13 de Outubro de 2024 • 01:08
Política
O ex-presidente relatou o caso da possível entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como um exemplo em que as divergências regionais foram contraproducentes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 13, que os países sul-americanos precisam superar divergências políticas e desconfianças para tornar o discurso integracionista em prática. "Precisamos transformar a retórica integracionista em coisas práticas. Nós somos muito mais otimistas em nossos discursos, muito mais esquerdistas e progressistas, e mais conservadores na execução dos nossos discursos no dia a dia", disse Lula em um evento realizado pelo instituto que leva seu nome em parceria com a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Lula relatou o caso da possível entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como um exemplo em que as divergências regionais foram contraproducentes. Ele argumentou que a entrada do Brasil no conselho já era praticamente uma unanimidade e que a desconfiança de outros países sobre uma possível hegemonia do Brasil contribuiu para que a negociação não evoluísse. "Há essa disputa entre nós, um achando que o outro vai ter hegemonia sobre o outro. Enquanto a gente pensar assim, a gente vai andar muito pouco", avaliou.
O ex-presidente lembrou ainda episódios em décadas passadas que comprovariam a tese de desconfiança mútua e até de um racha entre Brasil e outros países da América Latina. Para Lula, o Brasil era visto como "inimigo" e por isso passou de costas para a região por 500 anos, assim como a região ficou de costas para o Brasil. Ele citou a construção da usina de Itaipu na década de 1970, que teve oposição da Argentina. "A Argentina argumentou que Itaipu era perigoso, que podia alagar Buenos Aires, ameaçaram o Brasil até com bomba atômica."
Lula disse que esses fatores culturais somados ao "complexo de vira-lata" de parte da direita ainda geram obstáculos à integração comercial na América do Sul. Para ele, essa parte da direita ainda "teima em dizer" que não vale a pena a relação com o Mercosul e com outros blocos regionais. "No Brasil, tem pessoas de direita que se consideram avançadas e dizem que a exportação de serviços para (a construção do) porto de Mariel em Cuba ou para o metrô em Caracas é dar dinheiro para os outros", disse.
Integração de Legislativos
O ex-presidente Lula criticou em seu discurso os entraves burocráticos a acordos internacionais entre países sul-americanos. Disse que certa vez o Brasil ia fechar um acordo para importar bananas do Equador, mas que houve um problema de regulação sanitária. "No Brasil a gente sempre tem um problema fitossanitário", reclamou, cobrando uma postura mais aberta. "Se todos os países quiserem só vender, a gente não tem integração de cadeia produtiva coisíssima nenhuma". Segundo o ex-presidente a região já poderia ter avançado mais na cadeia produtiva de alimentos não fossem esses impasses. Ele citou também os setores naval e de aviação como alvos de acordos que poderiam estar mais adiantados.
Lula prometeu buscar os líderes legislativos no Brasil, presidente do Senado (Renan Calheiros) e da Câmara (Eduardo Cunha), para propor um encontro com lideranças das casas legislativas e partidárias de todos os países da região. Lula argumentou não ser possível que os acordos internacionais entrem "na fila normal dos projetos internos", o que leva a aprovação de um acordo bilateral, por exemplo, demorar anos para ser aprovada no Congresso. "Estou convencido que nossa preocupação com integração passa por maior integração política dos nossos dirigentes."
O ex-presidente disse considerar "lamentável" que disputas internas na região levem a um comportamento "de quem vai agradar mais aos Estados Unidos". Ele defendeu que se lute por uma maior integração no desenvolvimento tecnológico e nas trocas comerciais. "Temos que ficar menos na dependência do agrado que americanos podem fazer para gente." Ele abriu uma concessão para um país fora da região: a China.
Disse que gosta da ideia de países sul-americanos buscarem parcerias com o gigante asiático e afirmou não ver mal em conseguir investimento chinês via acordos bilaterais que cada país pode fazer de maneira independente com a China, mas ressalvou em tom de brincadeira que o País não precisa de importação de mão de obra. "Os chineses podem ajudar a resolver nossos problemas se cada país fizer acordo com eles. A única coisa que não precisa aqui é mais 'chinezinho', porque aqui já tem muito pobre para trabalhar."
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