Brasil
Método diminui emissão de metano e reduz uso de agrotóxicos; entenda como funciona e por que pode revolucionar pecuária brasileira
Pecuária é, hoje, a maior fonte de gases de efeito estufa no Brasil / Pexels
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A pecuária é, hoje, a maior fonte de gases de efeito estufa no Brasil — especialmente devido ao metano liberado no arroto e nas fezes do gado.
Mas uma técnica criada na Amazônia vem ganhando destaque por oferecer uma solução sustentável e economicamente vantajosa. Trata-se do Sistema Guaxupé, desenvolvido pela Embrapa, que reduz emissões, melhora o solo e aumenta a produtividade das pastagens.
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O método foi citado pelo professor Ricardo Abramovay, do Instituto de Estudos Avançados e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, como uma das práticas mais promissoras para unir sustentabilidade e rentabilidade, em entrevista ao podcast O Assunto.
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O protagonista do sistema é o amendoim forrageiro, uma leguminosa diferente do amendoim comum. Ele funciona como capim, melhora o solo, fixa nitrogênio da atmosfera e dificulta o crescimento de plantas daninhas — reduzindo drasticamente o uso de agrotóxicos.
Mas há um detalhe: a planta precisa de solo muito úmido, o que limita sua aplicação a regiões específicas, como Amazônia, litoral brasileiro, Mata Atlântica e áreas úmidas do Cerrado.
De acordo com Daniel Lambertucci, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa, o investimento inicial pode ser mais alto porque o amendoim forrageiro é raro e cresce devagar. Ainda assim, o retorno tende a compensar.
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A tecnologia é estruturada em quatro pilares:
Cada área da fazenda — mais úmida ou mais seca — recebe o tipo de capim ou leguminosa mais adequado. Isso reduz perdas causadas por clima, pragas ou doenças e mantém a produtividade constante.
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As raízes da planta possuem bactérias que fixam nitrogênio no solo, mantendo o pasto fértil sem fertilizantes químicos. O ganho de peso do gado aumenta, e o ciclo de engorda fica mais rápido.
Como o amendoim forrageiro se espalha pelo solo, ele ocupa espaço antes das ervas invasoras. Com menos plantas indesejadas, o produtor reduz o uso de herbicidas.
Para evitar degradação do solo, a fazenda precisa manter apenas o número de animais que a área suporta. Pastagem equilibrada significa gado melhor alimentado o ano inteiro.
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As pastagens são compostas basicamente por dois tipos de plantas:
Além disso, leguminosas como o amendoim forrageiro afetam positivamente a digestão do gado, reduzindo a produção de metano — e, como consequência, diminuindo a energia gasta pelo animal neste processo, o que aumenta sua produtividade.
Com o Sistema Guaxupé:
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Além disso, o sistema reduz custos de longo prazo com fertilizantes e herbicidas, deixando a pecuária mais limpa, econômica e resistente às mudanças climáticas.
A ideia surgiu no Acre, após produtores relatarem a morte generalizada da braquiária — principal capim usado na pecuária brasileira — devido ao excesso de umidade. O problema ficou conhecido como Síndrome da Morte do Braquiarão.
A pesquisa revelou que leguminosas resistem muito mais a solos úmidos, o que levou à criação do sistema. Embora tenha nascido na Amazônia, ele já pode ser aplicado em áreas semelhantes, como: litoral brasileiro, Mata Atlântica e zonas úmidas do Cerrado.
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O desafio, por enquanto, é o acesso às sementes e o crescimento lento da planta, mas especialistas afirmam que o método tende a se popularizar.
O Sistema Guaxupé mostra que é possível produzir carne de forma mais sustentável, reduzir emissões e ainda aumentar o lucro do pecuarista — um caminho cada vez mais necessário para o futuro da pecuária no Brasil.