Mundo

Nova fonte de energia sustentável usa a força da Lua e do mar - e já está sendo testada

Com tecnologia inédita que transforma o movimento das marés em eletricidade, as Ilhas Faroé podem se tornar o primeiro território do mundo a gerar energia limpa a partir da força da Lua

Júlia Morgado

Publicado em 26/10/2025 às 15:04

Atualizado em 10/11/2025 às 14:15

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Os "dragões subaquáticos" da Minesto voam debaixo d'água, impulsionados pelas correntes marítimas, e convertem o movimento das marés em energia elétrica / Minesto

Continua depois da publicidade

No meio do Atlântico Norte, entre a Escócia e a Islândia, um pequeno arquipélago de paisagens verdes e montanhosas está prestes a se tornar pioneiro em uma revolução energética. As Ilhas Faroé, um território autônomo ligado à Dinamarca com cerca de 55 mil habitantes, pretendem ser 100% abastecidas por energia renovável até 2030.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

O plano é ousado — e a aposta principal vem de uma fonte tão constante quanto antiga: a força da Lua sobre o mar. A empresa sueca Minesto desenvolveu uma tecnologia inédita que transforma a energia das marés em eletricidade limpa e previsível, aproveitando o movimento causado pela gravidade lunar sobre os oceanos.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Hotel na Amazônia é o 1º das Américas a receber selo internacional de sustentabilidade

• Fim do ar-condicionado? Nova tecnologia consome 5 vezes menos energia e é mais eficiente

Diferente da energia solar ou eólica, que dependem das condições climáticas, as marés são totalmente regulares e calculáveis. Isso significa que, mesmo em dias nublados ou sem vento, o fluxo de energia não para.

É o primeiro grande passo para transformar o ritmo natural da Terra em eletricidade — e para provar que a Lua pode, literalmente, iluminar as nossas cidades.

Continua depois da publicidade

Contêineres e equipamentos da Minesto no porto das Ilhas Faroé: é daqui que partem as operações para instalar os "dragões" subaquáticos que transformam o movimento das marés em eletricidade/ Minesto
Contêineres e equipamentos da Minesto no porto das Ilhas Faroé: é daqui que partem as operações para instalar os "dragões" subaquáticos que transformam o movimento das marés em eletricidade/ Minesto
Vista aérea do "Dragon 12", turbina subaquática da Minesto, durante os testes em mar aberto. A força das correntes marítimas gira suas hélices, gerando energia limpa e previsível/ Minesto
Vista aérea do "Dragon 12", turbina subaquática da Minesto, durante os testes em mar aberto. A força das correntes marítimas gira suas hélices, gerando energia limpa e previsível/ Minesto
Engenheiros da Minesto preparam o lançamento de uma das turbinas, que será submersa a cerca de 40 metros de profundidade. Cada equipamento pode pesar até 28 toneladas/ Minesto
Engenheiros da Minesto preparam o lançamento de uma das turbinas, que será submersa a cerca de 40 metros de profundidade. Cada equipamento pode pesar até 28 toneladas/ Minesto
Um dos "dragões" já em operação no estreito de Hestfjord, nas Ilhas Faroé. A tecnologia aproveita o fluxo constante das marés, impulsionado pela gravidade lunar/ Minesto
Um dos "dragões" já em operação no estreito de Hestfjord, nas Ilhas Faroé. A tecnologia aproveita o fluxo constante das marés, impulsionado pela gravidade lunar/ Minesto

Como a Lua e o mar se transformam em energia

A energia das marés nasce da atração gravitacional que a Lua exerce sobre os oceanos da Terra. Esse fenômeno, responsável por fazer o nível do mar subir e descer todos os dias, gera correntes marinhas poderosas.

Essas correntes contêm uma imensa quantidade de energia cinética — o mesmo tipo de energia que faz uma turbina eólica girar — e, com a tecnologia certa, podem ser convertidas em eletricidade.

Enquanto o vento muda de direção e o sol desaparece à noite, o movimento das marés segue um ciclo fixo, previsível e infinito. Por isso, pesquisadores consideram essa uma das fontes mais seguras e constantes de energia renovável do planeta.

Continua depois da publicidade

Veja também: ondas do mar são capazes de gerar energia e Brasil está explorando potencial; confira.

Segundo a Minesto, sua análise dos dados demonstram que o potencial energético das correntes oceânicas e das marés no mundo ultrapassa 600 gigawatts de capacidade aproveitável. Para efeito de comparação, toda a capacidade nuclear atualmente instalada no planeta é um pouco inferior a 400 gigawatts. 

