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O Brasil vai enviar duas comissões a Washington para ouvir do governo americano explicações sobre o caso de espionagem de cidadãos e instituições brasileiras. O primeiro grupo será técnico e deverá tratar com peritos americanos. O segundo, político - possivelmente em nível ministerial - quer conversar sobre mudanças na relação dos Estados Unidos com a espionagem em outros países.
Depois de se oferecer para receber uma comissão, o governo americano informou que irá apresentar aos técnicos brasileiros o sistema de monitoramento usado pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) e em qual contexto é usado. A ideia inicial era de que os peritos americanos viessem ao Brasil, mas a presidente Dilma Rousseff acreditou ser mais produtivo que os brasileiros fossem a Washington.
Uma lista de questões para serem levadas aos americanos está sendo preparada por peritos brasileiros que fazem parte de um grupo técnico formado pelo governo há cerca de duas semanas para confirmar a existência da espionagem e em que grau foi feita. A intenção é que eles voltem com informações para apresentar um relatório ao governo e embasar a segunda visita, essa em nível político, possivelmente formada por ministros.
Nesse segundo encontro, o governo brasileiro pretende levar já sugestões de mudanças na prática americana de monitoramento para que não haja mais o que foi considerado pela presidente como uma quebra de soberania. Nenhuma das duas visitas tem ainda data marcada.
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O convite para a viagem a Washington foi feita primeiro pelo embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, mas não foi respondida pelo governo brasileiro. Na semana passada, o vice-presidente Joe Biden ligou para a presidente Dilma Rousseff para tratar do assunto e repetiu o convite, finalmente aceito.
Nesta quarta-feira, 24, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, confirmou que os encontros estão sendo negociados. "Haverá uma primeira conversa, mais técnica, com peritos americanos, e um segundo momento, mais abrangente, em nível político", afirmou o ministro.
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A intenção é que o caso seja tratado paralelamente e sem interferir na visita de Estado que Dilma fará a Washington em 23 de outubro. Apesar de ter ficado bastante irritada com o caso e exigir respostas, a própria presidente deixou claro que não pretendia ver surgir uma crise política entre os dois países causada pela espionagem.
Além da pedir mudanças nas políticas americanas de monitoramento, o governo brasileiro começa a agir em fóruns multilaterais. Quer criar um comitê sobre segurança cibernética no Mercosul que deve ser ampliado para a União das Nações Sul-americanas. Ao mesmo tempo, diplomatas brasileiros começam a sondar, especialmente nas Nações Unidas, a receptividade dos demais países a um marco legal internacional sobre o assunto.
Até hoje sempre houve muita resistência ao tema, especialmente por medo de restrições ao trabalho de inteligência. A intenção do Itamaraty é centrar as discussões em segurança cibernética, o que tem ajudado a ganhar adesões incipientes. A Alemanha, por exemplo, já deu mostras de que pode ser simpática ao tema, assim como outros países que se descobriram monitorados pelos Estados Unidos.
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