Brasil
Desmatamento e mudança no uso da terra fazem de Altamira, no Pará, a campeã nacional em emissões; ranking expõe peso da Amazônia na crise climática.
Conhecida como 'Princesinha do rio Xingu', Altamira se estende às margens de uma das principais vias fluviais do Pará, onde o contraste entre beleza natural e degradação ambiental revela o dilema da Amazônia / Reprodução/Youtube Turismo Aqui
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Altamira, no sudoeste do Pará, carrega números grandiosos e contraditórios. É a terceira maior cidade do mundo em extensão territorial, com impressionantes 159,5 mil km², maior que países como Portugal, Islândia, Irlanda e Suíça. Mas também ostenta um título preocupante: é a cidade brasileira que mais emite gases de efeito estufa (GEE), segundo dados do Observatório do Clima.
De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), apenas em 2019, Altamira liberou mais de 35 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono (CO) na atmosfera. O principal responsável é o desmatamento, impulsionado por queimadas, expansão agropecuária e atividades madeireiras ilegais.
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O problema não é isolado: dos 10 municípios que mais emitem gases do efeito estufa no país, oito estão na Amazônia. A lista inclui São Félix do Xingu (PA), Porto Velho (RO), Lábrea (AM) e Pacajá (PA) — todos com histórico de devastação florestal e avanço de fronteiras agrícolas. Já São Paulo e Rio de Janeiro aparecem no ranking por conta das emissões urbanas e do setor energético.
Altamira (PA)
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São Félix do Xingu (PA)
Porto Velho (RO)
Lábrea (AM)
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São Paulo (SP)
Pacajá (PA)
Novo Progresso (PA)
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Rio de Janeiro (RJ)
Colniza (MT)
Apuí (AM)
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Altamira concentra problemas que se multiplicam pela Amazônia: avanço do desmatamento, conflitos agrários e urbanização acelerada. A cidade, que abriga mais de 126 mil habitantes, já registrou taxas de homicídios três vezes maiores que a média nacional, reflexo direto da pressão social e territorial em uma região onde interesses econômicos, florestais e populacionais se cruzam.
Com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, o município se tornou palco de disputas entre desenvolvimento e preservação. O empreendimento, operado pela Norte Energia, alterou o curso do rio e afetou ecossistemas e comunidades ribeirinhas.
Um estudo publicado na revista Conservation Biology revelou que a barragem aumentou a seca e reduziu a pesca tradicional, impactando diretamente o modo de vida das populações locais. A empresa, por sua vez, contesta os resultados e afirma que os efeitos naturais foram considerados no planejamento da obra.
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Apesar dos desafios ambientais, Altamira é também terra de resistência e diversidade cultural. Em 2025, o município sediou os Jogos Indígenas do Xingu, reunindo 14 etnias em celebrações esportivas e rituais ancestrais.
O território abriga 52 aldeias indígenas, entre elas Arara, Iriri, Kararaô, Kwatinemu, Marupai e Tukaya, reafirmando o protagonismo dos povos originários na preservação da floresta e na luta por direitos territoriais.
Conhecida como 'Princesinha do rio Xingu', Altamira se estende às margens de uma das principais vias fluviais do Pará, onde o contraste entre beleza natural e degradação ambiental revela o dilema da Amazônia contemporânea.
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Símbolo de abundância e de conflito, Altamira reflete um Brasil dividido entre o progresso econômico e a urgência climática. Em um mundo que busca reduzir emissões e conter o aquecimento global, o destino da maior emissora do país é também o espelho dos desafios que a floresta e seus povos enfrentam para continuar existindo.