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O país responde por quase 30% de todo o feijão colhido no planeta, um pilar essencial para a segurança alimentar de 1,4 bilhão de pessoas e de dezenas de países
Com metas para ampliar irrigação inteligente e reduzir perdas pós-colheita, a Índia pretende chegar a 30 milhões de toneladas nos próximos anos / Freepik
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Poucos brasileiros sabem, mas o maior produtor de feijão do mundo não é uma superpotência de soja, tampouco uma nação ultramecanizada como os Estados Unidos. A líder global é a Índia, um país onde o feijão é mais do que alimento: é cultura milenar, estratégia de Estado, base nutricional e motor econômico.
Com mais de 27 milhões de toneladas anuais, segundo a FAO (ONU), o país responde por quase 30% de todo o feijão colhido no planeta, um pilar essencial para a segurança alimentar de 1,4 bilhão de pessoas e de dezenas de países dependentes de suas exportações.
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A força da Índia não está apenas na terra disponível, mas em como ela é utilizada. Em regiões como Madhya Pradesh, Maharashtra, Rajasthan e Uttar Pradesh, agricultores conseguem colher duas e até três safras por ano, algo impensável em grande parte das lavouras brasileiras.
Esse desempenho só é possível graças a:
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Rotação intensiva de culturas, integrando feijões, lentilhas e outras leguminosas;
Sementes criadas para resistir ao calor extremo, à seca e às pragas — desenvolvidas pelo ICAR (Indian Council of Agricultural Research);
Ciclos curtos, que elevam a produtividade e reduzem perdas.
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Áreas que, no Brasil, renderiam uma safra anual, na Índia alcançam mais de 2,5 toneladas por hectare em ciclos múltiplos.
Se a terra nem sempre é fértil, a engenharia compensa. O país construiu alguns dos maiores sistemas de irrigação do planeta, entre eles:
Sardar Sarovar, no rio Narmada;
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Canais do Ganges, que alimentam zonas agrícolas inteiras;
Redes de microaspersão e gotejamento mais extensas do mundo.
Essas estruturas distribuem bilhões de litros por dia, permitindo que áreas semiáridas se tornem polos agrícolas de alta produtividade. A irrigação é controlada por sensores de umidade, previsão climática por satélite e sistemas que ajustam o volume de água em tempo real — tecnologia que reduz desperdícios e mantém a produção mesmo em solos pobres.
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Ao contrário do imaginário agrícola brasileiro, a base da produção indiana está nas mãos de milhões de pequenos agricultores, que cultivam entre 1 e 4 hectares. Mas esses produtores não trabalham sozinhos: são sustentados por cooperativas que funcionam como centrais de inteligência agrícola, responsáveis por:
Comprar insumos em grande escala;
Financiar sistemas de irrigação;
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Fornecer assistência técnica;
Auxiliar na venda e garantir preço mínimo;
Conectar vilarejos inteiros às grandes tradings.
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Quando a colheita termina, o sistema industrial assume: nas zonas conhecidas como agri belts, colheitadeiras trabalham 24 horas por dia, e ferrovias dedicadas levam a produção para centros de processamento.
Após a colheita, o feijão passa por etapas industriais de alto padrão, como:
Descascamento;
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Seleção por densidade;
Separação óptica por cor;
Remoção de defeitos em máquinas que processam até 20 toneladas por hora.
O resultado abastece mercados como:
Oriente Médio
Sudeste Asiático
África
América Latina
E cresce também o uso em proteínas vegetais, produtos veganos e blends nutricionais, setores impulsionados pelo aumento do consumo global de alimentos à base de plantas.
A resposta está na integração entre cultura, economia e ciência. O feijão é parte da identidade nacional indiana, mas também é:
Política pública de segurança alimentar
Tecnologia de ponta em sementes e irrigação
Base econômica para milhões de famílias
Produto estratégico para o mercado interno e externo
A soma desses elementos torna a Índia praticamente imbatível. Não é o maior exportador mas é, de longe, o maior produtor e maior consumidor de feijão do mundo.
Com metas para ampliar irrigação inteligente e reduzir perdas pós-colheita, a Índia pretende chegar a 30 milhões de toneladas nos próximos anos. Novas pesquisas trabalham com cultivares capazes de crescer com 30% menos água e florescer sob calor de 45 °C, ampliando ainda mais a resiliência da produção.
Especialistas da FAO afirmam que, mesmo se atingir apenas metade do que está projetado, o país consolidará uma liderança quase inalcançável — não apenas pela quantidade produzida, mas pela capacidade de integrar milhões de pequenos agricultores a um sistema nacional que funciona como uma grande indústria.