As ondulações oceânicas percorrem milhares de quilômetros, levando energia de tempestades distantes até as costas / Pexels
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Durante a recente tempestade Eddie, satélites da Agência Espacial Europeia (ESA) e do programa franco-americano SWOT registraram ondas com alturas médias próximas de 20 metros — o equivalente à altura do Arco do Triunfo, em Paris. Trata-se das maiores ondas já medidas a partir do espaço, revelando o poder destrutivo das tempestades oceânicas.
Os pesquisadores explicam que as chamadas ondulações oceânicas, ou swells, funcionam como mensageiras das tempestades. Mesmo quando o mau tempo não atinge a costa, essas ondas podem percorrer milhares de quilômetros e levar energia destrutiva a regiões distantes.
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As ondas se formam pelo vento e atingem o ponto máximo durante as tempestades. No entanto, o maior perigo para as zonas costeiras não vem necessariamente do mau tempo direto, mas sim dessas longas ondulações que transportam energia muito além da origem da tempestade.
Um estudo liderado por Fabrice Ardhuin, do Laboratório de Oceanografia Física e Espacial da França, combinou dados do satélite SWOT com registros do projeto europeu CCI Sea State, que reúne medições de várias missões desde 1991, incluindo os satélites SARAL, Jason-3, Sentinel-3A e 3B, Sentinel-6 Michael Freilich, CryoSat e CFOSAT.
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No auge da tempestade Eddie, em 21 de dezembro de 2024, o satélite SWOT registrou ondas recordes de quase 20 metros no Pacífico Norte. Os cientistas acompanharam ainda a propagação dessas ondulações por cerca de 24 mil quilômetros, até o Atlântico tropical, entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025.
Os resultados, publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, oferecem as primeiras observações diretas que confirmam modelos numéricos de ondas em condições extremas. As medições mostram que a maior parte da energia está concentrada nas ondas mais curtas, e não nas mais longas, como se imaginava anteriormente.
Ondas ainda maiores já haviam sido registradas em janeiro de 2014, durante a tempestade Hércules, com picos de 23 metros que causaram danos do Marrocos à Irlanda.
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Para Ardhuin, o próximo passo é entender como as mudanças climáticas podem afetar a intensidade dessas tempestades. “Podemos testar essa hipótese com modelos. Agora conseguimos seguir a intensidade das tempestades ao longo do tempo. As alterações climáticas podem ser um fator, mas não o único. Condições do fundo do mar também influenciam, e essas grandes tempestades são raras — ocorrem, em média, uma vez por década”, afirma.
O satélite SWOT combina medições tradicionais de altimetria por radar com imagens de grande largura, permitindo observar ondas desde 3 centímetros até 1.400 metros de comprimento. Essa visão mostrou que as ondulações longas transportam menos energia do que se pensava, enquanto as ondas curtas concentram maior potência.
Os dados do programa Copernicus Sentinel-6 também foram utilizados no estudo. Eles são essenciais para acompanhar a elevação do nível do mar e prever o estado do oceano em tempo quase real, medindo altura significativa das ondas e velocidade do vento.
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Com essas medições, os cientistas esperam compreender melhor o comportamento das tempestades e aprimorar a proteção das comunidades costeiras diante de um clima em mudança.