DEBATE
Entre as 10 deputadas que votaram contra, três de São Paulo, a justificativa foi a de novas leis não são necessárias, mas sim, cumprir as já existentes
A igualdade salarial está ainda em discussão, no poder Executivo; há medidas a serem tomadas para garantir esse direito a mulher / Divulgação/ Prefeitura de Santos
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Na última quinta-feira (4), a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 1.085, de 13 de março de 2023, que trata da igualdade salarial e remuneratória entre mulheres e homens que exerçam as mesmas funções, alterando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Entre os 36 votos contrários, para a surpresa de muitos, dez foram de deputadas, e três delas de São Paulo. Falando com poucos órgãos da imprensa, e sem se exporem nas redes sociais, como de costume, elas mencionaram a possibilidade de o PL aprovado causar um efeito perverso.
As deputadas se posicionaram como não orientadas por seus partidos, que são oposição ao atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o único partido que declarou voto contrário foi o Novo. Mas todas afirmaram que não são desfavoráveis à igualdade, mas ao projeto, por acreditarem que o projeto necessita de aprimoramentos, para realmente garantir remunerações igualitárias. Como Rosângela Moro (União-SP), "na forma como o projeto se encontra, poderá desestimular a contratação de mulheres, causando um efeito contrário à iniciativa da proposta", afirmou em entrevista.
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Mulheres mais expostas a riscos
As deputadas também colocaram outros pontos que, na visão delas prejudicam funcionárias, e, inclusive, são ilegais. É o que declara Rosângela Moro a respeito da transparência salarial e remuneratória, a deputada lembra que a lei atual já impõe multas, que a Consolidação das Leis do Trabalho também estabelece punições, quando diferenças salariais são comprovadas, e "exigir divulgação de relatórios é contrária à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), e pode expor as mulheres a mais riscos no ambiente de trabalho. A igualdade de gênero e salarial é uma pauta que sempre defenderei", divulgou em nota.
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Para as parlamentares, boas intenções não são suficientes para, de fato, proteger as mulheres. Outra colocação diz respeito aos pontos retirados do projeto que prejudicam as empreendedoras. Julia Zanatta (PL-SC) afirmou que votou em favor da "liberdade econômica e para proteger as mulheres empreendedoras". As parlamentares avisam, ainda, que algumas pautas parecem ser boas para a sociedade, no entanto, escondem ideologias, varrem más intenções para debaixo do tapete.
A Lei já existia, mas não era obrigatória
E essa é a maior vantagem da lei aprovada, segundo a relatora do projeto, deputada Jack Rocha (PT-ES). E além da multa em dez vezes o valor da folha, a previsão de cobrança do dobro para reincidência, com a lei tornando inclusive possível o pagamento de multa indenizatória, o estímulo para a prática fica em praticamente zero. As mulheres são maioria na sociedade brasileira, e empresas não vão poder se dar ao luxo de utilizar as prerrogativas que tem utilizado para pagar menores salários, como a questão da maternidade.
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O projeto ainda será objeto do poder Executivo, que, no último dia 1º de maio, dia do trabalho, assinou um decreto com publicação da Lei da Igualdade Salarial, e que prevê a instalação de um Grupo de Trabalho (GT) do qual oito ministérios participam. O objetivo do GT do Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens é discutir, em 180 dias, prorrogáveis por mais 180 e revisar a proposta antes que a mesma seja levada para o ministério das Mulheres.