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Conheça o novo vírus mayaro, que provoca febre, dores e pode chegar na área urbana

Cientistas da Unicamp, USP, Imperial College de Londres e Universidade de Kentucky (EUA) pedem medidas urgentes de vigilância epidemiológica a fim de evitar avanço da doença

Da Reportagem

Publicado em 20/05/2024 às 13:32

Atualizado em 20/05/2024 às 13:34

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O novo arbovírus foi detectado inicialmente em áreas desflorestadas no estado de Roraima / Josué Damacena/IOC/Fiocruz

O Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançou um alerta para um vírus emergente que passou a circular em ambientes de desmatamento na Floresta Amazônica. O alerta acaba de ser publicado na revista científica Emerging Infectious Diseases e chama atenção para o risco iminente de migração do vírus mayaro para os ambientes urbanos.

Os pesquisadores liderados pelo professor José Luiz Proença-Modena consideram urgente a adoção de ações de vigilância epidemiológica a fim de evitar a migração do mayaro, considerado emergente e potencialmente causador de doenças infecciosas. A exemplo da dengue e do chikungunya, o mayaro provoca febre alta, dores articulares e cansaço.

O novo arbovírus foi detectado inicialmente em áreas desflorestadas no estado de Roraima. E, para surpresa dos cientistas ligados à Unicamp, ele consegue conviver no mesmo ambiente com o chikungunya.

O mayaro é transmitido pelo mesmo vetor da febre amarela, o mosquito silvestre conhecido cientificamente como Haemagogus janthinomys. Porém, os pesquisadores liderados por Proença-Modena ainda não identificaram nenhum paciente contaminado pelos dois vírus ao mesmo tempo.

Mas o desmatamento causado pela exploração ilegal de recursos naturais, sobretudo o garimpo, pode fazer com que a transmissão do mayaro passe a ocorrer em ambientes urbanos. Pescadores, garimpeiros e madeireiros são as eventuais pontes para introdução do vírus nas cidades de Roraima e, daí, para outras regiões do Brasil.

“Como mayaro e chikungunya têm alto grau de compartilhamento antigênico, era esperado que uma infecção protegesse o indivíduo da outra. Ou seja, a crença era de que os anticorpos específicos e os linfócitos T (células do sistema imune) produzidos como resposta à infecção por um dos vírus tivessem a capacidade de reconhecer o outro. Entretanto, ao contrário disso, detectamos mayaro e chikungunya nas mesmas regiões”, diz Proença-Modena.

Na avaliação dos cientistas, a cocirculação desses dois arbovírus indica a necessidade da implementação de métodos moleculares para o diagnóstico preciso (exames do tipo RT-PCR, que detectam o material genético presente em amostras biológicas).

“São doenças que clinicamente se confundem, pois causam sintomas semelhantes”, pontua Julia Forato, ex-bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e autora do estudo junto com Proença-Modena.

Segundo Forato, no estudo realizado pela equipe da Unicamp e publicado agora na revista científica de circulação internacional, 11% das amostras infectadas por esse vírus eram de pescadores.

“Precisamos de uma vigilância robusta, não só para identificar o quanto a atividade humana em áreas de floresta pode impactar a dinâmica da circulação dos vírus, mas também para prever possíveis novos surtos. Todas essas doenças são muito incapacitantes, geram prejuízos financeiros e sociais aos pacientes, além de onerar em demasia o sistema de saúde para atendimento desses pacientes”, sublinha Proença-Modena.

Amazônia+10

O projeto que deu origem ao artigo em pauta busca avaliar como a atividade humana em áreas de floresta impacta a dinâmica de circulação viral. A equipe se propôs a investigar essa relação em três pontos focais: na reocupação da BR-319 (Rodovia Manaus-Porto Velho, que está sendo recuperada), em uma área de mineração no Estado do Pará e no Estado de Roraima, que registra alta populacional de migrantes e onde há forte presença de garimpo em áreas de mata próximas a cidades.

A empreitada envolve, além da Unicamp, grupos da Universidade Federal de Roraima (UFRR), do Laboratório Central de Saúde Pública de Roraima, da Universidade de São Paulo (USP), da Fiocruz Amazônia, do Imperial College de Londres (Reino Unido) e da University of Kentucky (Estados Unidos). E recebe apoio da Fapesp.

Das 822 amostras de sangue coletadas de pacientes atendidos em postos de saúde e que apresentavam doença febril aguda (febre alta associada a calafrios, cefaleia, dores musculares ou tosse), 190 (23,1%) testaram positivo para algum arbovírus (vírus transmitidos por vetores invertebrados, sobretudo mosquitos).

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