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O peixe mais caro do planeta é criado no Japão e pode valer mais que carros de luxo

O país cultiva 15 mil toneladas anuais e embarca mais de 21 mil toneladas métricas com apoio de megafazendas marinhas de alta complexidade

Ana Clara Durazzo

Publicado em 03/12/2025 às 17:45

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Com o consumo global em alta e o rabilho mantendo o posto de peixe mais valioso do mundo, a disputa entre países deve aumentar / Freepik

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O atum-barbatana azul, também conhecido como atum-rabilho (bluefin tuna), ocupa há décadas o topo da lista dos peixes mais caros do mundo. Seus exemplares já alcançaram valores milionários em leilões, principalmente no Japão, onde a tradição dos cortes de alta qualidade, como o cobiçado toro, transformou a espécie em símbolo de luxo culinário.

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Estrela do sushi de luxo, o peixe tem no país seu maior centro de produção, pesquisa e tecnologia. Em 2024, dados oficiais do Ministério da Pesca japonês e de centros internacionais de aquicultura confirmaram o que especialistas já tratam como um consenso global: nenhuma nação domina essa espécie como o Japão.

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O país cultiva 15 mil toneladas anuais e embarca mais de 21 mil toneladas métricas com apoio de megafazendas marinhas de alta complexidade.

Em leilões de Tóquio, a espécie já alcançou valores superiores a US$ 3 milhões por exemplar, consolidando o rabilho como o verdadeiro diamante azul dos oceanos.

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Porque esse peixe é tão caro?

Mas o preço elevado não se deve apenas ao prestígio cultural: uma combinação de raridade biológica, dificuldades de produção e demanda crescente sustenta o valor deste peixe no mercado global.

O atum-barbatana azul é uma espécie de crescimento lento, com maturação tardia, que percorre grandes distâncias ao longo da vida. Essas características tornam o peixe especialmente vulnerável à sobrepesca, fenômeno que reduziu drasticamente suas populações naturais nas últimas décadas.

Para conter o declínio, organismos internacionais estabeleceram:

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cotas rígidas de captura

regulamentações de pesca sustentável

monitoramento internacional das frotas

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Essas medidas, embora essenciais para a conservação da espécie, reduzem a oferta mundial, o que, por sua vez, aumenta o valor de cada exemplar disponível no mercado.

Além da raridade, o atum-barbatana azul é altamente valorizado pela qualidade da carne, considerada uma das mais saborosas e refinadas da gastronomia contemporânea. O peixe possui:

alto teor de gordura intramuscular,

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textura macia,

sabor delicado que derrete na boca,

sobretudo na região da barriga, onde está o famoso corte toro — o mais caro de todo o animal, frequentemente usado em sushis e sashimis de alto padrão.

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Como o Japão se tornou líder na criação do peixe mais caro do planeta

A jornada japonesa começou nos anos 1970, quando pesquisadores buscaram alternativas ao declínio dos estoques selvagens, pressionados pela explosão do consumo doméstico de sushi e sashimi. O marco histórico veio apenas décadas depois, em 2002, quando a antiga Kinki University (hoje Kindai University) completou o ciclo reprodutivo integral do atum-rabilho em cativeiro — da desova ao peixe adulto.

O feito é tratado até hoje como um dos maiores avanços da biotecnologia marinha moderna.

Desde então, o país expandiu sua estrutura e consolidou uma indústria que une genética, larvicultura, monitoramento ambiental e manejo oceânico em um modelo sofisticado de produção em larga escala.

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Megafazendas oceânicas: como funciona o sistema que cria peixes de até 450 kg

Hoje, o Japão concentra megacomplexos de engorda distribuídos por regiões como Kagoshima, Nagasaki, Oita, Miyazaki, Ehime e Okinawa, onde operam algumas das maiores fazendas oceânicas do mundo.

Essas unidades utilizam:

Gaiolas marinhas gigantes

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Cercos flutuantes de até 50 metros de diâmetro e dezenas de metros de profundidade.

Sistemas de iluminação subaquática

Usados para estabilizar o comportamento do rabilho durante fases sensíveis do crescimento.

Monitoramento integral por sensores

Aparelhos registram oxigênio, temperatura, correntes e densidade populacional.

Alimentação automatizada

Misturas controladas de sardinha, cavala e rações de alta proteína.

Transporte vivo de longa distância

Realizado por embarcações conhecidas como tuna carriers, capazes de levar peixes juvenis por milhares de quilômetros mantendo as condições ideais.

Segundo a Japan Fisheries Research and Education Agency, todo esse sistema é otimizado para reduzir mortalidade, controlar estresse e acelerar ganho de peso — três fatores críticos para uma espécie que pode ultrapassar 3 metros de comprimento e chegar a 450 kg.

Por que é tão difícil cultivar o peixe mais valioso do mundo

O atum-rabilho é considerado uma das espécies mais complexas da aquicultura mundial porque:

precisa nadar continuamente por longas distâncias

possui metabolismo extremamente acelerado

é altamente sensível a ruídos e correntes

suas larvas são frágeis e têm baixíssima taxa de sobrevivência

exige alimentação constante e densa em proteína

Por isso, poucos países conseguem completar o ciclo total em cativeiro. Mesmo grandes potências da aquicultura, como China e Noruega, ainda dependem quase totalmente de juvenis capturados no mar.

O domínio tecnológico japonês, portanto, representa décadas de vantagem acumulada.

O impacto do peixe mais caro do mundo na economia japonesa

A indústria do rabilho movimenta centenas de milhões de dólares e abastece tanto o mercado interno quanto exportações de cortes premium como:

chūtoro, o meio-gordo

otoro, o corte mais nobre, extremamente marmorizado

A cadeia produtiva envolve grandes empresas como Nissui, Maruha Nichiro, Toyota Tsusho Seafood e cooperativas regionais, sustentando empregos, pesquisa e a economia de regiões pesqueiras tradicionais.

O Japão também lidera globalmente patentes de reprodução, larvicultura, alimentação especializada e transporte vivo, o que reforça seu papel estratégico.

O futuro do atum-rabilho e a disputa internacional por um peixe de milhões

Com o consumo global em alta e o rabilho mantendo o posto de peixe mais valioso do mundo, a disputa entre países deve aumentar. Contudo, especialistas da FAO indicam que o Japão deve permanecer na liderança — tanto pela tecnologia, quanto pelo domínio das etapas mais sensíveis do processo.

Os desafios, porém, são significativos:

pressões ambientais

sustentabilidade das capturas de juvenis

possíveis restrições internacionais

demanda crescente que exige alternativas controladas

Ainda assim, o Japão continua anos à frente do restante do mundo na corrida pelo “ouro azul”, transformando ciência, tradição culinária e tecnologia em um dos sistemas de produção de pescado mais avançados do planeta.

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