Educação

Unicamp atinge 50% de alunos oriundos de escola pública; debate racial permanece

A instituição adota um sistema de bonificação para alunos da rede pública por meio do Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social (Paais)

Agência Brasil

Publicado em 08/04/2017 às 22:30

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Unicamp atinge 50% de alunos oriundos de escola pública / Divulgação

Estudantes oriundos de escolas públicas representam, pela primeira vez, metade dos matriculados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No vestibular de 2017, o percentual chegou a 50,3% dos aprovados, de um total de 3.248 ingressantes. A instituição adota um sistema de bonificação para alunos da rede pública por meio do Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social (Paais). A reitoria comemora ter atingido a meta de inclusão prevista para esse ano, mas grupos da universidade defensores do sistema de cotas destacam que a medida ainda não é suficiente.

O coordenador-executivo da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), Edmundo Capelas de Oliveira, aponta que a mudança no Paais com a inclusão do bônus de pontuação desde a primeira fase (antes era computado apenas na segunda) contribuiu para o resultado. “Uma das vantagens do programa é que ele permite ajustes, sempre que necessário”, disse. Segundo o coordenador, a comissão produz simulações e estudos para subsidiar as discussões no Conselho Universitário, órgão máximo da Unicamp responsável por definir as políticas de acesso.

Para o professor Mário Medeiros, do Departamento de Sociologia, o resultado representa um avanço, pois cumpre um aspecto da função social da universidade pública, “mas não contempla plenamente no que diz respeito à entrada de estudantes pretos, pardos e indígenas”. Ele destaca ainda que é preciso entender de quais escolas os alunos são oriundos. “Há uma crítica ao processo do Paais de que ele atende um perfil específico de escolas públicas [técnicas e militares], que são conhecidos como colégios de elite [entre os da rede pública]”, avaliou o professor, que integra o grupo de trabalho sobre cotas criado pela reitoria.

De acordo com Oliveira, o percentual de pretos, pardos e indígenas está próximo da meta de 35% entre as vagas reservadas para alunos de escolas públicas. O patamar deste ano ficou em 32,4%, um leve recuo em relação ao ano passado, quando o índice ficou em 33,9%. “É importante ressaltar que, em alguns cursos, simplesmente não há demanda”, declarou. Este é um dos pontos criticados pela Frente Pró-cotas da Unicamp, formada por estudantes. Segundo comunicado do grupo, ao considerar o percentual de 35% das vagas já reservadas no Paais, a universidade estaria destinando 17,5% para este segmento. “É a metade da proporção das populações negra e indígena do estado”.

Debate

O grupo de trabalho sobre cotas criado pela reitoria promoveu audiências públicas no ano passado e apresentou relatório em que indica a necessidade de adoção de ações afirmativas na universidade. O texto mantém aspectos do Paais, mas propõe a reserva de vagas para estudantes pretos e pardos com percentual de 18,6% das vagas disputadas por estudantes de escolas públicas e o mesmo percentual da ampla concorrência, totalizando 37,2% das vagas para negros. Para indígenas, a proposta é reservar duas vagas em todos os cursos e por turno, em um vestibular próprio.

O indicativo é que os departamentos discutam a proposta para uma decisão na reunião do Conselho Universitário no final de maio.

Pós-graduação

O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), do qual o Departamento de Sociologia faz parte, foi pioneiro na universidade em adotar o sistema de cotas na pós-graduação. Medeiros destaca que a experiência tem sido avaliada de forma muito positiva. “Entraram novos projetos de pesquisa na pós-graduação, com temas que não costumavam frequentar ou que há algum tempo não apareciam”, apontou. Além disso, ampliou-se o número de alunos de outros estados. “Houve uma renovação de uma agenda de pesquisa que é absolutamente importante para o desenvolvimento científico”, acrescentou.

O professor disse ainda que a iniciativa impulsionou outros departamentos a fazerem esse debate. “Há um movimento geral na sociedade e um movimento crescente no interior da universidade para que haja debate e eventualmente implementação da reserva de vagas para negros e indígenas, visando o aumento da diversidade e a complexificação da visão de mundo científico”, apontou. Como exemplo de que o debate tem avançado, ele lembrou da aprovação da reserva de vagas para negros e indígenas na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais tradicionais do país, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

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