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Com tecnologia inédita que transforma o movimento das marés em eletricidade, as Ilhas Faroé podem se tornar o primeiro território do mundo a gerar energia limpa a partir da força da Lua
Os "dragões subaquáticos" da Minesto voam debaixo d'água, impulsionados pelas correntes marítimas, e convertem o movimento das marés em energia elétrica / Minesto
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No meio do Atlântico Norte, entre a Escócia e a Islândia, um pequeno arquipélago de paisagens verdes e montanhosas está prestes a se tornar pioneiro em uma revolução energética. As Ilhas Faroé, um território autônomo ligado à Dinamarca com cerca de 55 mil habitantes, pretendem ser 100% abastecidas por energia renovável até 2030.
O plano é ousado — e a aposta principal vem de uma fonte tão constante quanto antiga: a força da Lua sobre o mar. A empresa sueca Minesto desenvolveu uma tecnologia inédita que transforma a energia das marés em eletricidade limpa e previsível, aproveitando o movimento causado pela gravidade lunar sobre os oceanos.
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Diferente da energia solar ou eólica, que dependem das condições climáticas, as marés são totalmente regulares e calculáveis. Isso significa que, mesmo em dias nublados ou sem vento, o fluxo de energia não para.
É o primeiro grande passo para transformar o ritmo natural da Terra em eletricidade — e para provar que a Lua pode, literalmente, iluminar as nossas cidades.
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A energia das marés nasce da atração gravitacional que a Lua exerce sobre os oceanos da Terra. Esse fenômeno, responsável por fazer o nível do mar subir e descer todos os dias, gera correntes marinhas poderosas.
Essas correntes contêm uma imensa quantidade de energia cinética — o mesmo tipo de energia que faz uma turbina eólica girar — e, com a tecnologia certa, podem ser convertidas em eletricidade.
Enquanto o vento muda de direção e o sol desaparece à noite, o movimento das marés segue um ciclo fixo, previsível e infinito. Por isso, pesquisadores consideram essa uma das fontes mais seguras e constantes de energia renovável do planeta.
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Segundo a Minesto, sua análise dos dados demonstram que o potencial energético das correntes oceânicas e das marés no mundo ultrapassa 600 gigawatts de capacidade aproveitável. Para efeito de comparação, toda a capacidade nuclear atualmente instalada no planeta é um pouco inferior a 400 gigawatts.
Em outras palavras, se essa tecnologia alcançar maturidade, a força das marés poderá gerar mais eletricidade do que todas as usinas nucleares do mundo juntas — e sem liberar um grama sequer de carbono na atmosfera.
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A proposta das Ilhas Faroé começou a ganhar forma com a tecnologia da Minesto, uma empresa sueca especializada em energia oceânica.Seu sistema utiliza “dragões subaquáticos” — turbinas com asas e hélices que se movem debaixo d’água em trajetórias parecidas com o símbolo do infinito (um oito deitado).
Essas turbinas são presas por cabos a uma base no fundo do mar e “voam” impulsionadas pela força das correntes marítimas. Enquanto se deslocam, suas hélices giram e geram eletricidade, que é transmitida para a costa por cabos submarinos.
A diferença em relação às turbinas fixas é que os “dragões” se movem com mais velocidade através da água, aumentando o rendimento energético.
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O modelo Dragon 4, que possui 4,9 metros de envergadura, medida que indica a distância entre as pontas das asas, foi o primeiro a entregar eletricidade ao sistema elétrico das ilhas em 2020. Desde então, a Minesto instalou e testou versões maiores, como o Dragon 12, que possui 12 metros de envergadura e pesa 28 toneladas.
Em fevereiro de 2024, essa segunda versão mais robusta, com a capacidade máxima de produzir 1,2 megawatt (MW), foi testada e entregou sua primeira eletricidade à rede elétrica local, provando que o conceito funciona. Veja como foi esse marco histórico da empresa:
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O próximo passo é a construção da "Hestfjord Dragon Farm" no estreito de Hestfjord. Esta fazenda de marés consistirá em seis turbinas Dragon 12. A capacidade total da primeira fase desse projeto é de 7,6 MW e a operação está prevista para 2027.
O plano completo da Minesto prevê o desenvolvimento de um complexo de 200 MW nas Ilhas Faroé, o que forneceria 40% do consumo de eletricidade projetado do arquipélago em 2030. Isso ajudaria as Ilhas Faroé a alcançar sua meta de 100% de energia renovável até 2030
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Apesar dos avanços, o projeto enfrenta obstáculos típicos de uma tecnologia em desenvolvimento. O principal é o ambiente marinho, que é altamente corrosivo e pode danificar componentes metálicos com o tempo.
Outra dificuldade é a manutenção: turbinas instaladas a dezenas de metros de profundidade são complexas de acessar. A Minesto, no entanto, criou um sistema que permite retirar facilmente os dragões da água para reparos, o que reduz custos e riscos.
Há ainda o desafio do investimento financeiro. A empresa está em processo de captação de recursos e parceria com acionistas para financiar a expansão do projeto. O interesse é global — países como Reino Unido e Coreia do Sul já estudam adaptar a tecnologia para seus litorais.
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Segundo a Offshore Energy, a Minesto considera o mercado sul-coreano “altamente atraente” por causa de suas correntes intensas e da meta nacional de reduzir as emissões de carbono até 2050.
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O potencial global da energia das marés e das correntes oceânicas é considerado vasto e, em grande parte, inexplorado, podendo oferecer uma porção substancial da matriz energética mundial.
A tecnologia para aproveitá-lo, como a desenvolvida pela Minesto (conhecida como energia da lua), possui vantagens significativas, principalmente a previsibilidade e confiabilidade.
O projeto ambicioso das Ilhas Faroé, que visa 100% de energia renovável até 2030 usando a energia das marés como parte central, está se estabelecendo como um modelo para ilhas e economias costeiras em todo o mundo que buscam a transição energética.
A tecnologia da Minesto é única por ser capaz de produzir eletricidade de forma custo-efetiva mesmo em locais com fluxos de baixa velocidade (a partir de 1,2 m/s).
O CEO da Minesto, Dr. Martin Edlund, projeta que se a tecnologia for adaptada em pelo menos 3.000 locais no mundo que se qualificam para o programa, a energia lunar poderia potencialmente substituir toda a capacidade de energia a carvão que está atualmente em desenvolvimento globalmente.