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Amazônia pode colapsar em 30 anos sem ações urgentes, alerta especialista

Climatologista da USP defende bioeconomia e restauração florestal como saída urgente para a Amazônia e destaca papel do Brasil na COP30

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 01/09/2025 às 14:45

Atualizado em 01/09/2025 às 15:12

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Especialista alerta que Amazônia pode entrar em colapso climático em 30 anos sem ação / Valter Campanato/Agência Brasil

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A Amazônia vive um momento crítico. O climatologista Carlos Nobre, pesquisador da USP com mais de 40 anos de estudos sobre o bioma, alerta que a estação seca na região já se prolonga em até cinco meses em algumas áreas.

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Com o aquecimento global ultrapassando 1,5°C em 2025, Nobre adverte que a floresta pode se transformar em savana em até 30 anos caso não sejam tomadas medidas urgentes. Para ele, a bioeconomia baseada na sociobiodiversidade é a única alternativa capaz de conciliar preservação ambiental, desenvolvimento econômico e geração de emprego.

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O cientista lembra que a Amazônia já foi um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, mas atualmente absorve menos de 20% do que capturava décadas atrás. O prolongamento da estação seca, somado ao desmatamento e às queimadas, compromete a capacidade de regeneração natural do ecossistema.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que 85% dos incêndios na região têm origem humana, incluindo ações de crime organizado, que utilizam o fogo para abrir áreas de exploração ilegal.

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Bioeconomia como solução estratégica

Para Nobre, a bioeconomia surge como caminho viável para salvar a Amazônia. O Brasil abriga cerca de 20% das espécies conhecidas do planeta, mas menos de 0,5% dessa riqueza é explorada economicamente.

A utilização sustentável de produtos florestais, como óleos, frutos, fibras e cosméticos, pode gerar renda e empregos para comunidades locais e fortalecer populações indígenas e tradicionais, que possuem conhecimento ancestral essencial para a preservação da biodiversidade.

A restauração de áreas degradadas é outro ponto central da estratégia. Projetos como o Arco da Restauração, lançado na COP28, têm potencial para recuperar 240 mil km² da Amazônia, combinando incentivos financeiros, crédito com juros baixos e apoio a práticas sustentáveis.

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Nobre destaca que recuperar florestas é economicamente mais vantajoso do que atividades tradicionais, como soja e pecuária, mas a iniciativa enfrenta resistência de setores do agronegócio.

Impactos globais e regionais do desmatamento

O risco de colapso da Amazônia não se limita à região. A degradação do bioma influencia diretamente o clima global, a regulação hídrica, a fertilidade do solo e a produção agrícola. Regiões como o Cerrado podem se tornar semiáridas, enquanto a Caatinga corre risco de desertificação.

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O aquecimento global e as mudanças no regime de chuvas impactam a produtividade agrícola, pilar da economia nacional, e aumentam a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos.

Nobre alerta que a ação humana acelerou processos naturais que antes levavam milhares de anos. Se a tendência atual se mantiver, grandes áreas da Amazônia podem alcançar um ponto de inflexão, transformando-se em savana degradada e comprometendo a estabilidade climática do planeta.

COP30: oportunidade para liderança brasileira

A Conferência do Clima de 2025, a COP30, será realizada em Belém, no coração da Amazônia. Para Nobre, o evento é crucial para o Brasil assumir liderança global no enfrentamento das mudanças climáticas.

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O cientista elogia a meta nacional de emissões líquidas zero até 2040, dez anos antes do previsto, e defende que o país use o encontro para consolidar a bioeconomia e expandir a restauração florestal.

Ele destaca que o Brasil pode transformar a crise em oportunidade de desenvolvimento sustentável. Projetos de bioeconomia e restauração florestal não apenas mitigam o aquecimento global, mas também atraem investimentos, geram renda e fortalecem comunidades locais.

O cientista ressalta que parcerias internacionais e financiamento global são essenciais, especialmente considerando que países desenvolvidos são responsáveis pela maior parte das emissões históricas.

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Resistência e desafios à mudança

Apesar do potencial econômico e ambiental da bioeconomia, Nobre aponta obstáculos significativos. O agronegócio ainda vê a floresta como um entrave ao crescimento econômico e resiste a práticas mais sustentáveis.

Globalmente, a lentidão na redução de emissões de combustíveis fósseis também é um problema, e as metas climáticas internacionais continuam insuficientes para evitar que o aquecimento ultrapasse 2°C.

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O climatologista alerta que, sem ação coordenada, a Amazônia corre risco de atingir um ponto de não retorno. O envolvimento de governos, setor privado, universidades e comunidades locais é fundamental para garantir que a floresta continue funcionando como regulador climático global e fonte de biodiversidade.

O futuro da Amazônia depende da bioeconomia

Para Nobre, a Amazônia não é apenas essencial para o Brasil, mas para a estabilidade climática global. A bioeconomia oferece uma alternativa prática e lucrativa, que combina conservação ambiental, geração de empregos e desenvolvimento econômico. Investir em educação, tecnologia e inovação é fundamental para escalar projetos de restauração e tornar o modelo sustentável a longo prazo.

A COP30 será, segundo ele, um teste decisivo para a capacidade do Brasil de liderar a agenda climática global. Com ações coordenadas e investimento em bioeconomia, o país pode transformar a crise da Amazônia em uma oportunidade de desenvolvimento sustentável e referência mundial na preservação de florestas tropicais.

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