15 de Outubro de 2024 • 05:41
Deputado federal em primeiro mandato, o santista Bruno Covas (PSDB-SP) começou o mandato no “olho do furacão”: foi escolhido pelo partido para atuar na CPI da Petrobras. Em visita ontem ao Diário do Litoral, o parlamentar comentou sobre o que espera dos depoimentos e também sobre as manifestações contra o Governo pelo País. Confira, a seguir, a entrevista:
Diário do Litoral – Atuando na CPI da Petrobras, onde ela pode chegar?
Bruno Covas – O propósito da CPI é colocar uma luz sobre o que disse o (ex-diretor da estatal) Pedro Barusco que, a partir de 2003, foi institucionalizada a propina dentro da Petrobras. Então, isso significa que alguém organizou, alguém se beneficiou. E tinha quem pagava, e quem recebia. Quando se usa a palavra ‘institucionalizar’, se tem um organograma por trás disso. A gente pretende botar uma luz nesse organograma. No mês passado tivemos oito depoimentos, esta semana temos mais dois, muitos deles conflitantes, e poderemos ter acareação.
DL – A tendência, então, é pedir dilatação do prazo da CPI?
Bruno – Uma CPI tem 120 dias. Esse deve terminar no fim do ano. Todos querem botar o dedo na ferida.
DL – Como um deputado como o senhor, em primeiro mandato, acabou em uma CPI tão importante?
Bruno – Fui escolhido pelo líder da bancada, o deputado Carlos Sampaio.
DL – Começar um mandato no ‘olho do furacão’ é bom ou ruim?
Bruno – Na Assembleia Legislativa, presidi algumas CPIs e fui relator de outras.
DL – Mas ser membro de uma CPI na Assembleia, com bancada governista expressiva, é diferente. Não concorda?
Bruno – Fui da CPI da Bancorp (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), cujo resultado foi o pedido ao Ministério Público a desconsideração da pessoa jurídica da Bancorp. Não acabou em pizza. O relatório foi aprovado por unanimidade, porque os deputados do PT não entraram para votar.
DL – O senhor acha que a atuação nas CPIs da Assembleia resultou na escolha do seu nome para a CPI da Petrobras?
Bruno – O líder do partido buscou, entre os três membros, dois nomes que já tinham participado de outras CPI e um com uma área mais técnica de legislação.
DL - A questão dos depoimentos contraditórios na CPI tende a ser uma tônica
Bruno – Não tenho a menor dúvida pelo o que eu vi neste mês. É isso que vai acontecer. Vão ser bem opostos. Na primeira reunião deliberativa, aprovamos 100 requerimentos de convocação e solicitação de documentos. Parte desses documentos ainda não chegou. Talvez, alguns dos que tenham ido depor, vão ter de voltar e explicar. O Vaccari (João Vaccari Neto, tesoureiro do PT) é como um personagem de novela: entrou agora e vai ter de voltar em outros episódios. Vai voltar para fazer acareação com o Barusco e com o (doleiro Alberto) Yousseff, porque ele negou o que os dois disseram.
DL – O senhor sente a base do Governo incomodada com a CPI?
Bruno – Já ouvi de deputado do PT dizendo que não aguenta mais ser minoria. Agora, todo início de reunião os deputados do PT perguntam por que foi convocado o Vaccari e não foi convocado o Fernando Baiano (considerado o operador do PMDB). E isso dá briga entre os deputados do PT e do PMDB. Diferente de outras CPIs, essa tem acompanhamento da população. E isso faz uma diferença muito grande. Uma pessoa não pode chegar e negar uma oitiva, querer prorrogar. Fica difícil.
DL – E o fato de ser uma CPI criada, em tese, em um novo governo, como o senhor vê as prováveis consequências?
Bruno – Acho que vai aprofundar ainda bastante. Até porque o escopo (objetivo) dela é maior do que a (operação) Lava Jato. E outro dado positivo da CPI é o compartilhamento de dados e a solicitação da quebra de sigilos, que não pode ser pedida pelo Conselho de Ética (da Câmara).
