticos, incluindo fármacos de última linha.
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Testes com o modelo in vivo Galleria mellonella demonstraram que algumas dessas cepas apresentaram comportamento altamente virulento.
A associação entre a presença de metais pesados — sobretudo o arsênio — e a seleção de cepas bacterianas com alta tolerância e resistência antimicrobiana é especialmente preocupante.
“O arsênio parece exercer pressão seletiva, favorecendo a proliferação de bactérias resistentes e potencialmente virulentas. Isso representa um risco direto à saúde humana, considerando que essas ostras são comercializadas como alimentos prontos para consumo, frequentemente ingeridos crus”, explica o Dr. Felipe Vásquez-Ponce, microbiologista e primeiro autor do estudo.
O estudo apontou também que algumas bactérias apresentaram perfis de tolerância a diversos metais pesados, como cobre, prata, cobalto e mercúrio, sugerindo múltiplas adaptações ao ambiente contaminado, como explicou o Dr. Nilton Lincopan:
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“A pesquisa utilizou metodologias avançadas de biologia molecular, espectrometria e sequenciamento genômico (WGS), e incluiu análises comparativas com cepas de diversos países, revelando estreita relação entre os isolados brasileiros e clones patogênicos de origem hospitalar detectados na América do Sul”, disse ele.
O Dr. Edison Barbieri, que contribuiu com a análise ambiental e ecológica do estudo, destaca que os resultados reforçam a necessidade de ações urgentes de monitoramento e regulação sanitária.
“É fundamental que haja rastreabilidade da origem das ostras comercializadas, fiscalização mais rigorosa nos pontos de venda e incentivo à pesquisa sobre os impactos da poluição costeira sobre a segurança alimentar”, afirma.
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Intitulada “Arsenic bioaccumulation in ready-to-eat oysters can contribute to the selection of WHO critical priority Enterobacterales displaying a virulent behavior”, a pesquisa foi conduzida por uma equipe multidisciplinar formada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), PUC de Valparaíso do Chile , Instituto de Pesca (APTA/SAA-SP), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), entre outros.