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Sem esconder o abatimento, a presidente Dilma Rousseff fez nesta quinta-feira, 4, em Salvador o primeiro desabafo em público sobre a decisão dos partidos aliados de rejeitar a realização do plebiscito neste ano, além de se referir às manifestações que derrubaram sua popularidade. Dilma se referiu ao tema quase duas horas depois de uma entrevista do vice-presidente Michel Temer, em Brasília, na qual ele descartou o plebiscito agora. No final da tarde, Temer divulgou nota dizendo que o melhor seria um plebiscito agora. Só complicou a situação.
"Não sou daquelas que acreditam que o povo é incapaz de entender (o plebiscito) porque as perguntas são complicadas". "Eu não descansarei enquanto não puder atender a tudo aquilo que sei que é impossível", disse a presidente, durante discurso na cerimônia de divulgação de um plano para agricultura. Indagada ao descer do palanque se vai reverter a má fase do governo, Dilma respondeu: "Vamos reverter".
Pela manhã, num encontro com 20 sindicalistas e ativistas sociais, na Base Aérea de Salvador, a presidente disse estar atenta à voz das ruas, mas avaliou que o Congresso deve ser mais cobrado e os manifestantes precisam apresentar a solução para os problemas e demandas. "É legítimo cada setor da população apresentar a sua pauta, mas é importante que digam como eu posso atender as reivindicações e fazer as coisas", afirmou.
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Nesse primeiro encontro - fechado à imprensa - ela reclamou que propostas importantes do governo para a melhoria de vida nas cidades esbarram no Legislativo. "Espero que o Congresso republicano ouça também a voz das ruas e aprove medidas que estão sendo solicitadas", disse. "O Congresso precisa fazer a sua parte", completou. As declarações de Dilma foram relatadas ao jornal O Estado de S.Paulo por Cedro Silva, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e Márcio Oliveira, do Movimento dos Sem Terra (MST), da Bahia.
Após o encontro, Dilma foi para o Centro de Convenções de Salvador onde o governador Jaques Wagner (PT) e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), organizaram um ato de apoio a ela. Eles aproveitaram o evento de lançamento da versão semiárido do Plano Safra de Agricultura Familiar 2013-2014 - que anunciou uma linha de financiamento de R$ 7 bilhões e perdão de dívidas agrícolas - para realizar a festa. O governador de Pernambuco e possível candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB), saiu antes dos discursos se exaltarem a favor de Dilma.
Para baratear os custos com a claque, os organizadores encheram o Auditório Iemanjá com moradores da Mata Escura, um bairro da periferia de Salvador. Eles foram levados em 16 ônibus e ganharam almoço e camisetas. Os moradores estavam dispostos a aplaudir a presidente, repetindo à exaustão um refrão ensaiado pelos marqueteiros: "Dilma, paz e vida".
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O Planalto também se esforçou para mostrar a "força" da presidente. Estavam no evento os ministros Fernando Bezerra (Integração), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Antonio Andrade (Agricultura), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Eleonora Menicucci (Secretaria de Mulheres), Helena Chagas (Secretaria de Comunicação) e César Borges (Transportes). Bezerra deu início ao desagravo a Dilma. "A senhora será julgada no tempo certo, porque o seu governo, no conjunto, tem muitas iniciativas", afirmou o ministro. Depois foi a vez de Jaques Wagner dizer que a presidente escutava e conversava com as ruas. "Se as ruas querem acabar com a corrupção não há roupa melhor para lhe vestir. A senhora é mulher de transparência."