DL – Como o senhor, um deputado da oposição, vê a redução significante do número de participantes nas manifestações, se comparados os números de março e abril?
Bruno – Acho que tinha mais movimentos convocando para março. Só parte dos movimentos estava convocando para o último domingo. Era natural uma queda. Vi gente dessa vez que não pode ir em março e que foi no último domingo.
DL – E o senhor, compareceu às manifestações?
Bruno – Fui em março na Avenida Paulista e no domingo, aqui (em Santos). Senti que compareceram pessoas que pouco ou nunca participaram de movimentação política e que cansaram de assistir a tudo de forma passiva. Mas que não sabem direito como fazer, para onde ir, com quem reclamar, mas sabem que têm de ir para a rua.
DL – O senhor é advogado por formação. Apesar de ser um deputado de oposição, vê elementos para um impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que foi um dos pedidos desses atos?
Bruno – É muito mais uma questão política do que jurídica. O impeachment tem de vir de fora para dentro: da pressão popular para o Congresso.
DL – Mas para entrar na agenda do Congresso não precisa de um fato concreto?
Bruno – Da última vez foi um Fiat Elba (referindo-se ao episódio que resultou na cassação do então presidente Fernando Collor) que, nesse escândalo do Petrolão seria um caso para um Juizado de Pequenas Causas. A questão política é muito mais importante em um julgamento de impeachment.
DL – Mas o senhor sente consenso entre os deputados da oposição para querer, de fato, derrubar a presidente?
Bruno – Sinto. Tem deputados passando lista para apoio popular pedindo o impeachment. Não tenho dúvida. Hoje não tem número para passar o impeachment, aí não teria apoio. O que seria pior ainda: apresentar um pedido de impeachment para ele ser rejeitado, politicamente é muito pior.
DL – O senhor identifica um movimento em ascensão?
Bruno – Acho que é como uma panela fervendo água. Vai aumentando ou diminuindo a temperatura. Eu acho que a temperatura ainda está aumentando. Pode ser que uma hora a água evapore. A não ser que alguém jogue água fria e diminua a temperatura.
DL – E pelo o que o senhor vê hoje, o que vai acontecer?
Bruno – Pelo o que eu vejo hoje, a temperatura vai continuar subindo. Veja só isso: quando o vice-presidente da República é escolhido para fazer a articulação política é porque ela não encontrou mais ninguém no partido para fazer e, no dia seguinte, a Câmara aprova uma emenda de um deputado do PSDB proibindo empréstimo secreto do BNDES.
DL – O senhor se considera hoje um deputado da Baixada ou da Capital?
Bruno – Primeiro lugar: eu defendo o voto distrital. Eu preferia muito mais que o Estado de São Paulo fosse distribuído em 70 distritos e cada distrito elegesse seu deputado federal. Não é o sistema que me beneficiaria. Não fui assim que fui eleito deputado, mas acho o sistema distrital o mais justo porque é o que mais aproxima representantes de representados. Agora, este não é o sistema. E cabe ao candidato ter uma atuação política onde a população confia nele. E eu tive votação aqui na Região que venho mantendo nessas últimas três eleições (duas para deputado estadual e uma para federal) e também na Capital. Não há nenhum conflito. Desde 2006, tenho tido atuação no Sistema Imigrantes-Anchieta, é Capital e Baixada Santista.
DL – Nesse sentido, há uma conversa com os outros deputados federais eleitos na Baixada Santista para uma agenda conjunta para a Região?
Bruno – Converso direto com o Beto (Mansur, PRB), com o Papa (João Paulo Tavares Papa, do PSDB) e com o Marcelo (Squassoni, PRB). Tratamos tanto de questões políticas locais, como outras questões de Governo. Não há ainda uma agenda pronta para a Baixada. A construção dessa agenda é natural. É natural quem foi eleito por uma região tenha de trabalhar por ela.
Diário Mais
O assassinato brutal de Maria Féa, em Santos, aconteceu em 28 de outubro de 1928
Diário Mais
Localizada no Canal 4, em Santos, a antiga casa noturna encerrou as atividades após três décadas de funcionamento