Durante a entrevista, Lula criticou duramente a decisão americana / Reprodução/Record
Continua depois da publicidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente a decisão de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
A medida, que teria sido motivada pela alegada perseguição do Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro, foi um dos pontos abordados em uma entrevista exclusiva de Lula à jornalista Christina Lemos, exibida no Jornal da Record na noite desta quinta-feira (10).
Continua depois da publicidade
Durante a entrevista, Lula criticou duramente a decisão americana e afirmou que Trump demonstra desconhecimento sobre a realidade brasileira e sobre as relações diplomáticas entre os dois países.
“Se o presidente Trump conhecesse um pouquinho do Brasil, ele teria mais respeito com o Brasil. O Brasil tem duzentos e um anos de relação com os Estados Unidos. Uma relação diplomática, virtuosa, de benefício para ambos os lados”, declarou o presidente.
Continua depois da publicidade
Lula afirmou que sempre teve boas relações com outros presidentes americanos, como Clinton, Bush, Obama e Biden, e ressaltou que o Brasil é um país aberto ao diálogo.
Segundo ele, o conteúdo da carta enviada por Trump não condiz com a verdade, nem na área comercial nem no respeito à soberania brasileira.
“O que você não pode é receber uma carta onde nem verdadeira a carta é no que diz respeito à questão comercial. Primeiro, na questão da soberania do Brasil, nós queremos que ele respeite o Brasil. Segundo, na questão da justiça brasileira, ele tem que respeitar a justiça brasileira como eu respeito a americana”, afirmou.
Continua depois da publicidade
O presidente também comparou o caso da invasão do Capitólio, nos EUA, com os atos antidemocráticos ocorridos em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Para ele, se Trump estivesse no Brasil, também estaria sendo investigado.
Na entrevista, Lula rebateu os argumentos econômicos apresentados por Trump, que alegou que os EUA teriam prejuízo nas trocas comerciais com o Brasil.
“Ele acha que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil. Não é verdade. Se você pegar o ano passado, nós exportamos 40 bilhões e importamos 47, foi um déficit de 7. Mas se você pegar nos últimos 15 anos, importação e serviços, nós temos um déficit de 410 bilhões de dólares em 15 anos”, detalhou o presidente.
Continua depois da publicidade
Diante da gravidade do anúncio, Lula disse que já convocou uma reunião de emergência com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda) para discutir as medidas a serem adotadas.
O governo avalia acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), além de articular uma resposta junto a outros países.
“Nós vamos tomar medidas do ponto de vista diplomático. Podemos recorrer à OMC, podemos mandar investigação com outros países, cobrando dos Estados Unidos coerência”, explicou.
Continua depois da publicidade
O presidente também confirmou que o Brasil está pronto para aplicar a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional. Caso os EUA mantenham a nova tarifa, produtos americanos também poderão ser taxados em 50%.
“Se ele vai cobrar 50 de nós, nós vamos cobrar 50 dele. Primeiro nós vamos tentar negociar, mas se não tiver negociação, a lei da reciprocidade será colocada em prática”, afirmou.
Lula ainda responsabilizou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho por influenciarem diretamente a decisão de Trump.
Continua depois da publicidade
“Foi o filho dele que foi lá fazer a cabeça do Trump. Começa uma carta tentando fazer um julgamento de um processo que está na mão da Suprema Corte”, disse.
Por fim, Lula mandou um recado direto ao presidente americano:
“Respeito é bom, eu gosto de dar e gosto de receber. O que não pode é ele pensar que foi eleito para ser xerife do mundo. Ele foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, quem manda somos nós, brasileiros.”
Continua depois da publicidade
A entrevista foi gravada no Palácio da Alvorada e marcou a estreia do novo quadro político de Christina Lemos no Jornal da Record.