Entre os casos analisados, estão quatro jovens, dois homens e duas mulheres, que passaram mal após ingerir gin adquirido em uma adega na região da Cidade Dutra / Freepik
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Casos de intoxicação por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas no estado de São Paulo, revelados no último fim de semana, acenderam um sinal de alerta entre autoridades sanitárias e especialistas em saúde pública. A substância, altamente tóxica, pode causar cegueira, falência de órgãos e até levar à morte.
Segundo informações do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) de São Paulo, até a noite da segunda-feira (29), foram seis casos confirmados de intoxicação por metanol. Outros dez casos ainda estão em investigação.
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Entre os casos analisados, estão quatro jovens, dois homens e duas mulheres, que passaram mal após ingerir gin adquirido em uma adega na região da Cidade Dutra, na Zona Sul da capital paulista, no dia 1º de setembro. A suspeita é que a bebida estivesse adulterada com metanol ou tenha sido produzida de forma clandestina, sem os devidos controles técnicos de destilação.
O metanol é um subproduto natural da fermentação alcoólica, especialmente quando são utilizadas frutas ou matérias-primas ricas em pectina. No entanto, em concentrações elevadas, torna-se extremamente tóxico. A legislação brasileira permite um limite máximo de 0,25 ml de metanol a cada 100 ml de destilado. Acima disso, o produto representa risco direto à saúde.
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A ingestão de metanol pode causar sintomas graves, como dor de cabeça intensa, náuseas, visão turva, cegueira irreversível, insuficiência respiratória e, em casos mais severos, a morte.
A qualidade e a segurança de uma bebida destilada, como a cachaça, o gin ou a vodka, dependem diretamente de um processo rigoroso de destilação. Esse processo deve ser feito com cuidado técnico para garantir a eliminação das frações tóxicas do destilado.
Durante a destilação, o líquido é tradicionalmente dividido em três partes ou “frações”:
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Cabeça: é o primeiro líquido a sair no processo. Representa de 1% a 2% do volume total e contém alta concentração de metanol e outros compostos voláteis tóxicos. Esta fração não deve ser consumida e é destinada para reaproveitamento como etanol combustível ou industrial.
Coração: é a parte central da destilação, responsável por até 80% do volume total da bebida. É nesta fração que se encontra o etanol de boa qualidade, com aroma e sabor agradáveis. Esta é a única parte própria para o consumo humano.
Cauda: é o final do processo e corresponde a cerca de 3% do volume. Carrega compostos pesados, com odor forte e sabor amargo, além de resíduos alcoólicos indesejáveis. Assim como a cabeça, a cauda também deve ser descartada do produto final e pode ser reprocessada para virar etanol.
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O processo de separação dessas frações exige controle preciso de temperatura e tempo, algo que não é feito em produções clandestinas. O metanol, por exemplo, tem um ponto de ebulição mais baixo (64,7°C) do que o etanol (78,5°C), e por isso aparece logo no início da destilação. Se o produtor não descartar corretamente a cabeça, o metanol pode permanecer na bebida final.
Além disso, boas práticas de higiene, escolha adequada de matéria-prima e o uso de equipamentos certificados são fundamentais para garantir que a bebida atenda aos padrões legais de qualidade e segurança.
A principal recomendação das autoridades é evitar bebidas de origem duvidosa. Para se proteger:
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Enquanto as investigações seguem, o caso serve de alerta tanto para produtores quanto para consumidores: a destilação não é apenas uma questão de sabor, é uma questão de saúde pública.