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'Melhores que BMW' e vendem mais que a Land Rover: carros chineses invadem o Reino Unido

Montadoras chinesas invadem o mercado britânico de veículos elétricos enquanto motoristas buscam modelos mais baratos

Júlia Morgado

Publicado em 13/10/2025 às 18:04

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A BYD vendeu 11.271 carros no Reino Unido / Divulgação

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Quando o médico britânico Dimitar Ormanov trocou seu Honda Civic a dois anos atrás seu plano inicial ao chegar na concessionária ele inicialmente planejava comprar um tecnológico Tesla. Porém ao descobrir sobre a montadora chinesa BYD (Build Your Dreams) no local, disponível por uma fração do custo da marca elétrica de Elon Musk, ele sabia exatamente que os planos tinham mudado.

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Agora em 2025 ele não se arrepende de nenhum problema com sua compra do oriente, Ormanov diz que está mais  feliz dirigindo carros chineses do que grandes montadoras como Volkswagen, Mercedes ou BMW. “Carros chineses são muito bem feitos”, diz.

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Dimitar não está sozinho, a marca BYD anunciou em 6 de outubro que o Reino Unido (RU) se tornou seu segundo maior mercado, após as vendas dispararem 880% em setembro, em comparação ao mesmo mês do ano anterior.

A empresa vendeu 11.271 carros no RU, superando fabricantes como Land Rover, Mini e Tesla. Em comparação, a Vauxhall registrou 12.120 carros no mês passado, enquanto a Skoda e Volvo venderam, 11 925 e 11 570 carros, respectivamente, segundo o jornal britânico ‘Daily Express’. Provavelmente não precisará de muito tempo para passar essas marcas também.

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O ano de 2025 foi um grande marco para carros chineses no RU, com marcas como BYD, Omoda e Jaecoo atingindo um genuíno sucesso de vendas e deixando seu impacto no mercado sendo uma grande ameaça para as fabricantes ocidentais.

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Qual seu atrativo?

Um estudo recente diz que 7 a cada 10 pessoas estão abertas à ideia de comprar um modelo Chinês. O proprietário Dan Aleksandrov acredita entender o motivo. Seu BYD Atto 3 é um dos vários veículos da marca que começaram a aparecer em seu bairro, na cidade de  Peterborough, Inglaterra, ao lado dos modelos Omoda, da fabricante chinesa Chery.

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Mostrando as funcionalidades do carro ao Daily Express, Dan destaca que a China lidera em “tecnologia veículo-para-carga”, que permite ao motorista carregar desde equipamentos de camping até outros veículos elétricos, sem precisar de uma tomada. O modelo de seu carro possui até quatro saídas e é capaz até de carregar um Renault 4 com apenas um cabo simples.

Ressalta também as vantagens das baterias “Blade” de fosfato de ferro-lítio (LFP) da BYD, que permitem recargas completas com segurança. Acredita-se que essa tecnologia tende a ser menos propensa a deterioração de cargas 100%, comparando com outros concorrente que os fabricantes encorajam os consumidores a carregar seus veículos até aproximadamente 80% para manter a longevidade da bateria.

O preço

O novo BYD Atto 2 começa em pouco menos de 31.000 libras (£), cerca de £15.000 a menos que o Tesla Model Y (£45.000). O resultado é visível, já que a BYD vendeu 24.333 veículos este ano.

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Mike Brewer, revendedor e apresentador do programa Wheeler Dealers, acredita que os modelos chineses forçarão as montadoras ocidentais a reduzir preços no futuro. Para ele, “é animador ver que as pessoas conseguem um carro bom e moderno por um preço justo.”

Executivos da Chery garantem que seus carros têm “qualidade”, apesar do preço acessível. Segundo eles, as fábricas chinesas conseguem reduzir custos graças à escala de produção.

A BYD, por exemplo, possui uma cadeia de suprimentos totalmente integrada e desenvolvimento próprio de baterias, o que permite vender a preços bem abaixo dos concorrentes ocidentais.

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As preocupações

Apesar dos preços baratos, manter o carro na estrada pode ainda ser uma preocupação. Dimitar descobriu que o custo de manutenção de seu BYD estava ao redor de  £120 mais caro que seus antigos carros a gasolina ou diesel.

Outro problema é a reposição de peças: alguns motoristas relataram longas esperas para reparos devido à falta de componentes no Reino Unido.

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Andy Turbefield, chefe de qualidade da Halfords Autocentres, explicou: “O acesso a peças pode ser um problema até que uma cadeia de suprimentos adequada seja criada no Reino Unido. Pode levar de seis a oito semanas para as peças chegarem da China por navio, mais, se as  ou ainda mais se as rotas comerciais forem ainda mais afetadas por eventos mundiais.”

Por outro lado, montadoras como a BYD agora possuem seus próprios navios para transportar veículos e peças à Europa e ao Reino Unido. Fabricantes já estabelecidas no mercado, como a Stellantis, também estão abrindo fábricas de carros chineses na Europa, como a Leapmotor, para ter certeza que eles cumprirão as regras de origem. Muitas trabalhando diretamente com as fabricantes de equipamentos originais chinesas. Visando e reduzir prazos

Problemas no Seguro

As demoras nas peças também afetam o seguro dos carros. Dimitar relatou que, quando comprou seu veículo há dois anos, “ninguém” oferecia cobertura para carros da BYD. Eventualmente ele conseguiu uma apólice, mas um ano depois a seguradora avisou que não renovaria contratos para esses modelos.

