Brasil

Alerta no litoral: peixe venenoso se multiplica e preocupa quem vive do mar

Espécie já altera o equilíbrio dos recifes, afeta a pesca artesanal e acende o medo em comunidades de praia e destinos turísticos

Jeferson Marques

Publicado em 10/12/2025 às 15:37

Atualizado em 10/12/2025 às 16:01

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O peixe-leão é um invasor e está colocando o litoral brasileiro em perigo / Imagem gerada por IA

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Nas fotos de mergulho ele parece figurante de animação: listrado, colorido, cheio de nadadeiras “espetaculares”. Mas, por trás da aparência chamativa, o peixe-leão virou um dos maiores pesadelos dos recifes do Atlântico e já se espalha pela costa brasileira em velocidade que preocupa pesquisadores e autoridades. Em muitos lugares, a saúde dos corais, o turismo e até a pesca artesanal podem entrar na conta desse invasor.

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Estudos indicam que o peixe-leão já ocupa grandes trechos da costa do Norte e Nordeste, incluindo unidades de conservação marinhas e áreas muito próximas de destinos turísticos famosos. Em cenários mais pessimistas, a espécie pode atingir a maior parte das áreas protegidas marinhas brasileiras nos próximos anos, se nada for feito para conter o avanço.

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Invasão silenciosa

O peixe-leão é originário da região do Indo-Pacífico, mas foi parar no Caribe e na costa dos Estados Unidos, provavelmente depois de ser liberado de aquários e levado pelas correntes marinhas. De lá, desceu pelo Atlântico até alcançar o litoral brasileiro.

Os primeiros registros no Brasil começaram a aparecer em meados da última década, em áreas como a foz do Amazonas, o arquipélago de Fernando de Noronha e trechos do litoral do Nordeste. De uns anos para cá, a presença deixou de ser caso isolado e passou a formar um “tapete” ao longo da costa, com registros sucessivos em estados do Norte e do Nordeste e em diversas áreas marinhas protegidas.

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O problema é que ele chega com uma combinação explosiva: não tem predadores naturais por aqui, se reproduz rapidamente e é um predador generalista, disposto a comer desde peixinhos juvenis até crustáceos. Isso significa menos peixe nativo nos recifes, menos biodiversidade e um ecossistema inteiro trabalhando “no vermelho” para se adaptar à nova pressão, com risco até de sumiço local de espécies mais frágeis.

Turismo e pesca na linha de fogo

Quando o assunto é turismo, recife saudável é dinheiro vivo. Cidades que dependem de mergulho recreativo, passeios de barco e aquela paisagem de “aquário natural” vendida em panfletos podem sentir o impacto se o peixe-leão dominar a área. Ao devorar em grande quantidade peixes coloridos e outros animais que compõem o cenário, ele empobrece visualmente os recifes, reduz a atratividade turística e, em casos extremos, pode comprometer o principal cartão-postal submerso de alguns destinos.

Há ainda o componente da segurança. O peixe-leão possui espinhos que inoculam veneno, capazes de provocar dor intensa, inchaço e mal-estar em banhistas, pescadores e mergulhadores que encostam nele sem querer. Em geral, os casos são tratáveis, mas a combinação “animal venenoso + turista desavisado” é tudo o que um destino de praia não quer ver associado ao seu nome.

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Na pesca, o impacto pode vir em duas frentes: o que o peixe-leão come e onde ele aparece. Ao se alimentar de juvenis e de espécies comerciais, ele pode reduzir estoques pesqueiros e afetar diretamente a renda de comunidades que dependem de peixes costeiros para sobreviver. Em algumas regiões, o invasor já vem sendo capturado em armadilhas usadas para a pesca de peixes como o pargo, alterando a dinâmica da pescaria e obrigando pescadores a lidar com um animal venenoso que não fazia parte da rotina.

Em cidades litorâneas muito dependentes da combinação “praia + recife + peixe fresco”, o avanço do invasor entra na equação da economia local: menos peixe, recifes degradados e uma imagem de perigo podem afastar turistas, encarecer o pescado e empurrar famílias para situações de maior vulnerabilidade.

O contra-ataque humano

Diante dessa invasão silenciosa, o Brasil começou a se organizar. Órgãos ambientais federais e estaduais vêm promovendo campanhas para alertar turistas e pescadores, treinar mergulhadores e formar redes de monitoramento ao longo da costa. Em estados do Nordeste, já existem planos específicos ou ações emergenciais para lidar com a chegada do peixe-leão, com protocolos de alerta rápido e orientações sobre captura segura.

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Ao mesmo tempo, pesquisadores e gestores discutem estratégias que vão além do “tira e joga fora”. Em outros países do Caribe, a pesca direcionada ao peixe-leão, com uso gastronômico da espécie, vem sendo testada como forma de transformar o problema em oportunidade: restaurantes incluem o invasor no cardápio, geram renda e ajudam a reduzir sua população em áreas críticas.

Experiências latino-americanas indicam que, quando bem regulada e monitorada, essa abordagem pode trazer benefícios econômicos a comunidades pesqueiras e aliviar a pressão sobre espécies nativas.

No Brasil, o debate ainda engatinha, mas já há estudos e iniciativas avaliando a segurança do consumo, as regras de manuseio e a viabilidade de transformar o peixe-leão em mais uma fonte de receita para cidades litorâneas, sem perder de vista o cuidado com a saúde humana e com o equilíbrio dos ecossistemas. 

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*As informações deste texto têm como base notas técnicas e relatórios do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente sobre a presença do peixe-leão na costa brasileira, estudos acadêmicos de universidades federais do Norte e Nordeste, publicações de organizações internacionais de conservação marinha e reportagens recentes de veículos especializados em ciência e meio ambiente.

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