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Terreno com monumento imponente está interditado há mais de um ano; religião reivindica liberdade de culto, prefeitura fala em irregularidade
Terreno com monumento imponente está interditado há mais de um ano / Divulgação
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Um terreno rural onde foi erguida uma estátua de cinco metros que representa Lúcifer segue abandonado e interditado há mais de um ano.
A área, situada a cerca de 15 km da zona urbana, está tomada por grama alta, galhos caídos e mosquitos — e ainda abriga o monumento que virou símbolo de polêmica religiosa e judicial. Segundo informações do G1, o espaço permanece fechado após decisão da Justiça.
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A estátua, de aproximadamente 5 metros de altura e erguida em agosto de 2024 por um grupo que se autointitula Nova Ordem de Lúcifer na Terra (N.O.L.T.), foi construída com recursos próprios — custo estimado de R$ 35 mil.
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O local sempre foi pensado como templo, mas a autorização nunca foi concedida pela Prefeitura de Gravataí. A Justiça declarou a interdição definitiva em dezembro de 2024, com multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
A decisão judicial confirma falta de alvará e ausência de registro formal da ordem como entidade religiosa, exigências previstas para o funcionamento de espaços de culto.
Desde a interdição, o terreno está visivelmente deteriorado — a grama cresceu, a vegetação tomou conta e a sensação é de abandono.
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A casa que abrigava cerca de 200 imagens ligadas à ordem religiosa foi esvaziada e, segundo relatos, as peças foram removidas. O templo se transformou em símbolo de uma polêmica sem fim.
Os rituais da N.O.L.T. teriam sido transferidos para residências privadas ou locais alternativos — a ordem afirma continuar suas práticas, apesar da interdição.
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O líder religioso do grupo, conhecido como Mestre Lukas de Bará da Rua, classifica a ação da prefeitura como “perseguição religiosa” e argumenta que o Estado, por ser laico, deveria garantir liberdade de culto.
Em 2025, o grupo impetrou um mandado de segurança pedindo a reabertura do processo administrativo para obtenção de alvará.
Em setembro, a Justiça determinou que a prefeitura reabra a análise — por considerar que o indeferimento baseado em “duplicidade de pedidos” carecia de fundamentação legal.
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Porém, a decisão não concede o alvará automaticamente. O processo será reventido por instância superior antes de haver definição final. Até lá, o templo permanece interditado e o terreno, abandonado.
Para a N.O.L.T., a figura de Lúcifer não representa mal ou demônio, mas é interpretada como um símbolo de “luz, autoconhecimento e liberdade espiritual”.
Em entrevistas, os líderes dizem que o culto — chamado de “noltismo” — propõe uma nova visão espiritual, distante dos estigmas negativos associados pela maioria religiosa e social.
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Por outro lado, autoridades municipais e parte da sociedade questionam a necessidade de regularização de espaços de culto, especialmente quando envolvem símbolos com forte carga simbólica que, segundo críticos, podem gerar polêmica social ou conflitos religiosos. A exigência do alvará e registro não é uma questão de crença, mas de normativa urbana e administrativa.
O caso acende o debate sobre os limites da liberdade religiosa, o papel do Estado em espaços de culto e as regras que regulam o uso de imóveis coletivos — independentemente da fé ou crença.
Enquanto a Justiça analisa instâncias superiores, o terreno segue vazio, abandonado e símbolo de um conflito que mistura crença, lei e preconceito.
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Para muitos, o terreno representa uma provocação à norma; para outros, um pedido de respeito à pluralidade religiosa num país laico. O impasse, por enquanto, segue sem previsão de fim — e a estátua permanece, solitária, como marco de uma disputa que vai além da fé.