Brasil

Tecnologia brasileira reduz 'arroto de boi' e transforma a criação de gado

Método diminui emissão de metano e reduz uso de agrotóxicos; entenda como funciona e por que pode revolucionar pecuária brasileira

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 21/11/2025 às 10:57

Atualizado em 21/11/2025 às 11:19

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Pecuária é, hoje, a maior fonte de gases de efeito estufa no Brasil / Pexels

Continua depois da publicidade

A pecuária é, hoje, a maior fonte de gases de efeito estufa no Brasil — especialmente devido ao metano liberado no arroto e nas fezes do gado.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Mas uma técnica criada na Amazônia vem ganhando destaque por oferecer uma solução sustentável e economicamente vantajosa. Trata-se do Sistema Guaxupé, desenvolvido pela Embrapa, que reduz emissões, melhora o solo e aumenta a produtividade das pastagens.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• 'As pessoas podem não entender, mas sentem a poluição', afirma Lula na COP30

• Terceira maior cidade do planeta lidera emissões de gases do efeito estufa no Brasil

• Poluição luminosa está levando os vagalumes à beira da extinção, dizem especialistas

O método foi citado pelo professor Ricardo Abramovay, do Instituto de Estudos Avançados e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, como uma das práticas mais promissoras para unir sustentabilidade e rentabilidade, em entrevista ao podcast O Assunto.

Veja também: Programa ambiental com planta ameaçada representa o litoral de SP na COP 30

Continua depois da publicidade

O papel do amendoim forrageiro

O protagonista do sistema é o amendoim forrageiro, uma leguminosa diferente do amendoim comum. Ele funciona como capim, melhora o solo, fixa nitrogênio da atmosfera e dificulta o crescimento de plantas daninhas — reduzindo drasticamente o uso de agrotóxicos.

Mas há um detalhe: a planta precisa de solo muito úmido, o que limita sua aplicação a regiões específicas, como Amazônia, litoral brasileiro, Mata Atlântica e áreas úmidas do Cerrado.

De acordo com Daniel Lambertucci, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa, o investimento inicial pode ser mais alto porque o amendoim forrageiro é raro e cresce devagar. Ainda assim, o retorno tende a compensar.

Continua depois da publicidade

Veja também: Com uma riqueza ambiental impressionante, cidade do interior é a 'capital do verde'

Como funciona o Sistema Guaxupé

A tecnologia é estruturada em quatro pilares:

1. Diversificação inteligente da pastagem

Cada área da fazenda — mais úmida ou mais seca — recebe o tipo de capim ou leguminosa mais adequado. Isso reduz perdas causadas por clima, pragas ou doenças e mantém a produtividade constante.

Continua depois da publicidade

2. Autossuficiência em nitrogênio com amendoim forrageiro

As raízes da planta possuem bactérias que fixam nitrogênio no solo, mantendo o pasto fértil sem fertilizantes químicos. O ganho de peso do gado aumenta, e o ciclo de engorda fica mais rápido.

3. Tolerância zero a plantas daninhas

Como o amendoim forrageiro se espalha pelo solo, ele ocupa espaço antes das ervas invasoras. Com menos plantas indesejadas, o produtor reduz o uso de herbicidas.

4. Pasto bem manejado e lotação adequada

Para evitar degradação do solo, a fazenda precisa manter apenas o número de animais que a área suporta. Pastagem equilibrada significa gado melhor alimentado o ano inteiro.

Continua depois da publicidade

Gramíneas x Leguminosas: por que isso importa?

As pastagens são compostas basicamente por dois tipos de plantas:

  • Gramíneas: são os capins mais comuns. Crescem rápido e produzem volume, mas têm menor valor nutricional.
  • Leguminosas: possuem folhas largas e são mais nutritivas. Sua maior vantagem é a adubação verde: elas transferem nitrogênio da atmosfera para o solo, dispensando ureia e outros fertilizantes químicos.

Além disso, leguminosas como o amendoim forrageiro afetam positivamente a digestão do gado, reduzindo a produção de metano — e, como consequência, diminuindo a energia gasta pelo animal neste processo, o que aumenta sua produtividade.

Menos metano, mais produtividade

Com o Sistema Guaxupé:

Continua depois da publicidade

  • o gado emite menos metano;
  • engorda mais rápido;
  • é abatido mais cedo;
  • e gera menos gases de efeito estufa por quilo de carne.

Além disso, o sistema reduz custos de longo prazo com fertilizantes e herbicidas, deixando a pecuária mais limpa, econômica e resistente às mudanças climáticas.

De onde veio o Sistema Guaxupé?

A ideia surgiu no Acre, após produtores relatarem a morte generalizada da braquiária — principal capim usado na pecuária brasileira — devido ao excesso de umidade. O problema ficou conhecido como Síndrome da Morte do Braquiarão.

A pesquisa revelou que leguminosas resistem muito mais a solos úmidos, o que levou à criação do sistema. Embora tenha nascido na Amazônia, ele já pode ser aplicado em áreas semelhantes, como: litoral brasileiro, Mata Atlântica e zonas úmidas do Cerrado.

Continua depois da publicidade

O desafio, por enquanto, é o acesso às sementes e o crescimento lento da planta, mas especialistas afirmam que o método tende a se popularizar.

O Sistema Guaxupé mostra que é possível produzir carne de forma mais sustentável, reduzir emissões e ainda aumentar o lucro do pecuarista — um caminho cada vez mais necessário para o futuro da pecuária no Brasil.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software