A cidade está 'ardendo' por baixo há mais de 60 anos / Imagem criada por IA
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No coração da Pensilvânia, nos Estados Unidos, existe uma cidade que insiste em desafiar o tempo — e o próprio subsolo. Centralia, outrora uma comunidade vibrante de mineiros e famílias, queima há mais de 60 anos. Um incêndio subterrâneo, enterrado sob as ruas, transformou o cotidiano em um cenário de abandono, medo e mistério.
O que começou como um incêndio acidental em 1962 nas galerias de carvão logo se espalhou por quilômetros de túneis. O fogo nunca mais foi contido. A fumaça passou a brotar das rachaduras do chão, o calor deformou asfaltos, e os moradores começaram a sentir dores de cabeça, tontura, falta de ar. A cidade, silenciosamente, tornava-se inabitável.
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Nas décadas seguintes, veio o inevitável: a evacuação. O governo ofereceu indenizações, declarou a área insegura e, aos poucos, Centralia se esvaziou. Casas foram demolidas, ruas desapareceram, placas deixaram de fazer sentido. De um lugar com mais de mil moradores, restaram apenas alguns resistentes — pessoas que se recusaram a abandonar a memória, a história e o chão que chamavam de lar.
Com o tempo, a imagem de Centralia se tornou algo entre o real e o sobrenatural. As estradas rachadas e cobertas de fumaça, os postes sem função e os lotes vazios transformaram a cidade em um fantasma urbano. Essa estética pós-apocalíptica chamou a atenção de artistas, curiosos e, mais tarde, de Hollywood.
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Quando os criadores do filme Silent Hill buscavam um ambiente que transmitisse desolação, estranhamento e a fronteira tênue entre o vivo e o morto, encontraram em Centralia exatamente o que procuravam. A atmosfera enevoada, os vazios urbanos e a sensação de tempo suspenso influenciaram diretamente o clima do longa-metragem de 2006, eternizando Centralia na cultura pop.
Apesar da destruição, alguns moradores decidiram ficar. Eles convivem com o que sobrou: silêncio, árvores que cresceram onde antes havia calçadas e ruas que levam a lugar algum. Para esses últimos habitantes, Centralia não é uma lenda cinematográfica, mas um lar — queimado, esquecido e ainda assim querido.
O fogo subterrâneo pode durar mais 250 anos, segundo especialistas. A cidade, no entanto, já encontrou seu próprio tipo de eternidade: aquela que vive na interseção entre tragédia, mistério e memória. Centralia continua queimando — e nós continuamos olhando, fascinados, para as brasas que jamais se apagam.
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*Com informações da Smithsonian Magazine, BBC News e Departamento de Proteção Ambiental da Pensilvânia