Brasil
Cantor – que lançou há algumas semanas o clipe de “Boca de Lobo”, com referências a episódios desastrosos da história recente do Brasil – diz que a arte é uma força que arranca todas as paredes
Divulgação
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Em entrevista à Revista 29HORAS - publicação distribuída gratuitamente nas salas de embarque e desembarque do Aeroporto de Congonhas - o cantor, rapper e compositor Criolo expressa sua indignação e preocupação com a desigualdade social no Brasil, assunto que ronda a sua vivência. “Costumo dizer que o dia que eu tenho show é o dia que eu não trabalho, é o dia de uma celebração maior da luta de uma existência”, afirma.
Sua atual música de trabalho, “Boca de Lobo”, que ganhou recentemente um videoclipe, é um verdadeiro manifesto contra a atual situação do Brasil. As cenas, fortes e agressivas, fazem referência a escândalos que são consequência do abuso de poder no país. O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, o desastre ambiental causado pela Samarco em Mariana, a máfia da merenda e a “Farra dos Guardanapos”, também no Rio, são alguns dos temas abordados por Criolo. “Eu sinto que a canção não pode ser tratada como um jardim onde eu vou lá podar, moldar e deixar do jeito que tem que ser porque alguém vai ver”, afirma. “A arte é uma força que arranca todas as paredes”, defende.
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Criolo é de origem humilde e foi criado numa favela. Ele nasceu e viveu grande parte de sua vida no Grajaú, bairro periférico da Zona Sul de São Paulo, e enfrentou inúmeras dificuldades e injustiças. Por isso, suas falas são intensas e repletas de questionamentos, nunca superficiais. “Eu cresci num ambiente em que falavam que a gente ia morrer de morte matada ou de fome, não ia passar dos sete anos por subnutrição, dos treze por violência humana... O medo é a ferramenta eficaz de manipulação. Junte isso ao sucateamento brutal das escolas públicas, das questões da humanidade, e a gente tem uma situação muito sofrida”, reflete.
Ele é categórico ao afirmar que a desigualdade social é o grande problema da humanidade. “Enquanto houver desigualdade social, toda paz é uma mentira. A desigualdade social vem oferecer tudo aquilo que a alma não precisa, tudo que uma criança não precisa”, alega. “Por que as pessoas têm que comer comida no lixo se a gente exporta comida? Se somos iguais, então por que somos tratados como diferentes? Explica pra mim! Por que tudo se resume a dinheiro?”, questiona.
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A família de Criolo é o que ele considera seu maior bem e ele não poupa palavras para enaltecer sua mãe, Maria Vilani e também seu pai. “Minha mãe é o meu espelho maior, meu céu, meu chão. Ela é tudo. Quando relembro a história da minha mãe, eu tenho esperança no ser humano”, conta. Ambos cursaram juntos o Ensino Médio, quando ele tinha 14 anos e ela 39. A sugestão de estudarem juntos foi do próprio artista, que sempre admirou a sede de conhecimento da mãe, que aprendeu a ler praticamente sozinha e hoje se tornou professora, fez faculdade de filosofia, extensão em história e psicologia e pós-graduação em línguas e semiótica. Além disso, é autora de quatro livros e fundou um café filosófico no bairro do Grajaú. “Tudo o que eu fiz dos 11 anos pra cá é só um complemento do que a minha mãe faz”, diz.
Apesar de vivenciar tanta injustiça e desigualdade social, Criolo conta que tem boas esperanças com relação ao futuro dos jovens do Brasil. “Tenho visto em cada canto do país tanta energia positiva que isso tem me alimentado a alma. São jovens se reunindo e apresentando soluções magníficas de transformação social. E tudo dentro de uma disciplina muito grande. Eu não vou perder nunca a esperança na nossa juventude. Nunca, nunca, nunca. Nun-ca”, diz. Para Criolo, são os jovens que, com suas ações e lutas por igualdade social, em todas as camadas do que essa luta sugere, vêm enchendo o coração dos brasileiros de esperança, pois, para ele, o amor é a solução. “Existem pessoas fazendo coisas especiais por todo o Brasil”, afirma.
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