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O preço da carne bovina atingiu níveis recordes no país, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos, climáticos e sanitários que afetam toda a cadeia produtiva
Segundo dados do governo americano, em junho o preço médio de 450 gramas de carne moída chegou a US$ 6,12, um aumento de quase 12% em relação ao mesmo período de 2024 / Freepik
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Comer carne nos Estados Unidos está se tornando um privilégio para poucos. O preço da carne bovina atingiu níveis recordes no país, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos, climáticos e sanitários que afetam toda a cadeia produtiva.
Segundo dados do governo americano, em junho o preço médio de 450 gramas de carne moída chegou a US$ 6,12, um aumento de quase 12% em relação ao mesmo período de 2024.
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O valor acompanha uma tendência de alta sustentada há décadas: o rebanho bovino dos EUA vem diminuindo de forma contínua e, em 2025, atingiu o menor nível em 74 anos, com 86,7 milhões de cabeças, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Além da escassez de gado, a inflação do setor pode ser agravada por medidas comerciais adotadas durante o governo do ex-presidente Donald Trump. Tarifas sobre a carne importada de grandes fornecedores, como o Brasil, aumentam os custos de cortes magros, matéria-prima essencial para a produção da carne moída amplamente consumida nos EUA.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente a decisão de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Outro fator de preocupação crescente é o avanço da mosca-da-bicheira do Novo Mundo, uma praga registrada recentemente no México. O parasita deposita ovos em feridas abertas do gado, cujas larvas se alimentam da carne viva dos animais. O temor das autoridades americanas é que a praga ultrapasse a fronteira e volte a se espalhar pelo Texas, onde já havia sido erradicada há décadas.
Como medida preventiva, os EUA suspenderam as importações de gado vivo do México, responsável por cerca de 4% dos animais abatidos no país, o que restringe ainda mais a oferta e pressiona os preços no mercado interno.
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A diminuição do rebanho está diretamente ligada a uma combinação de secas prolongadas, que afetaram as pastagens desde 2020, e à alta no custo da ração. Para manter a operação em meio a margens de lucro apertadas, muitos criadores optaram por vender vacas fêmeas, sacrificando a capacidade futura de reprodução e expandindo o descompasso entre oferta e demanda.
Atualmente, o preço de mercado de bois gira em torno de US$ 230 por 45 quilos, o que incentiva a venda imediata dos animais, em vez de mantê-los para reprodução. “É um dilema para os pecuaristas: embolsar lucros recordes agora ou apostar no retorno a longo prazo com novos bezerros”, avalia o economista David Anderson, da Texas A&M University.
Apesar da recente queda nos preços dos grãos e de alguma recuperação das condições climáticas, especialistas apontam que o processo de recomposição do rebanho levará tempo. Mesmo que os criadores optem por reter mais fêmeas neste momento, o ciclo completo de reprodução e engorda de novos animais pode levar até dois anos.
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O investimento inicial para repovoar o rebanho também é elevado: a compra de 25 novilhas prenhes pode ultrapassar os US$ 100 mil, desafio agravado pelas altas taxas de juros nos financiamentos rurais.
Com a chegada do outono e o fim da temporada de churrascos nos EUA, é esperado que os preços da carne recuem ligeiramente, mas sem grandes alívios. Por ora, consumidores começam a optar por carne moída em vez de bifes, embora ainda não haja um movimento expressivo em direção a proteínas mais baratas, como frango e porco.
O cenário permanece delicado e incerto, com riscos que vão além do mercado, da política comercial às ameaças biológicas. O churrasco americano, símbolo da cultura popular, agora enfrenta seu maior desafio em décadas.
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