Em outras palavras, se essa tecnologia alcançar maturidade, a força das marés poderá gerar mais eletricidade do que todas as usinas nucleares do mundo juntas — e sem liberar um grama sequer de carbono na atmosfera.

Continua depois da publicidade

Os “dragões” que voam debaixo d’água

A proposta das Ilhas Faroé começou a ganhar forma com a tecnologia da Minesto, uma empresa sueca especializada em energia oceânica.Seu sistema utiliza “dragões subaquáticos” — turbinas com asas e hélices que se movem debaixo d’água em trajetórias parecidas com o símbolo do infinito (um oito deitado). 

Essas turbinas são presas por cabos a uma base no fundo do mar e “voam” impulsionadas pela força das correntes marítimas. Enquanto se deslocam, suas hélices giram e geram eletricidade, que é transmitida para a costa por cabos submarinos.

A diferença em relação às turbinas fixas é que os “dragões” se movem com mais velocidade através da água, aumentando o rendimento energético.

Continua depois da publicidade

Você sabia? Com 5 milhões de litros e 440 espécies, maior aquário de água doce do mundo fica no Brasil.

O modelo Dragon 4, que possui 4,9 metros de envergadura, medida que indica a distância entre as pontas das asas, foi o primeiro a entregar eletricidade ao sistema elétrico das ilhas em 2020. Desde então, a Minesto instalou e testou versões maiores, como o Dragon 12, que possui 12 metros de envergadura e pesa 28 toneladas.

Em fevereiro de 2024, essa segunda versão mais robusta, com a capacidade máxima de produzir 1,2 megawatt (MW), foi testada e entregou sua primeira eletricidade à rede elétrica local, provando que o conceito funciona. Veja como foi esse marco histórico da empresa: 

Continua depois da publicidade

O próximo passo é a construção da "Hestfjord Dragon Farm" no estreito de Hestfjord. Esta fazenda de marés consistirá em seis turbinas Dragon 12. A capacidade total da primeira fase desse projeto é de 7,6 MW e a operação está prevista para 2027.

O plano completo da Minesto prevê o desenvolvimento de um complexo de 200 MW nas Ilhas Faroé, o que forneceria 40% do consumo de eletricidade projetado do arquipélago em 2030. Isso ajudaria as Ilhas Faroé a alcançar sua meta de 100% de energia renovável até 2030

Falando de energias que contribuem para a sustentabilidade, essa cidade da Grande SP terá primeira usina que transforma lixo em energia.

Continua depois da publicidade

Desafios técnicos e financeiros

Apesar dos avanços, o projeto enfrenta obstáculos típicos de uma tecnologia em desenvolvimento. O principal é o ambiente marinho, que é altamente corrosivo e pode danificar componentes metálicos com o tempo.

Outra dificuldade é a manutenção: turbinas instaladas a dezenas de metros de profundidade são complexas de acessar. A Minesto, no entanto, criou um sistema que permite retirar facilmente os dragões da água para reparos, o que reduz custos e riscos.

Há ainda o desafio do investimento financeiro. A empresa está em processo de captação de recursos e parceria com acionistas para financiar a expansão do projeto. O interesse é global — países como Reino Unido e Coreia do Sul já estudam adaptar a tecnologia para seus litorais.

Continua depois da publicidade

Segundo a Offshore Energy, a Minesto considera o mercado sul-coreano “altamente atraente” por causa de suas correntes intensas e da meta nacional de reduzir as emissões de carbono até 2050.

Reduzir o impacto ambiental é uma meta mundial, e essa cidade do Litoral virou 'case global' e quer ditar tendências em sustentabilidade.

Um potencial que ultrapassa fronteiras

O potencial global da energia das marés e das correntes oceânicas é considerado vasto e, em grande parte, inexplorado, podendo oferecer uma porção substancial da matriz energética mundial.

A tecnologia para aproveitá-lo, como a desenvolvida pela Minesto (conhecida como energia da lua), possui vantagens significativas, principalmente a previsibilidade e confiabilidade. 

O projeto ambicioso das Ilhas Faroé, que visa 100% de energia renovável até 2030 usando a energia das marés como parte central, está se estabelecendo como um modelo para ilhas e economias costeiras em todo o mundo que buscam a transição energética. 

A tecnologia da Minesto é única por ser capaz de produzir eletricidade de forma custo-efetiva mesmo em locais com fluxos de baixa velocidade (a partir de 1,2 m/s). 

O CEO da Minesto, Dr. Martin Edlund, projeta que se a tecnologia for adaptada em pelo menos 3.000 locais no mundo que se qualificam para o programa, a energia lunar poderia potencialmente substituir toda a capacidade de energia a carvão que está atualmente em desenvolvimento globalmente.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software