O estudo, publicado na revista Journal of Geophysical Research, mostra que os efeitos atuais estão ligados a processos antigos em parte, às massas de gelo que derreteram desde o fim da última / Pixabay
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A Groenlândia, maior ilha do planeta, está literalmente mudando de forma. Um novo estudo conduzido por pesquisadores do DTU Space, o Departamento de Pesquisa e Tecnologia Espacial da Dinamarca, concluiu que o derretimento acelerado das camadas de gelo está remodelando gradualmente o território, que se desloca cerca de dois centímetros para noroeste a cada ano.
Com 2,1 milhões de km², sendo 1,7 milhão cobertos por gelo, a ilha sofre os efeitos diretos do aquecimento global. Segundo os cientistas, o derretimento das geleiras está alterando o leito rochoso subterrâneo, reduzindo a pressão exercida pelo peso do gelo e provocando movimentos de compressão, torção e expansão.
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'A Groenlândia está sendo torcida, comprimida e esticada', descreve o comunicado do DTU Space. 'Isso acontece devido à tectônica de placas e aos movimentos no leito rochoso, causados pelo derretimento das grandes camadas de gelo na superfície.'
O estudo, publicado na revista Journal of Geophysical Research, mostra que os efeitos atuais estão ligados a processos antigos em parte, às massas de gelo que derreteram desde o fim da última Era Glacial, há cerca de 20 mil anos.
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Segundo o autor principal, Danjal Longfors Berg, a ilha 'se deslocou para noroeste nos últimos 20 anos, em média dois centímetros por ano', mas os movimentos são complexos:
'Ao mesmo tempo em que a Groenlândia se eleva e se expande devido ao derretimento recente, ela também se contrai em áreas afetadas por mudanças pré-históricas nas massas de gelo.'
Esses fenômenos fazem com que algumas regiões da ilha se estiquem, enquanto outras se aproximam, reduzindo levemente o tamanho total do território.
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Para chegar às conclusões, os pesquisadores analisaram dados de 58 estações GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite) espalhadas pela Groenlândia, combinando medições atuais com modelos geofísicos que abrangem 26 mil anos de evolução geológica.
'Pela primeira vez, conseguimos medir com alta precisão como a Groenlândia se move horizontalmente e verticalmente', explica Berg. 'Antes, acreditava-se que ela apenas se expandia com o derretimento do gelo, mas agora sabemos que há áreas onde está se contraindo'.
De acordo com registros da Nasa, a Groenlândia perde cerca de 266 bilhões de toneladas de gelo por ano, enquanto a Antártida perde 135 bilhões de toneladas. Juntas, essas regiões concentram dois terços da água doce do planeta.
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A agência norte-americana alerta que o derretimento das calotas polares contribui diretamente para o aumento do nível do mar, à medida que a água derretida flui para os oceanos.
Um levantamento publicado em junho já havia indicado que o gelo da Groenlândia derrete 17 vezes mais rápido do que a média histórica — um ritmo que preocupa cientistas e autoridades globais.
Além de suas implicações climáticas, as mudanças na estrutura física da ilha afetam a cartografia, a navegação e os estudos geográficos.
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'É importante compreender os movimentos das massas de terra, não apenas por interesse científico, mas também para o mapeamento e a navegação, já que até mesmo os pontos de referência fixos estão se deslocando lentamente', ressalta Berg.
Com cerca de 56 mil habitantes, a Groenlândia — tida como um dos principais indicadores do aquecimento global — segue se transformando diante dos olhos da ciência. O que antes era gelo sólido, hoje se torna sinal concreto de um planeta em mudança.