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Não é brincadeira: o que fazer se o seu filho sofrer bullying

Especialistas explicam como família e educadores podem ajudar vítimas e agressores

Gladys Magalhães

Publicado em 06/08/2023 às 16:35

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37,8% das escolas brasileiras enfrentam problemas de bullying / Pixabay / Mikhail Nilov / Creative Commons

Uma pesquisa, divulgada em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 37,8% das escolas brasileiras enfrentam problemas de bullying, o que corresponde a cerca de 28 mil das 74 mil instituições de ensino que participaram do levantamento, realizado em 2021.

São Paulo é o estado com o maior número de escolas que apontaram o problema, 5.257, seguido de Minas Gerais e Paraná.

Longe de ser brincadeira, o bullying pode ter repercussões graves na vida das vítimas, conforme explica a pedagoga Moara Giannotti, professora do curso de Pedagogia do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), do Grupo UniEduK.

“Problemas emocionais e psicológicos, ansiedade, depressão, baixa autoestima e sentimentos de desamparo e desesperança são algumas das consequências do bullying. O isolamento social faz a vítima se sentir excluída e isolada, podendo gerar queda no desempenho acadêmico, problemas físicos e até tentativas de suicídio”, diz Moara. 

Como reconhecer o bullying
Segundo a terapeuta Wanessa Moreira, o bullying pode ser caracterizado como uma violência à moral de outra pessoa, que acontece repetidas vezes dentro de um espaço de tempo, levando a vítima a ficar acuada. Para ela, a agressão tem uma forte relação com demarcação opressiva de território, espaço e poder.

“Quem sofre o bullying fica excluído do contexto de grupo e muitas vezes precisa se submeter a algumas ações que o ridicularizam para poder fazer parte, como ser obrigado a pagar um lanche ou abrir mão de algo que tem com ele para entregar ao agressor”, exemplifica Wanessa.

No geral, as pessoas mais tímidas, introspectivas e menos reativas acabam sendo as principais vítimas de bullying. Contudo, pessoas com estereótipos que outros consideram diferentes, também podem se tornar alvo deste tipo de agressão. 

Bullying é maior entre adolescentes
Embora também possa ser observado em outras fases da vida e contextos, como na vida universitária, em ambientes virtuais e até no trabalho, o bullying é mais frequente na adolescência, sobretudo entre 11 e 15 anos, o que faz da escola o lugar mais recorrente para este tipo de violência.

“O bullying não tem uma idade para ocorrer, mas com maior frequência acontece na adolescência, que é o momento de transição de uma fase mais ingênua da infância, para um momento de comparação com amigos, momento de dúvida, de identificação uns com os outros. Dessa forma, é na escola a maior ocorrência, pois é onde temos adolescentes reunidos com um tempo duradouro, tempo para estabelecerem as próprias regras, liderança, sensação de quem tem uma vida melhor que a do outro”, observa Wanessa.

Ainda segundo a terapeuta, “se a percepção de todas as diferenças não for bem conduzida pela educação escolar, participação de grupos, ensinando a compartilhar, colaborar e um a ajudar ao outro, a escola se torna um lugar propício para as diferenças gerarem estresse.” 

Meu filho sofre bullying: o que fazer? 
De acordo com a psicóloga Araceli Albino, presidente do Sindicato de Psicanalistas do Estado de São Paulo, o medo de que a situação piore faz com que muitas vítimas de bullying não procure a ajuda da família. Dessa forma, pais e responsáveis devem observar com atenção o comportamento de crianças e adolescentes para identificar o problema.

“Os sinais mais comuns de uma criança vítima de bullying se dá muito pelo comportamento de isolamento, medo de sair de casa, não querer ir para escola, apresentar dificuldades nas atividades escolares, além de demostrar muita angústia. Pode chegar em casa com algumas lesões corporais, ou roupas sujas, rasgadas e tem dificuldade para explicar o que aconteceu”, alerta Araceli.

Ao suspeitar de casos de bullying, a psicóloga orienta que os pais procurem a escola, os pais dos abusadores e, nos casos mais graves, a polícia. Além disso, diz, é interessante buscar ajuda profissional para a vítima.

“O responsável pela criança precisa, primeiramente, acolhê-la, deixá-la amparada, e procurar as autoridades competentes para comunicar o ocorrido. Se for o caso, vale tirar a criança do ambiente em que está sendo abusada, afastá-la do agressor. Esta medida de afastar a criança do espaço em que está sofrendo bullying pode ser, às vezes, o melhor meio de proteção”, diz Araceli.

Já a escola, completa Moara, deve promover investigação imediata para identificar o agressor, aplicar políticas contra o bullying e adotar medidas corretivas. “A escola deve promover programas educativos e de conscientização, incentivando o respeito, empatia e inclusão. É preciso ainda envolver os pais e trabalhar em parceria para solucionar o problema”, observa.

Meu filho é um abusador: o que fazer?
Quando se fala de bullying é natural pensar apenas na vítima, afinal, é ela quem sofre com as agressões e pode ter consequências emocionais graves para o resto da vida. Porém, os agressores também precisam de atenção.

De acordo com as profissionais, em alguns casos, o agressor também é vítima de bullying em algum outro contexto. Além disso, ele pode apresentar alguns comportamentos que requerem intervenção, como agressividade, falta de empatia, indiferença e histórico de violência.

“Geralmente a criança que pratica o bullying já apresenta aspectos de transtorno de conduta dentro da família, incluindo desrespeito aos irmãos, às regras familiares. Desobediência nas atividades simples da casa, ausência de limite, o que acaba se estendendo e levando as mesmas atitudes para o ambiente escolar”, alerta Wanessa.

Aos pais dos agressores, a terapeuta orienta buscar a ajuda da escola e, se necessário, de psicólogos.

“Os pais do agressor devem procurar a escola e pedir ajuda, se informar com detalhes do comportamento do seu filho, pedir apoio para uma reeducação e estruturação. Muitas vezes é uma necessidade de limite e atenção dentro de casa que acaba se arrastando, pois, a criança não sabe como comunicar a sua insatisfação e desconta no outro aquilo que acredita que não está bom na vida dela”, finaliza. 

Leia esta matéria também na Gazeta de S. Paulo
 

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