Política
O deputado petista enterrou as esperanças da presidente da República e de seu próprio partido de fazer o plebiscito com regras para as próximas eleições
Continua depois da publicidade
No mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff reafirmou que considera a consulta popular fundamental para mudar a política brasileira, o deputado petista Cândido Vaccarezza, coordenador do grupo de trabalho da Câmara dos Deputados encarregado de fazer uma proposta para a reforma política, afirmou que nada do que for decidido pelo Congresso valerá para as eleições do ano que vem. Desse modo, ele enterrou as esperanças da presidente da República e de seu próprio partido, o PT, de fazer o plebiscito com regras para as próximas eleições.
Vaccarezza disse que o trabalho do grupo poderá se encerrar antes do prazo de 90 dias estabelecido pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Mas não há possibilidade de que as mudanças sejam aplicadas na eleição de 2014, quando a presidente Dilma Rousseff tentará a reeleição. Vaccarezza disse que em agosto ele terá uma ideia geral do que será votado. Toda regra eleitoral só vale para a próxima eleição quando votada um ano antes do pleito. A do ano que vem ocorrerá no dia 5 de outubro.
"Este grupo não aprovará nenhuma medida para 2014. O que nós aprovarmos aqui vai valer para 2016 e para 2018", disse Vaccarezza. "Não cabe a mim fazer demagogia". Após a primeira reunião do grupo, nesta quarta-feira à tarde, Vaccarezza disse que em 22 de agosto o grupo de trabalho deve decidir o que será debatido sobre a reforma política. Vaccarezza também disse que o grupo de trabalho terá um portal na internet para que a sociedade civil possa enviar ideias e propostas aos deputados.
Convidado a integrar o grupo de trabalho da reforma política depois da desistência de Henrique Fontana (PT-RS), que saiu atacando Vaccarezza, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) prometeu criar polêmica no colegiado e no seu partido. Ele quer acabar com a figura do marqueteiro, fundamental tanto na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva quanto na de Dilma Rousseff. "Vamos acabar com a farra dos marqueteiros, porque hoje isso virou um leilão", afirmou Berzoini na primeira reunião do grupo.
Continua depois da publicidade
Um pouco antes de Vaccarezza anunciar o enterro de qualquer possibilidade de mudanças na legislação eleitoral para o ano que vem, a presidente Dilma Rousseff aproveitou um evento no Palácio do Planalto para retomar o assunto, levantado por ela durante uma reunião com todos os governadores, ainda no calor das manifestações populares do mês de junho. Dilma insistiu que a consulta popular é a resposta para o clamor das ruas. Mas admitiu que não houve cobrança por uma reforma política.
"A gente viu o que era cobrado nas ruas, nos cartazes. Não era cobrado, diretamente, 'faça um plebiscito' ou 'faça uma consulta popular', mas era uma variante disso. Era cobrada mais ética, mais democracia, mais oportunidade de ser ouvido, acho que, sobretudo, isso: oportunidade para ser ouvido. E isso tudo passa, eu acredito, por uma reforma política", disse Dilma.
Continua depois da publicidade
Na avaliação do Planalto, os manifestantes que saíram às ruas do País já acumulam uma série de vitórias - a "voz das ruas" fez o Legislativo derrubar a PEC 37 e votar parcialmente o projeto que torna a corrupção crime hediondo, prefeituras reduzirem o preço das tarifas de ônibus, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a prisão imediata do deputado Natan Donadon (PMDB-RO) e a própria Dilma se pronunciar em rede nacional e empunhar a bandeira da reforma política.
Embora tenha aparecido em queda muito forte nas últimas pesquisas de opinião sobre avaliação de seu governo e mesmo na preferência do eleitorado para as próximas eleições, Dilma citou as sondagens para dizer que está com a razão quando propõe o plebiscito da reforma política. "Tenho recebido da sociedade, tenho recebido dos prefeitos, dos governadores, dos movimentos sociais, e tenho visto também nas pesquisas que essa questão da reforma política feita através de consulta popular, ela é imprescindível como uma resposta efetiva ao desejo profundo que emanou das manifestações, esse desejo por transformações", afirmou ainda a presidente.
Espécie de assessor para tudo da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reconheceu que há muitas dificuldades para se fazer a reforma política. Para ele, os parlamentares não conseguem "trabalhar com mudanças de regras, principalmente em um momento como este de tempo exíguo". Mercadante lembrou que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva também tentaram fazer uma reforma política, sem êxito. Mas, em descompasso com seu companheiro de partido Cândido Vaccarezza, Mercadante insistiu na reforma ainda este ano: "Temos uma grande oportunidade. Vamos ver qual o trabalho desta comissão e qual a reforma possível para este ano", afirmou.
Continua depois da publicidade