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O mar está engolindo a Praia da Macumba? Entenda a sucção de areia que preocupa o Rio

A urbanização mal planejada sobre restinga e dragagem do Canal de Sernambetiba aceleram a erosão e fazem a praia desaparecer

Giovanna Camiotto

Publicado em 06/11/2025 às 13:31

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A faixa de areia está visivelmente mais estreita, com quatro degraus abaixo do nível da calçada / Unsplash

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Uma cena incomum e preocupante se instalou na Praia da Macumba: a faixa de areia está visivelmente mais estreita, com quatro degraus abaixo do nível da calçada e um declive acentuado que sugere que a praia está sendo engolida pelo oceano.

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O que era um movimento natural das marés se transformou em um problema grave: a areia que o mar leva nas ressacas e marés altas não está mais conseguindo retornar.

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Moradores e frequentadores assíduos, como Maria de Fátima Araújo, relatam o temor constante do avanço do mar, relembrando episódios marcantes. Há pelo menos 20 anos, a área sofre com desmoronamentos recorrentes de estruturas construídas no local, como a ciclovia e rampas de acesso.

Erro humano e erosão acelerada

Em entrevista ao jornal O Globo, a geóloga marinha Renata Rebouças, professora da faculdade de Oceanografia da UERJ, explicou que o fenômeno é resultado de uma combinação fatal de fatores que envolvem a ação humana e a força da natureza:

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  • Destruição da Restinga: O principal erro foi a série de construções e a criação de um calçadão há cerca de 20 anos sobre a restinga. Essa vegetação é a proteção natural da praia, responsável por absorver e diminuir os impactos das ondas. Com a restinga substituída, a praia ficou vulnerável.
     
  • Soluções ineficazes: Tentativas de conter o mar, como a instalação de "geobags" (sacos de material sintético cheios de concreto empilhados), não deram certo. A geóloga explica que, diferentemente da restinga, os geobags não absorvem o impacto das ondas, devolvendo-as ao mar com a mesma força, o que impede a areia submersa de voltar.
     
  • Areia perdida no canal: Outro fator crucial é a relação com o vizinho Canal de Sernambetiba. Em certas marés, a areia é levada para dentro do canal. O problema se agrava porque, quando se faz a dragagem no canal, a areia não é devolvida à praia na quantidade original, acelerando o 'sumiço' do material. 
A erosão acelerada reduziu a faixa de areia a um desnível acentuado. O maior culpado é a destruição da restinga, a vegetação nativa que funcionava como "amortecedor" natural contra a força do mar/Unsplash
A erosão acelerada reduziu a faixa de areia a um desnível acentuado. O maior culpado é a destruição da restinga, a vegetação nativa que funcionava como "amortecedor" natural contra a força do mar/Unsplash
Geólogos apontam que isso é agravado pelas dragagens no Canal de Sernambetiba, que não repõem o material na mesma quantidade, e pelas soluções de engenharia que não absorvem o impacto das ondas/Unsplash
Geólogos apontam que isso é agravado pelas dragagens no Canal de Sernambetiba, que não repõem o material na mesma quantidade, e pelas soluções de engenharia que não absorvem o impacto das ondas/Unsplash
Moradores da Praia da Macumba vivem o medo constante do mar. Relatos de anos mostram desmoronamentos recorrentes de estruturas construídas no local/Unsplash
Moradores da Praia da Macumba vivem o medo constante do mar. Relatos de anos mostram desmoronamentos recorrentes de estruturas construídas no local/Unsplash
A restinga é a guarda-costas natural das praias, fixando a areia e absorvendo o impacto das ressacas/Unsplash
A restinga é a guarda-costas natural das praias, fixando a areia e absorvendo o impacto das ressacas/Unsplash
Especialistas alertam que intervenções como os geobags (sacos de concreto) contêm o avanço do mar, mas devolvem a onda com a mesma força, impedindo o retorno da areia/Unsplash
Especialistas alertam que intervenções como os geobags (sacos de concreto) contêm o avanço do mar, mas devolvem a onda com a mesma força, impedindo o retorno da areia/Unsplash

O que está sendo feito?

A Secretaria de Meio Ambiente e Clima informou que está investindo na recomposição da restinga em trechos da orla e que reuniu seu corpo técnico para estudar a melhor intervenção para o trecho mais crítico da praia.

No entanto, a geóloga Renata Rebouças faz um alerta crucial: qualquer intervenção precisa ser planejada com base em estudos técnicos aprofundados. "É preciso que tenha um bom estudo oceanográfico antes de qualquer solução," ela pondera.

Segundo a especialista, soluções apressadas e sem embasamento em modelagens das ondas e evolução histórica das intervenções tendem a gerar mais problemas, citando o exemplo da cidade de Itajaí, em Santa Catarina, que sofreu inundações após o engordamento de suas praias.

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A recomendação é trabalhar com soluções baseadas na natureza, como a recuperação da restinga, que oferece serviços ecossistêmicos naturais de proteção.

Confira imagens da praia carioca no vídeo publicado pelo Go It Viagens.

 

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