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Dan também teve dificuldades para conseguir seguro no último ano, embora tenha notado redução nos preços recentemente. As experiências de ambos não é única.

O  BYD Seal é um dos modelos chineses que, segundo relatos, os consumidores tiveram dificuldade em assegurar. No ano passado, a BYD declarou a um site de notícias que estava "levando esse assunto muito a sério e trabalhando com as partes relevantes, incluindo a Thatcham Research (a única organização sem fins lucrativos de inteligência de risco automotivo do Reino Unido), para encontrar uma solução de longo prazo".

Segundo Ben Townsend, do Thatcham Research, sugeriu que o problema não está nas peças, mas na falta de conhecimento das seguradoras sobre o funcionamento do mercado britânico de reparos.

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Além disso, há diferenças culturais: na China, com mão de obra barata, é comum substituir toda a lateral de um carro por danos leves. Porém no Reino Unido, o custo dessa operação tornaria o conserto inviável.

Seguradoras como LV e Hastings Direct afirmaram que ainda estão “avaliando os riscos” dos modelos chineses, já que são novos no mercado e vários fatores influenciam o preço do seguro.

Limites de quilometragem preocupam 

 

Embora a ansiedade de quantos quilômetros é possível andar com veículos elétricos tenha diminuído, se comparada ao passado, ela ainda parece um problema significante para a adoção desse tipo de veículo. Uma pesquisa da YouGov com 1.005 motoristas britânicos revelou que 71% dos que não possuem carros elétricos têm medo de ficar sem bateria no meio de um trajeto. 

Carros da Tesla tendem a ter uma capacidade de quilômetros maior que os modelos da BYD. Situação a qual Dimitar admite que foi pego de surpresa mais de uma vez enquanto dirigia pra casa, tendo que parar em locais na cidade inglesa de Cambridge para ter certeza que chegará em casa com segurança. Ao contrário de sua esposa que tem um modelo 3 da Tesla que não necessita de nenhuma parada.

Ainda assim, marcas como Jaecoo e Chery estão revertendo essa imagem com sistemas híbridos que alcançam mais de 700 milhas (cerca de 1.100 km), provando que a China não ficará para trás em termos de alcance.

A desvalorização dos preços é outra preocupação, especialmente no mercado de carros elétricos, onde as avaliações costumam despencar rapidamente nos primeiros anos de vida útil de um veículo. Isso se deve, em parte, aos rápidos avanços tecnológicos que tornam os modelos elétricos atuais desatualizados.

Dados sugerem que o Atto 3 perde cerca de 51% de seu valor ao longo de vários anos, caindo de £ 37.640 para £ 19.196 após 58.000 km. O reconhecimento da marca também influencia o preço, com as empresas chinesas ainda não consolidando reputações como grandes marcas como Porsche ou Ferrari, que ainda conseguem cobrar preços altos por seus modelos usados.

Dimitar reconhece essa preocupação, mas enfatiza seus planos de adaptação para garantir que não saia perdendo. Atualizações sem fio e maior duração da bateria significam que os veículos elétricos mais recentes da China terão uma vida útil muito maior do que os modelos tradicionais de combustão.

Interferência e Privacidade

As preocupações com interferências e privacidade também surgem, especialmente após o banimento da Huawei no Reino Unido em 2023.Nos Estados Unidos, a instalação de determinados hardwares e softwares de fabricação chinesa foram proibidos por motivos de segurança.
 
Enquanto isso, o governo e as forças armadas do Reino Unido foram alertados sobre o perigo potencial. A  Força Aérea Real de Wyton foi aconselhada a estacionar carros com componentes chineses a pelo menos 3 km de distância das bases estratégicas, por medo de vigilância por satélite.

Uma pesquisa revelou que 40% dos motoristas com mais de 55 anos temem riscos à segurança de dados ao comprar produtos chineses. Dimitar e Dan, porém, dizem não se preocupar com isso. Dimitar continua sendo um entusiasta da BYD, embora não descarte adquirir um Tesla futuramente.

"Ele tem uma rede de recarga única, o que é muito bom", diz ele. "Esses caras da China precisam levar isso em consideração. Mas, no geral, os carros são muito bons. Tenho dirigido e não tive problemas.”

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Em nota ao Daily Express, a BYD declarou: "A BYD realizou uma ampla avaliação comparativa em todo o setor e nosso objetivo é oferecer serviços com preços competitivos para nossos carros. A BYD tem seu próprio depósito de peças no Reino Unido, com o apoio da DHL (empresa global de logística), e, portanto, tem forte disponibilidade na maioria das peças BYD."

Em relação ao seguro, a BYD acrescentou: "Tomamos conhecimento de um problema quando a marca foi lançada no Reino Unido em 2023, mas rapidamente tomamos medidas para garantir que o problema fosse resolvido com prioridade. Isso inclui trabalhar em colaboração com a Thatcham Research para fornecer às seguradoras as informações e os dados necessários para oferecer seguro aos carros BYD. Agora também temos uma rede de mecânicos autorizados, o que torna ainda mais fácil obter um seguro acessível para veículos BYD.”

"Uma vantagem fundamental da bateria BYD Blade é a durabilidade, o que significa que, ao carregar, o carro regulará a quantidade de energia que vai para a bateria para proteger sua saúde a longo prazo”, concluiu.

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